29 novembro 2008

TAMANHO ESFORÇO INTELECTUAL

foto retirada do Póvoa Semanário online

1. Num post de 23 de Agosto, disse que basta um simples esquema no papel para perceber que os efeitos do modelo de cruzamento implementado na nova Avenida Mouzinho são óbvios, como seria óbvio esperar que os responsáveis técnicos e políticos da “obra do século que, nas contas de Vieira, ficou a custo zero” tivessem isso em consideração e, das duas uma, ou não implementavam este novo figurino ou tinham, desde logo, promovido o necessário antídoto, que se prova não saberem qual é!

2. Também disse que “seja como for, deve dar-se prioridade à segurança sobre a rapidez. E entre o tempo de espera por cada sinal verde (que será de cerca de quatro minutos, a manterem-se todas as opções de direcção...) e apenas o reforço da sinalização para que vai apontando o tal Vereador, talvez a solução passe por apenas autorizar os movimentos em frente e à direita, regulados pelos semáforos tricolores.”

3. Os iluminados gestores da minha terra não previram o problema quanto engendraram o capricho e demoraram três meses para perceber o óbvio!
Anunciam agora, provavelmente depois de um desesperado e incomensurável esforço intelectual, que, “a partir das 24h00 da próxima terça-feira, dia 2, vai entrar em funcionamento o sistema de semaforização do cruzamento da Avenida Mousinho de Albuquerque com a Rua Gomes de Amorim (Estrada Nacional 13). Para além disso, alerta-se para a recente sinalização vertical e horizontal implantada neste cruzamento que proíbe os condutores de virarem à esquerda, bem como para a importância em cumprir os limites de velocidade dentro das localidades estipulados no Código da Estrada.”

In “Cruzamento da Avenida Mouzinho com EN13 - Semáforos em funcionamento no dia 2 de Dezembro, edição electrónica de A Voz da Póvoa, 28-11-2008

28 novembro 2008

O QUE ELE DISSE NÃO FOI ELE QUE DISSE


1. O jornalista disse que ele disse.
2. Por causa do ele que disse, e por que não tenho memória de peixe, eu disse no Cá-70 o que disse…E consta que, por causa de um caso tão estonteante, outros disseram coisa semelhante!
3. Por causa do que ele disse, o líder da oposição disse que o que ele disse não é coisa que um Presidente diga, que não há espaço para comportamentos desta natureza e que este tipo de atitudes é uma falta de respeito para com a população.
4. Eu não disse, mas digo que o que ele disse, depois de ter estado às avessas e ter dito o seu contrário pouco tempo antes, é uma marotice indesculpável contra à Inteligência.
5. Agora ele diz que não disse, e o que disse não era o bem o que disse, que o líder da oposição está fora de si, que está distraído e que mentiu quando disse que ele disse o que disse!
6. Disse(o) e disto já estamos fartos de tanta tolice!
7. Mas, alguém disse! Se não foi ele, foi o jornalista que disse que ele disse!
8. Alguém mentiu! Terá sido o jornalista quando disse que ele disse o que disse?
9. Pelo que vi descrito na notícia, eu disse que me parecia ter tudo acontecido num discurso gorduroso. Talvez não tenha sido apenas gorduroso, mas oportunidade para mentiroso.
10. Quem mente afinal em tudo o que se disse? O jornalista? O líder da oposição? Ou ele, o caso fenomenal?

Diria o Bocage, o das anedotas: "Meus senhores e minhas senhoras, o que aquele senhor disse, não foi ele que disse: fui quem o disse!"


21 novembro 2008

TEMPO MÁGICO

foto de Bruno Silva

De uma pessoa amiga, sem longe nem distância, recebi hoje este magnífico e oportuno texto de Ruben Alves...
TEMPO MÁGICO

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabarolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos a limpo". Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos". Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de Deus.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena
É TUDO QUE QUERO...
Ruben Alves

20 novembro 2008

MEMÓRIA DE PEIXE


"Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo os seus equívocos"
(Nieztsche)
Um mês e meio após ter insistido na manutenção do valor do imposto sobre imóveis…

...eis que o fantástico Presidente laranja vem dizer nas gordas da primeira página do Comércio, onde se relata o seu gorduroso discurso político no magusto organizado para os idosos da freguesia:

O IMI está “muito pesado” e “assim não pode continuar”.

