27 janeiro 2007

MORTA PELA "BOA" LEI

foto de Vitor Melo



Todo o acto de cidadania emerge de uma escolha, feita do conhecimento e da experiência, da circunstância e da nossa história. Não será perfeito, nem absoluto. Mas, pode e deve ser consciente, tolerante, uma manifestação de respeito pelo outro e o reafirmar da aposta na Humanidade.
Sem dramatismos excessivos e com humildade, é no campo das escolhas, feitas em silêncio e com a solidão bastante depois de ver e de ouvir, que o referendo sobre a IVG pode transformar-se, para cada um de nós, numa oportunidade para assumir a nossa responsabilidade social, em de 11 de Fevereiro.
Até lá, olhar para a vida, nua e crua, é o melhor a fazer quando se tem que preparar decisões sensíveis, certo de que toda a escolha implica uma renúncia e um risco.
Uma amiga deu-me o caminho do blog de Júlio Machado Vaz.
Lá encontrei um texto de Fernanda Câncio, que é impossivel não partilhar. Aqui vai.

A história passa-se no final de 2005. Uma adolescente de 14 anos entra no Hospital de Santa Maria com uma overdose de misoprostol, vulgo Citotec, o medicamento para o estômago liberalizado nos últimos cinco ou seis anos como método abortivo auto-induzido que resulta em inúmeras sobredosagens diagnosticadas nas urgências. Ana - chamemos-lhe Ana, é curto e serve - tomou 64 comprimidos. Remetida de um hospital de periferia, chega "já em choque" a Santa Maria, com "alterações vasculares importantes ao nível do tubo digestivo". Em bom português, a Ana está toda rebentada por dentro. A operação não a salva. Ana estava de 20 semanas. Mais dez que aquelas que a pergunta do referendo prevê e mais oito que as 12 previstas na lei em vigor para casos de "risco para saúde física ou psíquica da grávida". Talvez, se Ana tivesse tido a ideia e a coragem de, com ou sem os pais, ir a um hospital às dez semanas de gravidez, um médico compassivo lhe tivesse resolvido "o problema", considerando que a gravidez numa menina de 14 anos pode constituir um grave risco para a saúde. Nunca saberemos. O que se sabe é que a lei não abre excepções para meninas de 14 anos - mesmo se, aos 14 anos, nem sequer se é imputável criminalmente. O que se sabe é que a lei diz que toda a gravidez "normal" que não seja entendida como fruto de crime de violação deve ser levada a termo, com carácter de obrigatoriedade e sob ameaça de três anos de prisão. E que mesmo nos casos como o da Ana, cujo acto, pela idade da autora, estaria automaticamente despenalizado, a pena pode ser a morte. A morte por aborto, em 2005, por ausência de acesso a uma interrupção de gravidez médica e segura. É esta a lei "boa" que Marcelo Rebelo de Sousa descobriu agora. Esta ou aquela que o professor, na sua dominical cátedra mediática, imaginou em forma de "despenalização geral", sem limite no tempo de gestação, desde que "não seja a mulher a decidir". Quem decidiria, não se sabe, o professor não disse. Nem o que aconteceu à argumentação do sagrado valor da "vida intra-uterina", o tal valor que justifica a qualificação de "crime". Nem, tão-pouco, o que aconteceria às mulheres que decidissem interromper a gravidez sem caução "superior". Mas adivinha-se. Aconteceria o que acontece agora, exactamente: vergonha, clandestinidade, sofrimento, saúde arruinada e às vezes morte. É a pena que o professor Marcelo, que não quer "ver mulheres julgadas", lhes decreta. A pena de morte, sem julgamento.

24 janeiro 2007

OS SEGREDOS NÃO SÃO ETERNOS



O Parlamento Europeu quer saber o que se passa e em Portugal varre-se para debaixo do tapete!

Ana Gomes não desiste e tem pedido que se esclareça o "conteúdo" dos voos da CIA em território português.

José Lello, embuído da mais tranquila consciência e com uma incontrolada delicadeza, disse que "no PS já não temos paciência para aturar essa senhora".

Lelo é um adjectivo designativo de "rapaz leviano, presunçoso, vaidoso". Mas não é, como José pretende, o apelido de Ana.

