16 novembro 2008

A LATA



Pelo que diz no Expresso, durante meses, João Pereira Coutinho acompanhou aquilo que ele chama “a histeria da Europa por Obama”. Diz que tentou vislumbrar os motivos da paixão nas promessas do homem e que não encontrou nada. E, então, vai daí, tenta explicar o que apelida de loucura generalizada com uma palavra, com a raça. Diz ele, que Obama é preto e que as esquerdas da Europa, em atitude profundamente racista, entenderam que a pigmentação da pele fazia toda a diferença.

Ele, o João P. Coutinho, acha que o racismo invertido não deixa de ser uma forma de racismo. Em teoria, concordo com ele. Mas, entretanto, não compreendo a sua postura em relação a esta forma subtil de discriminação, quando afirma que, para os tais esquerdistas, “Obama é uma espécie de dr. Louçã, embora mais alto, mais elegante e, como diria o sr . Berlusconi, ligeiramente mais bronzeado”.
Não será esta adesão ao dito racista de Berlusconi um desabafo intrinsecamente racista?
Se Coutinho quisesse entender as coisas, sem preconceitos, reconheceria que não foram apenas as esquerdas europeias que desejaram e depois saudaram a eleição de Obama. Um pouco por todo o mundo, na Europa, em África, na América Latina, nos países árabes e no Extremo Oriente, os desejosos da paz, do desenvolvimento e da democracia, que estão à Esquerda e para lá da esquerda, são milhões os que construíram a esperança de um mundo melhor e menos perigoso que aquele em que Bush e a sua comandita nos mergulhou nos últimos oito anos.
Se Coutinho quisesse entender as coisas bastava responder a uma questão básica: será que todos esses, os da nova esperança, votariam hoje em Bush e no que ele representa se, por artes mágicas, aparecesse,”como diria o sr. Berlusconi, ligeiramente mais bronzeado”?
Hoje o que é preciso é criar as condições para reconstruir a Esperança!
Mesmo que, a seguir, possa haver alguma desilusão, é melhor que a certeza da desumanização perpetrada por um modelo político, económico e social que tem gerado pobreza e conflito por toda a parte.
Prefiro dizer com Clara Ferreira Alves que "da importância de ser uma pessoa decente, tenho a audácia de esperar que Obama não se esqueça de tudo aquilo que o ensinou e o construiu".
Uma coisa é certa. Poderá Coutinho bronzear-se cinco vezes por dia, que cinco vezes por dia, com tal mentalidade retrógrada, não dará o mais insípido motivo para se acreditar que o seu pensamento ajude a superar a ignomínia.
Quanto ao regresso ao asilo psiquiátrico que adivinha, o Coutinha que apreciou o dito racista de Berlusconi pode ficar sentado à nossa espera…

2 Comments:

Blogger renato gomes pereira said...

JJ..
que é isso de
RACISMO INVERTIDO?

então racismo é só quando um branco discrimina um preto? eo inverso não é racismo?


..UM preto é um preto !e um branco é um branco-...Piores são os asiáticos que se não misturam com os não amarelos...

Racismo é chamar branco aum preto e preto a um branco... alias nem um nem outro são pretos ou brancos, mas sim castanhos.. logo o racista tem que ser também daltónico...

Obama não é preto! é mestiço! e não é Africano nem afro- americano... A sua esposa essa sim é afro-americana pois descende directamente dos escravos que foram a força levados pelos judeus holandeses (ex-portugueses expulsos pelo marquês de pombal) nos celebrees navios negreiros par as plantações algodoeiras do Tennessee e New York...Obama é mais euro-americano do que afro americano...

e Omitir é também mentir...

17 novembro, 2008 09:25  
Blogger Manuel CD Figueiredo said...

A esperança de mudar para um mundo melhor -não apenas nos EUA- começou a germinar há muito tempo, antes do início das primárias, e teve um ponto alto na Europa, no célebre discurso de Berlim. Essa foi a primeira grande mensagem da Europa, sobretudo da juventude -sem mostras de racismo- para os Estados-Unidos. Uma mensagem igualmente de esperança.

Li entrevistas a estudantes de universidades americanas, jóvens americanos e estrangeiros, brancos e de cor. Todos, com maior ou menor entusiasmo, apresentaram os seus pontos de vista sobre Obama, justificados. Eram unânimes na necessidade de se encontrar um Mundo melhor, e na esperança que Obama poderia trazer. Nenhum abordou sequer a questão da cor da pele, nem dos próprios, nem do então candidato.

Racismo? Há, certamente, para mal dos nossos pecados. Faça cada um o seu exame de consciência e avalie a quantidade desmedida e descabida de hipocrisia que em si talvez se encerre, alimentada pelos retrógrados sentimentos que possui e pela má formação que detém.

Ainda agora (hoje) as revistas semanais The Economist, Time e Newsweek abordam o impacto da eleição de Obama em todas as áreas: social, política, económica de segurança, justiça, etc. E são vários e extensos os artigos que tratam a questão e o fenómeno.
Só João Pereira Coutinho não vislumbrou nada! Nem agora, nem antes! Não teria nada a acrescentar ao que tantos outros já disseram! Poderia então escrever sobre uma qualquer banalidade e deixar-se de considerações infelizes.

18 novembro, 2008 19:49  

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