28 fevereiro 2009

MANUEL SILVA


MANUEL SILVA
NOTA PRÉVIA
Importa a honestidade intelectual que faça uma prévia declaração de interesses: Manuel Silva é meu bisavô.
Hoje, vinte e oito de Fevereiro, 140 anos depois do dia do seu nascimento na Póvoa de Varzim, é importante lembrar o nascimento Manuel Silva, que ficou na memória da nossa terra sobretudo como historiador, como o homem que abriu as portas à construção de uma história local assente em bases científicas.
Dele viria a escrever Vasques Calafate: "Entre as venerandas figuras da Póvoa de Varzim, a de Manuel Silva é das que têm maior relevância...foi um valoroso pioneiro da história local. É com este título que ele se distinguiu no nosso meio e distingue a Póvoa de Varzim. Neste campo das letras revela-se um investigador consciencioso e um escritor de bom quilate. Senhor de vasta e sólida erudição, a sua fina inteligência servia-se desse bom material para bem construir os seus temas da história poveira, que tão absorventmente o apaixonaram, e tão compreensivelmente tratou".
Através de um trabalho de Adriano Castro vimos a confirmar que "percorrendo as centenas de textos que nos deixou, facilmente se pode concluir a multiplicidade de aspectos, de temas e de áreas de intervenção de Manuel Silva. Da educação ao Ensino, do Direito à política, da investigação à divulgação, da literatura à bibliófila, tudo mereceu a sua opinião atenta e crítica. Mesmo no âmbito da História, o seu labor não se limita a algumas obras de maior fôlego e mais conhecidas. Nas páginas da "Revista de História", da "Terra Portuguesa", de "A Póvoa de Varzim", do "Estrela Povoense", de "O Comércio da Póvoa", "A Voz da Póvoa", "A Bibliográfica", deixa-nos uma intervenção constante, obedecendo sempre a três objectivos fundamentais: contribuir para a elaboração da história nacional; colaborar na reclamada rectificação dos erros e propositadas falsidades de que está conspurcada a obra já escrita; acentuar a importância de elementos aparentemente falhos de alcance.
"Varazim de Jusaão nas formulas municipaes d'Herculano" (1915) e "A Evolução d'um Município" (1917-22) são trabalhos construídos na linha de Herculano e seus seguidores, nomeadamente Alberto Sampaio e Gama Barros, historiadores que marcam decisivamente o pensamento de Manuel Silva. Acompanhou os movimentos de âmbito nacional relacionados com a História. Membro da Academia de Ciências, do Instituto Histórico do Minho, e do Instituto Português de Diplomática, integrou também a sociedade Portuguesa de estudos Históricos, que tinha objectivos bem definidos e um programa ambicioso.Bibliófilo, são constantes as suas análises críticas aos livros que vão sendo publicados na área da História Universal, nacional e local, da literatura, da arte, da ciência e da educação. Também os Arquivos são uma paixão de Manuel Silva. Toma posição pública frontal contra a centralização dos Arquivos. Considera que os Arquivos municipais são, na localidade, preciosos e invejáveis mas, longe, tornar-se-ão mortos e esquecidos. A "sua" Póvoa não lhe merece apenas o estudo incansável do passado. Participa activamente em diferentes movimentos de âmbito local e integra os órgãos sociais de várias instituições - é conhecida a sua ligação à Beneficiente, à Santa Casa da Misericórdia, à Assembleia Povoense e à Junta de Propaganda e Defesa da Póvoa. Descreve com pormenor muitas das tradições poveiras. Em alguns casos, esses registos são notáveis e belíssimos - leia-se, a título de exemplo, os artigos sobre "Águas e Chafarizes", "Mantas de Terroso" ou "Procissão das Aliantarnas".
Muitos destes trabalhos de Manuel Silva foram escritos em jornais. (...)"

in Doze Nomes Para doze Meses, de Adriano Castro.
Manuel Silva nasceu na Póvoa de Varzim em 28 de Fevereiro de 1869 e faleceu em Dume (Braga), em 18 de Agosto de 1941.