Vicente Jorge Silva pergunta: «Se quem não deve não teme, o Governo, o PS e os partidos da direita parecem ter muitas razões para dever e, por isso, para temer. Mas temer o quê? Que se confirme o servilismo político dos Governos anteriores em relação à Administração Bush? E que se conclua que o Governo socialista se deixou aprisionar no enredo tecido por Durão Barroso na cimeira das Lajes? Se Ana Gomes e a comissão de inquérito do Parlamento Europeu fossem apenas lunáticos perigosos e irresponsáveis, nada deveria impedir as autoridades de demonstrá-lo. Ora, ao não o fazerem, limitam-se a avolumar as suspeitas de encobrimento de um escândalo que pode provocar danos irreparáveis na imagem de credibilidade e dignidade do Estado português
(in Diário de Notícias)

No JN de hoje lê-se que "O Procurador Geral da República pediu ao Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) que investigasse o caso dos voos da CIA que alegadamente terão passado por território nacional, transportando para a base norte-americana de Guantánamo prisioneiros da guerra contra o terrorismo. Pinto Monteiro tomou a decisão no final da última semana, depois de, na quinta-feira, ter recebido em audiência um jornalista da "Visão", que tinha a informação de que algumas testemunhas desses alegados actos estariam em perigo."

O Procurador Geral da República acaba por atribuir relevância aos dados a que teve acesso. A entrega do caso ao DCIAP, encarregado de coordenar a direcção da investigação de crimes contra a paz e a humanidade e contra a segurança do Estado, mostra essa relevância.

Na próxima sexta-feira, Pinto Monteiro vai receber Ana Gomes!

Fica por fazer uma investigação ao José Lello, para tentar perceber a sua hostilidade contra a vontade de trazer luz a um caso tão grave!

Afinal, já não tenho é paciência para a agressividade de José, o Lello, sempre que alguém no PS vai contra a corrente!

Uma coisa é certa, o que quer que se tenha passado, há-se saber-se um dia!

Os segredos não são eternos!

20 janeiro 2007

TERRA DA TERRA



A construção do Parque Subterrâneo da Mouzinho implica a escavação ao longo de toda a Avenida e em parte do Largo das Dores, o que se traduz na retirada desta zona da cidade de um enorme volume de terra e de pedras. Um volume idêntico ao que, num outro lado da cidade, é necessário à modulação do relevo indispensável ao tratamento paisagístico do terreno extensamente plano do suporte físico da intervenção de um outro projecto municipal, a 2ª. Fase do Parque da Cidade – Parque Nascente.

Sendo ambas as obras uma opção da Autarquia a desenvolver em continuidade, a boa prática de planear recomendaria que se garantisse que as terras retiradas de um lado fossem deslocadas para o outro, mantendo-se propriedade municipal. Deste modo, ficaria facilitada a tarefa do construtor da primeira obra quanto ao depósito dos materiais retirados da Avenida (num local onde a curta distância não pesasse na conta dos encargos), e ganharia a Autarquia ao ver reduzido o custo da outra obra que beneficiaria de terras “gratuitas” para cumprir um dos objectivos cujo impacto nos custos é significativo: a construção das colinas e ondulações da paisagem idealizada pelo Prof. Sidónio Pardal.
Tal coordenação de acções não aconteceu. Por isso, no âmbito do concurso público para a adjudicação da obra da 2ª. Fase do Parque Nascente faz parte da encomenda o fornecimento de um imenso volume de terras para aterro. Desta falta de planeamento resulta para o erário público uma perda que poderia ter sido evitada se os responsáveis pela planificação das obras municipais tivessem tido a preocupação atrás descrita.