Depois de ter chumbado três vezes seguidas as propostas do PS (em 2006, em 2007 e 2008) com o objectivo de baixar a taxa do IMI, duas das quais eu próprio encabecei… eis que este actor político fascinante se nega a si próprio, desnudando os seus seis segundos de uma memória de peixe…
E, com a mais descabelada e desavergonhada desfaçatez ainda prometeu aos velhinhos distraídos que a baixa do IMI será uma prioridade do seu mandato, caso seja candidato nas eleições autárquicas em Outubro do próximo ano.

Vejam bem, este é o mesmo que, há dois anos, há um ano e há um mês e meio atrás, podia ter baixado a taxa do imposto e não o fez por teimosia, contra a evidência dos estudos e dos números que lhe apresentámos.
É o mesmo, que procedendo assim, ainda se julga no direito de chamar esquizofrénico aos que se lhe opõem!
Ao que chegámos!
E nós? também teremos memória de peixe?



16 novembro 2008

A LATA



Pelo que diz no Expresso, durante meses, João Pereira Coutinho acompanhou aquilo que ele chama “a histeria da Europa por Obama”. Diz que tentou vislumbrar os motivos da paixão nas promessas do homem e que não encontrou nada. E, então, vai daí, tenta explicar o que apelida de loucura generalizada com uma palavra, com a raça. Diz ele, que Obama é preto e que as esquerdas da Europa, em atitude profundamente racista, entenderam que a pigmentação da pele fazia toda a diferença.

Ele, o João P. Coutinho, acha que o racismo invertido não deixa de ser uma forma de racismo. Em teoria, concordo com ele. Mas, entretanto, não compreendo a sua postura em relação a esta forma subtil de discriminação, quando afirma que, para os tais esquerdistas, “Obama é uma espécie de dr. Louçã, embora mais alto, mais elegante e, como diria o sr . Berlusconi, ligeiramente mais bronzeado”.
Não será esta adesão ao dito racista de Berlusconi um desabafo intrinsecamente racista?
Se Coutinho quisesse entender as coisas, sem preconceitos, reconheceria que não foram apenas as esquerdas europeias que desejaram e depois saudaram a eleição de Obama. Um pouco por todo o mundo, na Europa, em África, na América Latina, nos países árabes e no Extremo Oriente, os desejosos da paz, do desenvolvimento e da democracia, que estão à Esquerda e para lá da esquerda, são milhões os que construíram a esperança de um mundo melhor e menos perigoso que aquele em que Bush e a sua comandita nos mergulhou nos últimos oito anos.
Se Coutinho quisesse entender as coisas bastava responder a uma questão básica: será que todos esses, os da nova esperança, votariam hoje em Bush e no que ele representa se, por artes mágicas, aparecesse,”como diria o sr. Berlusconi, ligeiramente mais bronzeado”?
Hoje o que é preciso é criar as condições para reconstruir a Esperança!
Mesmo que, a seguir, possa haver alguma desilusão, é melhor que a certeza da desumanização perpetrada por um modelo político, económico e social que tem gerado pobreza e conflito por toda a parte.
Prefiro dizer com Clara Ferreira Alves que "da importância de ser uma pessoa decente, tenho a audácia de esperar que Obama não se esqueça de tudo aquilo que o ensinou e o construiu".
Uma coisa é certa. Poderá Coutinho bronzear-se cinco vezes por dia, que cinco vezes por dia, com tal mentalidade retrógrada, não dará o mais insípido motivo para se acreditar que o seu pensamento ajude a superar a ignomínia.
Quanto ao regresso ao asilo psiquiátrico que adivinha, o Coutinha que apreciou o dito racista de Berlusconi pode ficar sentado à nossa espera…

11 novembro 2008

ASSIM NÃO!


