01 maio 2011

SABE BEM PAGAR TÃO POUCO!


Intitulado “Informação Aos Nossos Clientes – Portugal precisa de trabalho e de sentido de responsabilidade”, é inédito e fantástico o comunicado da Direcção Executiva de uma das maiores empresas de distribuição alimentar explicando que “trabalhar no dia 1 de Maio de 2011 representará, para os colaboradores que entendam apresentar-se ao serviço, uma remuneração de mais 200%, que acrescem à remuneração de um dia normal de trabalho, e a concessão extraordinária de um dia de folga pelo dia trabalhado”, alegando que essa é forma do Pingo Doce “reconhecer e premiar” os seus colaboradores que, “por necessidade, solidariedade e espírito de serviço e de compromisso com o Cliente, como Pingo Doce e com Portugal entendem responder, com o seu trabalho, com o seu espírito de sacrifício e com o seu sentido de responsabilidade, à dura crise económica e social que o País atravessa”.

Fico estupefacto!

SABE BEM PAGAR TÃO POUCO é o slogan do Pingo Doce!
Mas, a máscara caiu finalmente. Aos consumidores é vendida a ideia de que pagam pouco. Mas, afinal quem parece pagar pouco é o Pingo Doce aos seus trabalhadores!
Senão vejamos: rompendo com a tradição de encerrar as lojas no 1º. de Maio, Dia do Trabalhador, faz crer que esse encerramento é como que uma oportunidade para os seus empregados se apresentarem ao serviço e ganhar mais 200%, que acrescem à remuneração de um dia normal de trabalho.
Mas, a aparente generosidade não é mais do que o sinal de um enorme egoísmo, camuflado por uma despudorada hipocrisia que pretende justificar o facto com a salvação das pessoas e de Portugal.
O Pingo Doce costumava fechar no Natal e no 1º. De Maio. O cliente poderia aguentar bem um dia sem comprar espargos em frascos de vidro com rótulo Pingo Doce, mas Made in China…(produção que evidentemente não ajuda Portugal)!
A verdade é que é o negócio e o lucro que estão na génese da abertura da loja e nada mais.

O lucro do dia calculado é tão vantajoso que justifica pagar aos empregados o triplo de um dia normal de trabalho. E quem assim calcula, deve ainda ter ficado com uma boa parte!

A julgar pelo negócio do 1.º de Maio, não será menor a margem de lucro no quotidiano! Por isso é inevitável a pergunta: porque é que nesse quotidiano o Pingo Doce não acresce também 200% à remuneração dos seus trabalhadores?
Em alternativa, pode sempre aumentá-los 100%, pode reduzir um pouco mais a margem de lucro dos produtos que vende e, sobretudo, numa medida verdadeiramente estrutural, pode estimular a produção de espargos e de outros produtos nacionais, mesmo que no arranque do processo produtivo tivesse que os comprar um pouco mais caros que na China.

Assim sim, ajudaria os trabalhadore, Portugal e até o meio ambiente: aumentaria o poder de compra que estimula e alimenta outros sectores económicos, reduziria a dependência alimentar que ameaça a soberania nacional e contribui para o deficit com o estrangeiro e pouparia em transportes de longa distância, diminuindo a poluição e ajudando a proteger a camada de ozono!
Desse modo daria para acreditar na preocupação da Direcção Executiva do Pingo Doce em ajudar Portugal!