Entretanto, verifica-se que as terras e outros materiais, que estão a ser retirados do subsolo da Mouzinho de Albuquerque, estão ser depositados nos terrenos destinados à nova obra do Parque Nascente. Este facto, a manter-se nas actuais condições e sem a introdução de correcções, pode vir a criar constrangimentos à Autarquia, o que é de todo indispensável evitar.
Na verdade, estando a decorrer o concurso público para essa empreitada, o facto altera um dos pressupostos básicos da consulta de preços: a quantidade de terras a fornecer prevista no Mapa de Quantidades. É óbvio que as terras já colocadas e aquelas que aí vierem a ser depositadas, diminuem as necessidades antes medidas da nova obra. Esse facto permite, a quem o conhecer, trabalhar com melhor estratégia os seus preços unitários, uma vez que, à partida, sabe que, para a materialização do projecto, não será necessário fornecer tanto material de aterro. Aproveitando a previsível redução de custos resultante da circunstância entretanto criada, pode preparar uma proposta com um preço global potencialmente vencedor.
Involuntariamente, uma tal situação pode constituir argumento suficiente para a impugnação da decisão que vier a sair do trabalho da Comissão de Apreciação de Propostas no âmbito do concurso de empreitada em curso. Por isso, é indispensável agir no sentido de repor condições de equidade no processo de consulta de preços.

Ao expor esta preocupação, procurou-se assegurar um ambiente de transparência e equidade no âmbito do concurso público para a execução da 2ª.Fase do Parque Nascente e evitar situações de constrangimento para a Câmara Municipal.
Confrontado com este alerta, o Vereador do Pelouro das Obras Municipais informou o colectivo que – por via do contrato firmado - as terras retiradas da obra da Av. Mouzinho de Albuquerque são pertença do respectivo Adjudicatário, estando este a utilizar os terrenos do futuro Parque da Cidade como depósito a título de empréstimo, uma vez que, atendendo à pequena distância que o separa do obra da Avenida, o local lhe é favorável; um vazadouro em local necessariamente mais distante, acarretar-lhe-ia maiores custos.
A explicação, todavia, reforça as preocupações atrás apontadas. É que, além do que lhe pode proporcionar a informação privilegiada que resulta do conhecimento da transferência e depósito de materiais que interessam à nova obra no seu local de execução, o proprietário dessas terras, no caso de vir a concorrer e a ser preterido em sede de concurso, poderá negociá-las com quem o vier a ganhar.
Ocorrendo tudo isto sem que a Autarquia possa beneficiar do que quer que seja, seria ajustado que a Câmara cobrasse uma importância pelo empréstimo do espaço onde estão a ser colocados os referidos materiais. Desse modo, na prática acabaria por fazer a sua apropriação gratuita, diminuindo as necessidades de aquisição no âmbito do novo Concurso. Tudo ficaria mais claro, bastando apenas completar tal iniciativa com a promoção da correspondente correcção das peças patenteadas a Concurso da empreitada para a 2ª.Fase do Parque Nascente.

O assunto foi exposto pelo Vereador da Oposição que, pela primeira vez, foi ouvido com serenidade pela Maioria. O Presidente reconheceu a pertinência da exposição e mostrou-se sensível à resolução do problema.
Manda o rigor e a honestidade intelectual que, do mesmo modo que em outras ocasiões foi criticado, hoje seja saudado pelo Vereador da Oposição.
Por isso, faço-o com sinceridade!

15 janeiro 2007

MARTIN LUTHER KING

Martin Luther King Jr., 1968.

MARTIN LUTHER KING nasceu em 15 de Janeiro de 1929, em Atlanta, na Georgia, EUA.

OBRIGADO LUTHER KING.
Um dia a Justiça correrá como água e a retidão como um caudaloso rio. Nesse dia não haverá mais pessoas oprimidas.
Tenho saudades do futuro...

14 janeiro 2007

LIBERDADE DO ÍNTIMO

foto de Filipe Silva
A lei que actualmente enquadra juridicamente a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) autoriza-a em determinadas circunstâncias.
O debate hoje não incide sobre o valor indiscutível da vida intra-uterina.

Os defensores do NÃO querem manter a lei actual. Ao fazê-lo aceitam como boas as excepções que a lei hoje define e, desse modo relativizam afinal um valor que dizem não dever ser relativizado.
Na verdade, se estivesse em causa a vida de uma criança, quem aceitaria o infanticídio de deficientes profundos ou de filhos de violadores?