Depois das gaffes do Ministro da Economia (“a crise acabou”), do das Finanças (“o sistema bancário português não vai precisar de nenhuma intervenção financeira”) e do das Obras Públicas (aeroporto na margem sul, jamais!), a Ministra da Educação, Lurdes Rodrigues, ela própria professora em tempos, reage a quente à manifestação de sábado de forma que nem ao Diabo, que é mauzinho, se lembraria. Visivelmente transtornada, foi motivo de perplexidade para os que a viram na TV agitar-se contra os fantasmas que foi desenterrar do seu pânico. Como pode afirmar que uma manifestação de mais de 120.000 cidadãos pacíficos provoca “intimidação” e “chantagem”?
Na OPSRevista de Opinião Socialista on-line, Manuel Alegre diz o que tem que ser dito:
(…) “Confesso que me chocou profundamente a inflexibilidade da Ministra e o modo como se referiu à manifestação, por ela considerada como forma de intimidação ou chantagem, numa linguagem imprópria de um titular da pasta da educação e incompatível com uma cultura democrática.
Confesso ainda que, tendo nascido em 1936 e tendo passado a vida lutar pela liberdade de expressão e contra o medo, estou farto de pulsões e tiques autoritários, assim como de aqueles que não têm dúvidas, nunca se enganam, e pensam que podem tudo contra todos.
O Governo redefiniu a reforma da educação como uma prioridade estratégica. Mas como reformar a educação, sem ou contra os professores? Em meu entender, não é possível passar do laxismo anterior a um excesso de burocracia conjugada com facilitismo. Governar para as estatísticas não é reformar.” (…)

Assim não!
O choque do disparate político quase anula o choque tecnológico! Confesso que, como militante do Partido Socialista, também isto me magoa!

09 novembro 2008

NA PÓVOA, DE QUE VALE TER RAZÃO ANTES DO TEMPO?



Para assinalar o Dia Mundial da Poupança, o Vereador do Ambiente veio dizer que, a partir do ultimo dia de Outubro, passaremos a dispor de dois postos de recolha de óleos alimentares usados: no Parque de Viaturas, à Rua Almeida Brandão, e no Ecocentro, no Parque Industrial.
Boa notícia!
Pena é que não exista um sistema de recolha ao domicílio gerido pela própria Câmara Municipal junto dos restaurantes do concelho e das cantinas das escolas, que são sectores onde este subproduto é muito abundante. Pena, porque, quem o vai fazendo – segundo consta - é uma empresa privada que disso tira a vantagem que poderia ser da Autarquia, como acontece noutros municípios,

Ora, isto mesmo pretendemos quando apresentámos uma PROPOSTA PARA A RECOLHA SELECTIVA SECTORIAL DE OLEOS ALIMENTARES USADOS E UTILIZAÇÃO DE BIODIESEL NA FROTA MUNICIPAL DE VEÌCULOS, durante a Reunião de Câmara de 15 de Outubro de 2007, quando exercia funções autárquicas.

Em síntese, no documento que elaborei e foi subscrita pelos Vereadores do PS, na continuidade do trabalho feito com o PROJECTO BOLINA, fez-se a análise dos consumos de combustível da frota municipal, abordou-se o tendencial aumento do custo do petróleo e as suas consequências nos custos municipais, referiu-se a problemática dos gases com efeito de estufa e o decorrente aquecimento global, e explicou-se a importância do Biosiesel como alternativa aos combustíveis fósseis com evidente redução de custos, ao mesmo tempo que se resolve o problema ambiental da contaminação da água, através da reutilização do óleo alimentar usado.
Um trabalho em profundidade (ver ACTA) que, uma vez mais, por anacrónico e disparatado preconceito partidário, a maioria PSD veio a chumbar, com a esfarrapada desculpa de que a Lipor estaria a tratar do assunto.
Ao fim de um ano, o Vereador vem confirmar que a Lipor ainda está a preparar o projecto!
Enquanto outras câmaras, como a de Baião e a de Chaves, que então demos como exemplo, já há muito o faziam, com vantagens objectivas para os cofres municipais, por cá continuam todos à espera uns dos outros, e nada se faz!

