19 agosto 2012

ELES DIZEM QUE ESTAMOS A SER BEM GOVERNADOS


Há em Portugal uns quantos que fazem discursos muito patrióticos, que descobriram que está na aplicação aos outros de todos sacrifícios – precisamente por ser aos outros e não a eles próprios -, que por isso fazem discursos redondos com propostas que exigem bacocos fins de feriados, aumentos de horários de trabalho, flexibilizações mais flexíveis que as minhocas, a redução dos salários dessa cambada de trabalhadores que vive acima das suas possibilidades, a quem a miopia interesseira culpa sempre exclusivamente pela baixa produtividade nacional…

Uns quantos que aplaudem a generalização do perigoso “princípio” do utilizador-pagador (como se os cidadãos não fossem primeiro pagadores e depois eventuais utilizadores dos serviços e dos bens públicos)… Uns quantos que acham inevitável cumprir os compromissos com os credores – diga-se, com os agiotas do sistema financeiro, que estão a depauperar as pessoas e os povos e a levá-los a uma perigosa escravidão como nunca experimentada -, mas que se esquecem hipocritamente do compromisso primeiro e fundamental de assegurar o bem estar e a felicidade aos próprios cidadãos…

Uns quantos que acham que essa coisa do Estado Social é mania de uma esquerda ultrapassada, e contrapõem como ideia de modernidade a velha e anticivilizacional lei do mais forte, umas vezes de forma sibilina e outras vezes desavergonhadamente e às escancaras...

Enquanto contribuem para a desgraça coletiva, por ação ou por omissão, esses são os que lavam e levam o dinheiro – muitas vezes de origens ilícitas – para paraísos fiscais, fugindo ao elementar contributo de cidadania que consiste em pagar os impostos, indiferentes ao agravamento que com isso tornam mais pesada a carga de todos os que já magoaram de outros modos e à custa de quem usam os bens comuns para os quais nada ou quase nada contribuem…

Não obstante, dou comigo a constatar que o Governo está ufano!
Com mais sucesso que o anterior, inventou uma AMNISTIA FISCAL para “safar” os incumpridores de sempre! Perdoou-lhes a ilegal e eticamente inaceitável fuga aos impostos, desde que trouxessem de novo para Portugal o dinheiro que nunca deveriam ter levado à socapa para paraísos fiscais, com a cumplicidade interesseira da banda especuladora, protagonista desta economia de casino que nos rouba a vida!

Se um cidadão ou uma empresa, que cumpre o seu compromisso fiscal para com a comunidade, se atrasa no pagamento de um imposto “cai o carmo e a trindade”. Movem-se ameaças e ações com velocidade voraz. Obriga-se o atrasado a pagar multas e juros de mora, com direito a período de quarentena na lista negra dos devedores que o Estado torna pública.

Pelo contrário, estes senhores, muitos dos quais estão na génese da divida de Portugal – ainda por explicar e conhecer completamente –, são cuidadosamente mantidos sob anonimato e merecem tratamento de exceção. A exceção deveria traduzir-se numa pena mais dura por ser maior o seu crime. Mas, num tempo ímpar de subserviência da Republica à ganância e ao poder dos ricos, a exceção é para lhes darem palmadinhas nas costas e para serem parcial e vantajosamente perdoados.

E assim, num caldo obsceno, enquanto um vulgar cidadão pode pagar 30, 40 ou mesmo 45% de IRS, ou 25% de impostos de capitais se mantiver uma simples conta bancária em território nacional, estes senhores, mais iguais que os outros, tiveram a sorte governamental de pagar apenas a taxa de 7,5% !!!

Pelas minhas contas, se a máquina fiscal arrecadou 258 milhões de euros, à taxa de 7,5%, o montante desviado que se “regularizou” andaria pelos 3.440.000.000 euros, ou seja uma muito significativa fatia do empréstimo da Troika ao estado português!

O Governo está ufano por ter recuperado 258 milhões, apesar de ter sido roubado ao país pelo menos 602 milhões (se considerada apenas a aplicação do imposto de capitais)! Mais ufanos duplamente devem estar estes beneficiários de um sistema sem moral. Ficaram com a maior parte do pilim e confirmaram a sua mais profunda convicção de que o crime compensa e de que “quem tem os amigos certos não morre na prisão”!

Só quem pensa que o dinheiro está acima da Justiça, pode achar que isto é motivo de regozijo!

Num tempo em que tudo nos é exigido, em que à maioria é imposto ter que pagar e pagar, em que um número nunca visto de pessoas passa os horrores do desemprego e do desespero, alguns - os do costume – são amnistiados por um Governo hipócrita e sem valores éticos, que não tem desculpa por não ter sido o único; a falta de vergonha não tem cor partidária.

Apesar de tudo, há quem diga que estamos a ser bem governados! Dizem-no os da preguiça mental, comodamente entorpecidos pelo pensamento dominante, e, claro, os que se vão governando bem aproveitando este sistema imoral!

2 Comments:

Anonymous Jorge Velhote said...

Lúcido e certeiro. E actualíssimo. De divulgação obrigatória e comprometida.

19 agosto, 2012 11:18  
Blogger Peliteiro said...

Depois de uma época de regime socialista vem sempre o caos: Socialismo é bom apenas enquanto dura o dinheiro dos outros.

19 agosto, 2012 14:25  

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