O debate hoje incide sobre o alargamento das razões em que não se condena a mulher em tribunal
É nisso que deve centrar-se a reflexão e o diálogo, que devem acontecer em ambiente de serenidade e seriedade intelectual.
Não foi o que se passou com a mensagem que um movimento pelo NÃO me enviou por e-mail. A mensagem tinha uma frase e uma imagem. A frase dizia: “Vota NÃO para que não haja mais imagens destas!”. A imagem representava um minúsculo feto ensanguentado numa mão!
A poeira demagógica atinge assim o efeito de um acto terrorista que nenhuma serenidade pode tolerar.
É que, além do mais, a actual lei não evitou nem evita um único aborto. É cúmplice da clandestinidade e só os torna mais perigosos, mais traumáticos e humilhantes.

Mas há,ainda, uma hipocrisia a denunciar e a combater: a que assenta na ideia bacoca de que a IVG deve manter-se como crime, mas que as mulheres que a pratiquem não devem ser submetidas a julgamento!

E há outra hipocrisia igualmente nauseabunda: a que, tomando-a como crime, assenta na prática de apenas condenar a mulher, quando não raro é o homem que, por não querer assumir a sua responsabilidade, cria as condições que impõem à mulher a interrupção da gravidez.

Pressinto que a maioria das mulheres está numa posição privilegiada para lidar com todos os processos éticos que a decisão implica, e são raríssimas as que fazem um aborto de ânimo leve, e muito menos as que, num universo de soluções que, não sendo infalíveis, permitem esse objectivo de forma mais segura, cómoda e, porque não dizê-lo, económica, o utilizam como sistemático instrumento de controlo da natalidade.
Das muitas razões que podem existir para uma mulher decidir interromper a gravidez, haverá as que são aceitáveis e que as podemos considerar incompreensíveis. Mas, a nossa incapacidade moral para as compreender deve passar a letra de lei com punição e prisão? É óbvio que não!

Há muito ruído em volta desta questão.
É preciso que regresse o silêncio, aquele mesmo que existe numa decisão que deve ser tomada no mais íntimo de quem tem que escolher e que não faz a escolha sem sofrimento.

06 janeiro 2007

QUEM TEM DIREITO AOS DIREITOS HUMANOS?

foto de Maya Vidon/EPA
De Paris, enviaram-me a imagem e a informação.
Hoje, várias dezenas de activistas da Amnistia Internacional vestiram impermeáveis cor de laranja e cobriram as caras com máscaras brancas em representação dos perto de 400 detidos na base militar norte-americana de Guantanamo, em Cuba, por suspeita de ligações à Al-Qaeda. A iniciativa decorreu junto a uma réplica da Estátua da Liberdade em Paris e teve como objectivo exigir o encerramento de Guantanamo pelos alegados abusos cometidos contra os prisioneiros sob a responsabilidade dos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, no CAUSA NOSSA, o Prof.Vital Moreira diz em "Nada a esconder" :
O Governo e o PS insistem em desconversar e em "chutar para o lado" sobre a questão o trânsito dos voos da CIA em aeroportos portugueses. Não basta dizer que "não há provas" de cumplicidade nacionais nos alegados voos, como ontem voltou a suceder. Perante os preocupantes dados já divulgados, o Governo deveria ser o primeiro a querer saber: (i) se houve voos ilegais e quantos; (ii) se a CIA abusou das facilidades nacionais, para transportar detidos à margem do direito internacional; (iii) se foram cumpridos os procedimentos regulares pelos serviços aeroportuários e demais autoridades nacionais em relação a esses voos ou se eles gozaram de facilidades suspeitas. Ou seja, em vez de tentar minimizar e, mesmo, amesquinhar os sérios esforços de investigação da Comissão do PE e da Deputada Ana Gomes, o Governo e o Grupo Parlamentar do PS fariam bem melhor em tomar a iniciativa de um inquérito oficial em forma sobre o caso. O Governo deveria evidenciar que não tem nada a esconder, nem muito menos a temer, nesta matéria. Mas não é essa a impressão que está a deixar... "

01 janeiro 2007

GLOBALIZAÇÃO DE ROSTO HUMANO

"The economy should work for people, and not the other way around."
- Economic Justice for All


Cem por cento arábica, da Colômbia, “este café foi cultivado por mestres cafezeiros de cooperativas que trabalham segundo os critérios de Comércio Justo e respeitando o Meio Ambiente”, lê-se na embalagem assinada pela IDEAS – Inciativas de Economia Alternativa Y Solidária, com sede em Córdova.