Esta é uma fonte de energia do nosso concelho que não pode ser desperdiçada! Com a colaboração dos cidadãos pode-se contribuir para o desenvolvimento e preservação do ambiente, para a redução da dependência externa em termos energéticos e para a redução dos custos com os consumos!
Uma tal iniciativa na Póvoa de Varzim traria enormes vantagens, no plano ambiental e no plano da sustentabilidade financeira. Em 2006, os custos com Gasóleo foram de 531.132,78 €. Uma poupança de 30% corresponderia a cerca de 160.000,00 €, que poderiam ser utilizados noutros fins de interesse público.

Não temos que esperar pela Lipor, presidida pelo Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, autarquia onde já devia ter arregaçado as mangas e posto mãos à obra.
O Governo do Partido Socialista vem dar-lhe a ajuda que outros não precisaram, por serem inconformados e dinâmicos ao ponto de fazerem as coisas por si próprios. Agora está alargada às autarquias a possibilidade de serem produtoras de bio-combustíveis, com direito a benefícios fiscais.
De acordo com o novo texto do Decreto-lei 206/2008, de 23 de Outubro, é alargado o âmbito da categoria de pequeno produtor dedicado à "autarquia local, o serviço ou organismo dependente de uma autarquia local". Os pequenos produtores devem ter uma produção máxima anual de 3000 toneladas de bio-combustível e colocar toda a sua produção em própria frota ou, a título não oneroso, em frotas de autarquias locais ou dos respectivos serviços, organismos ou empresas do sector empresarial local, ou, ainda, de entidades sem finalidades lucrativas.
Fique o exemplo. Mensalmente e desde há vários anos que a freguesia da Ericeira recolhe junto dos estabelecimentos de restauração entre quatro a cinco mil litros de óleo vegetal usado. A partir de Junho de 2007 os óleos eram valorizados numa central de transformação onde era produzido bio-combustível para o abastecimento de toda a frota da autarquia e ainda dava para oferecer aos bombeiros e a instituições de solidariedade social. O activo Joaquim Casado, do PSD, Presidente da Junta que não ficou à espera dos outros, considera agora que, com o alargamento da possibilidade de produção de bio-combustíveis às autarquias, "cabe às câmaras municipais, pela sua maior dimensão, construírem as centrais de valorização e às juntas a recolha dos óleos".

Porque não voltar a colocar em cima da mesa a PROPOSTA PARA A RECOLHA SELECTIVA SECTORIAL DE OLEOS ALIMENTARES USADOS E UTILIZAÇÃO DE BIODIESEL NA FROTA MUNICIPAL DE VEÌCULOS?

Já agora, se tiverem o necessário sentido de responsabilidade para o fazer, sejam um pouco mais humildes e juntem todas as pontas do bom senso. Se não for por mais nada, que seja em nome do interesse dos Poveiros!

08 novembro 2008

CONTRA A CORRUPÇÃO: INTEGRIDADE E TRANSPARÊNCIA



Depois de ter passado noutras cidades, a exposição “CONTRA A CORRUPÇÃO: INTEGRIDADE E TRANSPARÊNCIA” está patente ao público na Sala de Leitura Bernardo Santareno, em Santarém, um trabalho que resultou de uma iniciativa conjunta da Polícia Judiciária, da Direcção Geral das Contribuições e Impostos e da Inspecção-geral de Finanças, que a Câmara Municipal de Santarém acolheu.
Esta exposição tem o propósito de contribuir para a sensibilização do público para a realidade da corrupção através de uma mensagem de prevenção. Constituindo “um apelo à cidadania responsável e participativa” é uma “oportunidade de reflexão para a toda a sociedade”.

Sei que há quem tenha mau humor e mais horror à democracia participativa, à transparência e à informação partilhada…mas não resisto a fazer o desafio: porque não trzaer cá a exposição e promover um debate sobre o tema?

