21 fevereiro 2010

ONDE ESTÁ WALLY?

fotografia de Maria Carlos



Extracto de uma opinião de Vicente Jorge Silva que vale a pena ler. O artigo completo está aqui.

Não atribuo exclusivamente a Sócrates a descaracterização daquilo que, em termos românticos, poderíamos chamar a ‘alma socialista’. Muito antes dele, o PS já passara por outras peripécias nada românticas ou edificantes. Mas também é verdade que nunca, como agora, vi essa alma tão perdida, penada e desonrada pelo carreirismo, pela vileza e pela falta de carácter (alguns mostram horror a que se fale disso, como se o carácter não fosse a essência da nobreza política).
Onde estão as vozes inconformadas que não se fazem ouvir ou se escondem cobardemente atrás do reposteiro das conveniências, pactuando com a mentira, o cinismo, os negócios escuros e a promiscuidade dos interesses?
Como é possível que aquilo que se mete pelos olhos dentro como punhais possa ser negado e mistificado em nome de embustes e hipocrisias formais? Como poderá a fidelidade servil ao chefe ser colocada acima dos ideais, princípios e convicções que inspiram a verdadeira fidelidade moral e política? Perdida a honra, que restará ao PS?”


13 fevereiro 2010

URGE A DECÊNCIA, URGE A DEMOCRACIA




Hoje, dentro e fora do Partido Socialista, é ainda mais necessário apoiar Manuel Alegre à Presidência da República e motivar José António Seguro para representar o PS na liderança do governo de Portugal.

Para repor a credibilidade do regime. Em nome de todos os que trabalham afincadamente no quotidiano, que arriscam, que lutam, emprestando o seu contributo, por pequeno que seja, ao bem comum e a um Portugal moderno e mais justo, é urgente que os valores da República, cujo centenário se celebra este ano, voltem a ser o guião para que Portugal se afirme com dignidade.

O poder económico não pode dirigir o poder político. É ao contrário que tem que ser. E ao contrário faz-se, desse modo, o que é direito, num estado democrático, cada vez mais necessário e, por isso, mais urgente, recusando as caricaturas que dele vem fazendo oportunisticamente o bloco central de interesses, levando Portugal e a nossa vida para um pântano que vai generalizando a angústia e promete o desespero.

Os jogos palacianos, envolvendo políticos e empresários, para assegurar a uns a perpetuação no poder e a outros vantagens de milhões, é uma vergonha que magoa qualquer cidadão. Mas deveria envergonhar mais ainda qualquer socialista, uma vez que são uma afronta asquerosa aos valores do PS e à sua história.

Não me venham mais com tentativas de explicações impossíveis para justificar o que nunca deveria acontecer, nem ter acontecido.
Não quero viver num país onde, sob a capa da democracia, um governo e uns sujeitinhos de colarinho branco se organizam para tentar juntar nas suas mãos um monstro que visa manipular a informação e, desse modo, as nossas consciências. E, se uma tal criatura era tenebrosa durante a noite salazarista (que tinha, pelo menos, a vantagem de agir às escâncaras), em alegada democracia ainda é mais intolerável.

No tempo que antecedeu o Congresso de Guimaräes, há meia dúzia de anos atrás, quando no PS se viveu um dos momentos mais significativos de debate político interno e externo, estive ao lado de Manuel Alegre. Foi fácil fazê-lo, atendendo ao seu percurso, aos valores que o animavam, ao projecto que defendia e à denúncia corajosa que fazia do “bloco central de interesses” que havia tomado conta do país. Também foi fácil, porque sempre vi em Sócrates uma ambição desmedida de poder e a ausência de valores socialista. Além do mais, vi juntar-se-lhe muitos dos que passam a vida em cima do muro, atitude que é, em si mesmo, um elucidativo indicador.
Aqui, na Póvoa, fui mal tratado por me juntar a Alegre nessa altura e mais ainda quando o apoiei à Presidência da República.

Mas, no momento que vivemos, é precisamente o movimento criado em volta de Manuel Alegre e a possibilidade de uma nova candidatura ao mais elevado cargo político da nação, que trás a esperança necessária e pode ajudar a aglutinar numa mesma força de mudança todos os que ainda acreditam que vale a pena. E é , em certo sentido, um dos caminhos para que o Partido Socialista volte à dignidade perdida e a merecer a confiança e o entusiasmo de todos.

Neste quadro, tendo caído definitivamente a máscara a José Sócrates e à sua guarda pretoriana, na sequência de inúmeras peripécias que levou o país a perder-lhe o respeito, não lhe resta alternativa senão demitir-se, levando com ele os que, unha e carne, o ajudaram nesta desgraça.
Desse modo serviria o país e o PS.

Se não for capaz de o fazer por iniciativa própria – como é bem previsível – é preciso que alguém com autoridade moral dentro do PS se lhe dirija como fez Kissinger com Nixon no caso Watergate e lhe diga: Meu caro José, chega! É tempo de ir embora!

A questão não é apenas política, mas também é ética. Há, felizmente, no PS muita e boa gente capaz de nos ajudar a recuperar a credibilidade da política e das instituições democráticas.
Do meu ponto de vista, tem muita consistência a ideia de que António José Seguro, pelo seu pensamento, pela postura e pelas atitudes que tem tomado, tem as condições pessoais e políticas para substituir o actual primeiro-ministro e liderar a construção de uma solução válida para a crise de valores que se vive!

01 fevereiro 2010

Que se passa por aqui?


É impossível ficar indiferente!
Em momentos como este alguém pode censurar um sentimento de raiva? Uma raiva à mistura efervescente com um sabor amargo por ver que um certo comportamento (errado), intolerável numa sociedade democrática, vem precisamente do interior da familia política a que se pertence. Que se passa afinal? Não será já demais?
Com mais esta fica tudo por um fio!


Vejam e tentem compreender mais uma gota de água para o rio do desencanto!


Mário Crespo garante ter sido «ameaçado» por Sócrates
Primeiro-ministro terá dito que jornalista é um «problema» que teria de ter «solução»



O Fim da Linha
Mário Crespo
Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.