Tomei o primeiro cimbalino de 2007 enquanto lia o caderno de Economia do Expresso.
Na décima sexta página, a leitura ainda sabia mais a café! Uma infografia sintetizava uma das conclusões de um relatório da Catholic Relief Services, comparando as cadeias de comercialização do café no comércio tradicional e no Comércio Justo. Na primeira, inspirada pelo modelo da economia neo-liberal, os produtores em pequena escala e os trabalhadores das plantações recebem menos de 2% do preço de venda ao público do café que cultivam. Na cadeia do comércio justo, os custos permanecem os mesmos, mas a sua distribuição é diferente e mais equitativa. O jornalista Alexandre Coutinho explica que os produtores recebem um significativo aumento na remuneração do seu trabalho: 15 a 30% do preço de venda ao público, dependendo dos produtos. O restante reverte a favor das cooperativas e das lojas de comércio justo, para pagar custos de transporte, de aluguer de instalações, salários de funcionários e a promoção dos produtos. Ao contrário de muitos importadores comerciais, que pagam aos fornecedores a 60 ou 90 dias, as organizações de Comércio Justo asseguram pagamentos adiantados aos produtores, por forma a cobrir desde logo os custos com matérias primas e os custos básicos de produção.

Este novo sistema, alternativo às tradicionais regras capitalistas, comprova que é possível criar riqueza com maior justiça económica e social. E que é possível fazê-lo de forma sustentável e numa perspectiva ecológica. Que a utopia é, afinal, onde se chegará mais cedo ou mais tarde, quando se trata de cumprir a Natureza de que o Homem é parte.
No fundo, o Comércio Justo estabelece uma parceria inteligente entre produtores e consumidores que trabalham para ultrapassar as dificuldades enfrentadas pelos primeiros, para aumentar o seu acesso ao mercado e para promover o processo de desenvolvimento sustentável. Neste sentido, o Comércio Justo não se rege apenas por critérios economicistas, mas tem em conta valores éticos, sociais e ecológicos. A sua missão é promover a equidade social, a protecção do ambiente e a segurança económica dos produtores mais desfavorecidos. Com esta parceria ficam garantidas as despesas básicas de alimentação, habitação condigna, educação e cuidados de saúde. Nela cabem a oferta de pré-financiamentos, de adiantamentos e de acesso ao microcrédito. Garantem-se condições de igualdade no emprego para homens e mulheres, recusando a exploração do trabalho infantil ou escravo. Apoiam-se os agricultores na melhoria dos seus métodos de produção, produtos, embalagens e no impacte ambiental, favorecendo a agricultura biológica.

Neste mundo que segue a sua trajectória numa rua diferente da estrada capitalista, a preocupação e o respeito pelas pessoas e pelo ambiente é colocado acima do lucro. Há abertura e transparência quanto à estrutura das organizações e todos os aspectos da sua actividade, e há informação partilhada entre todos os intervenientes na cadeia comercial sobre os seus produtos e métodos de comercialização. Há participação e envolvimento dos produtores, voluntários e empregados nas tomadas de decisão que os afectam. Há protecção dos direitos humanos, nomeadamente das mulheres, das crianças e dos povos indígenas. Há oportunidade para uma economia sustentável, um meio para combater a pobreza e até um modo de evitar que os pequenos agricultores da América Latina se dediquem à produção de droga como único recurso de sobrevivência.

Em 2006, o Comércio Justo cresceu 37% no mundo. Em Portugal existem já 12 lojas.
Assim se constrói a globalização com rosto humano, como gosta de desejar Mário Soares, e que confirma o erro de Fukyama: afinal, a História continua e o Capitalismo selvagem não triunfou.

Sorvido o primeiro cimbalino do ano, revisitar o movimento do Comércio Justo deixa uma energia renovada para continuar com paixão o Tempo, nesta corrida que começa a contar-se pela bimilesimasétima vez depois do Nascimento do Verbo.