E já agora, porque não voltar a colocar em cima da mesa o Código de Ética que apresentámos na reunião de Câmara de 20 de Fevereiro de 2006 e que a maioria PSD chumbou, deixando um rasto de regulamentofobia, bem ao contrário da Ética republicana?

Eis um extracto da fantástica declaração justificativa que os autarcas do PSD então apresentaram para fugirem a um compromisso político que só dignificaria o exercio do poder local:
Dois mil anos antes de Montesquieu, no outro lado do mundo, Confúcio pregava que “o governo é sinónimo de rectidão: se o soberano ousar seguir o caminho recto, quem ousará desviá-lo dele?” Significa esta máxima que o bom governo e o destino dos povos é assegurado mais pelos homens do que pelas leis. Montesquieu e Confúcio são, hoje, neste quadro, e entre nós, perfeitamente actuais. É doloroso constatar que ainda continuamos a pensar que tudo resolvemos a golpes de magia legislativa, comprazendo-nos com possuir, em muitos sectores, as melhores legislações do mundo – ao mesmo tempo que valorizamos a capacidade de contornar a lei.”
in Declaração de Voto do Presidente da Câmara e Vereadores do PSD

O bom governo é assegurado mais pelos homens do que pelas leis! De facto, de que serviu a lei se o homem foi capaz de criar o famoso Caso Dourado?
Afinal, sempre há quem valorize a capacidade de contornar a lei…e a ética! Não foi o fascinante líder que reconheceu publicamente que, depois da reforma compulsiva e da expulsão da Câmara, a decisão de nomear Dourado para a empresa municipal Varzim Lazer foi eticamente errada?

PASSAGEIROS DE OUTUBRO

Na Póvoa, ao contrário da Europa progresista...


1. No passado mês de Fevereiro, um jornal local dava conta do contentamento da empresa que, no meio da confusão, foi anuncida pelos lideres do PSD no Executivo Municipal como a panaceia para resolver o problema dos transportes colectivos. Eis os números até agora conhecidos: num universo de 60.000 pessoas (as que residem na área urbana Póvoa/Vila do Conde), a Litoral Norte transportou em 6 meses 66.000 passageiros, o correspondente a 366 pessoas/dia!

2. João Queirós - administrador da operadora que gere o sistema de transportes públicos urbanos de Vila Real num universo demográfico idêntico - , enviou-me um mail pelo qual informa que, num só dia – 21 de Outubro – a Corgobus transportou 7.067 passageiros, ao mesmo tempo que, durante o mês de Setembro havia transportado 155.838!

3. Para quem quizer ver, é a diferença entre um sistema de transportes públicos construído pela Câmara Municipal de Vila Real na sequência de um trabalho elaborado pela Universidade do Porto e posteriormente concessionado à Corgobus, bem estruturado na sua géneses e coerente, e o bluff laranja que consiste em ter uma miscelândia de empresas privadas a operar no nosso espaço territorial, sem qualquer ordem, numa acção caótica e de baixíssima qualidade que, em vez de atrair as pessoas à utilização do transporte público, deixam dele a pior impressão possível, a ideia de algo com que não se pode contar para organizar o quotidiano.

4. A experiência de Vila Real, que dá mobilidade a cerca de 1.900.000 passageiros por ano e já reduziu em mais de 20% a afluência de automóveis particulares ao centro da cidade - com vantagesn na qualidade de vida dos cidadãos e na defesa do ambiente -, inspirou o modelo proposto por nós através do PROJECTO BOLINA. A maioria PSD, por preconceito ideológico e partidário, rejeitou liminarmente as propostas de mobilidade sustentável que então fizemos...Estudamos, preparamos soluções e partilhámo-las com quem arrumou na gaveta o estudo estudo encomendado uns anos antes. Eles, sem remorços, mergulhados numa repugnante irresposabilidade diante das exigências do nosso tempo, decidiram com a facilidade do desprezo pelos contributos úteis dos outros: votaram contra.


5. O desenvolvimento sustentável continua adiado na Póvoa! Os actores desta política que nos atrasa o futuro e destoa das orientações da União Europeia e da prática das cidades mais avançadas e desenvolvidas, permanecem deslumbrados pelo próprio umbigo e indiferentes.


Que sentido faz o conformismo de quem sofre as consequências desta falta de bom senso?



02 novembro 2008

SENSIBILIDADE SOCIAL


"O aumento do salário mínimo nacional roça o nível da irresponsabilidade"

MANUELA FERREIRA LEITE líder do PSD, num almoço com emresários, em Lisboa.

YES, WE CAN!


Faltam dois dias para as eleições norte americanas!

Do fundo do poço que se seguiu à embriaguez colectiva que vem de longe e sempre teve na sua essência sinais inequívocos de vir a explodir num qualquer dia destes, mas que, indiferentes, deixamos erigir sobre brindes ao neo-liberalismo selvagem construído sobre o jogo da bolsa, eis que o mundo desabou aos pés de quem, durante quarenta nos acreditou na infalibilidade do sistema.
O Estado mínimo, que Greenspan propôs e Bush levou ao extremo, descendo os impostos sobre os mais ricos, cortando nos programas de apoio social – ao ponto de gerar o completo descontentamento em franjas tradicionalmente republicanas, como é o caso das comunidades dos índios… - e facilitando os negócios do grande capital, na verdade, assentava numa mentira colossal, a de que o mercado tem capacidade de auto-regulação.
Mas, não falhou apenas esta crença que gerou um modelo económico e social que não resolveu nenhum dos problemas essenciais da Humanidade. Falhou a noção ética dos negócios, a lembrança elementar de que a criação de riqueza tem uma finalidade social, como defendeu João XXIII e o Concílio do Vaticano Segundo. A riqueza não pode apenas aproveitar ao seu detentor, e a que é fundada na miséria alheia ou no endividamento de todos perante a banca acaba por dar origem à falência colectiva.
Diante de muitos olhares cúmplices e outros conformados, esta loucura neo-liberal foi montando um sistema económico à escala do planeta fundado na iniquidade e na falta de escrúpulos e de sentido de serviço à comunidade. E foi permitindo que o sistema financeiro se apoderasse da economia, que os lucros fantásticos acumulados não correspondessem a riqueza efectivamente criada, e que a economia real fosse engolida pela especulação de capitais. Na bolsa, os valores subiam e desciam, não em consequência do efectivo desempenho das empresas cotadas, mas dos jogos de bastidores e dos interesses dos especuladores, que, ainda por cima, não pagam impostos sobre as mais-valias realizadas.
No meio disto tudo, como qualquer outro produto de mercado em que há vantagem em investir, a guerra, de que é o exemplo mais denunciador a invasão do Iraque – não me esqueci das alegadas provas de armas de destruição maciça inventadas pela administração Bush, as mesmas que Durão Barroso terá visto e depois reconheceu não existirem afinal… -, tem sido terreno fácil e oportunidade para alguns arrecadarem milhões à custa de mais miséria e mais tragédia humana!

Como podem uns quantos, com responsabilidades políticas, em regimes de representação democrática, ser cúmplices dos que, por simples ambição, destroem os empregos e as pensões de reforma de tantos outros que trabalharam toda uma vida, confiados na honestidade do sistema?
Há quinze dias atrás, José Saramago avançava com a mesma convicção dos malefícios deste sistema que, hoje, com voz inconformada, Miguel Sousa Tavares – por certo num lugar ideológico diferente - vem confirmar: não estamos apenas perante o falhanço de uma teoria económica. Mais do que isso, estamos diante de um crime contra a humanidade! “Milhões de pessoas em todo o mundo estão já a sofrer as consequências da falta de pudor e de escrúpulos de alguns milhares de agentes económicos colocados em lugares privilegiados.”

Faltam dois dias para as eleições norte americanas!
Barak Obama não tem uma varinha mágica para mudar o mundo, mas o mundo passará a ser um pouco diferente depois de terça-feira, se for eleito Presidente dos Estados Unidos.
É provável que haja mais realismo e menos a irresponsabilidade delirante dos últimos anos. É provável que a relação entre o Ocidente e os muçulmanos passe a uma fase de menor crispação e de maior capacidade para o diálogo. O facto de ser eleito um americano de origem africana retirará espaço aos que promovem o choque de civilizações. Em Cuba há a esperança de um novo tempo com Obama e, também é provável que melhorem as relações com o Irão, desvanecendo-se, ainda, as tontas ameaças à Rússia desferidas pelo republicano McCain.
Por outro lado, quem acredita num Estado amigo dos cidadãos e numa economia menos iníqua, mais honesta e menos entregue à lei da selva…quem acredita na importância de uma América menos arrogante e menos egoísta, tem na eleição de Obama motivos para uma nova esperança.
Depois dos Estados Unidos tentarem impingir ao mundo um modelo económico suicidário e depois da forma desastrosa como a administração Bush reagiu ao 11 de Setembro, o “status quo” dos últimos trinta anos está em causa. Como defende Daniel Monteiro, Obama não será a causa da mudança que se exige. Ele é já a consequência de uma mudança inevitável que está no terreno e que será imparável se quisermos, de novo, viabilizar um mundo mais justo.

Faltam dois dias para as eleições norte americanas!
God bless Obama!”

CLARAMENTE


Ele há cada uma!!!
Li numa revista de temas de Arquitectura, que "quem, por ocasião dos 60 anos sobre a fundação do Estado de Israel, visitar Jerusalém encontra já, bem no centro da cidade, os trabalhos em curso para o novo Museu da Tolerância."
O projecto é de FranK Gehry, convidado pelo Centro Simon Wiesenthal, com sede em Los Angeles e, o museu, na sua génese, terá como intenção promover "a união entre judeus e povos de todas as fés".
De todas? Bem, provavelmente de todas menos da fé islâmica!
Na verdade é incompreensível que se fale em tolerância ao mesmo tempo que os promotores escolhem para a localização da obra um antigo cemitério muçulmano, cujos esqueletos tiveram que ser removidos.
Eis como a tolerância anda desvalorizada no seu âmago e também serve como agressão provocatória!

O PREÇO DO LUXO

foto de Rui Lebreiro


Por compreensível esquecimento ou distracção, o doutor Mateus meteu “debaixo do tapete” a mulher de Marco, e não a fez deambular pelo livro com o mesmo título. Fazendo recurso da liberdade criativa, trocou-a pela última página, numa breve alusão ao encanto alternativo de Marco por Quiara, uma espécie de deusa da massagem ayuverdica, que segundo o autor, devia ser uma brasa.
Contudo, inopinadamente, e depois de alguns anos, cruzei-me hoje com a mulher de Marco. Vinha do desterro literário, de cabelo curto, à garçon, e, apesar do tempo, continuava uma mulher bonita. Vestia, como sempre, com extrema elegância. Um longo casaco preto sobre meias da mesma cor de breu, compunha uma silhueta de glamour, confirmando que o diabo veste Prada.
Na surpresa desse cruzamento nesse passeio anónimo da cidade, desviou o olhar e não pude ver se ainda tinha luz. Sem direito à certeza do brilho ou do seu contrário turvo, fui antes invadido pelo habitual Chanel, caríssimo, com que o ar fora igualmente preenchido…Obviamente, sem a visão raio X do herói da banda desenhada, também não pude ver o que vestia sobre a primeira pele, mas não seria difícil adivinhar, que uma qualquer lingerie cara fazia a despesa.
Inopinadamente, percorreu-me uma vontade quase irreprimível de rasgar um pouco mais o silêncio que pesava sobre a rua, interrompido apenas, de forma cadenciada, pelos saltos altos com que ela tocava o chão, retirados da montra do estilista português Luís Onofre – o mesmo que calça a princesa Letícia:

“Então? A viver à custa da habilidade do Marco e dos seus compinhchas…e a viver muito bem, pelos vistos! Como se sente dentro desse luxo à custa do dinheiro do povo que passa privações?”

Acabei por não dizer nada!
Afinal que sentido faria dirigir-me a sério à personagem de um livro que o próprio autor decidira ignorar?