O PREÇO DO LUXO
Por compreensível esquecimento ou distracção, o doutor Mateus meteu “debaixo do tapete” a mulher de Marco, e não a fez deambular pelo livro com o mesmo título. Fazendo recurso da liberdade criativa, trocou-a pela última página, numa breve alusão ao encanto alternativo de Marco por Quiara, uma espécie de deusa da massagem ayuverdica, que segundo o autor, devia ser uma brasa.
Contudo, inopinadamente, e depois de alguns anos, cruzei-me hoje com a mulher de Marco. Vinha do desterro literário, de cabelo curto, à garçon, e, apesar do tempo, continuava uma mulher bonita. Vestia, como sempre, com extrema elegância. Um longo casaco preto sobre meias da mesma cor de breu, compunha uma silhueta de glamour, confirmando que o diabo veste Prada.
Na surpresa desse cruzamento nesse passeio anónimo da cidade, desviou o olhar e não pude ver se ainda tinha luz. Sem direito à certeza do brilho ou do seu contrário turvo, fui antes invadido pelo habitual Chanel, caríssimo, com que o ar fora igualmente preenchido…Obviamente, sem a visão raio X do herói da banda desenhada, também não pude ver o que vestia sobre a primeira pele, mas não seria difícil adivinhar, que uma qualquer lingerie cara fazia a despesa.
Inopinadamente, percorreu-me uma vontade quase irreprimível de rasgar um pouco mais o silêncio que pesava sobre a rua, interrompido apenas, de forma cadenciada, pelos saltos altos com que ela tocava o chão, retirados da montra do estilista português Luís Onofre – o mesmo que calça a princesa Letícia:
“Então? A viver à custa da habilidade do Marco e dos seus compinhchas…e a viver muito bem, pelos vistos! Como se sente dentro desse luxo à custa do dinheiro do povo que passa privações?”
Acabei por não dizer nada!
Afinal que sentido faria dirigir-me a sério à personagem de um livro que o próprio autor decidira ignorar?
Na surpresa desse cruzamento nesse passeio anónimo da cidade, desviou o olhar e não pude ver se ainda tinha luz. Sem direito à certeza do brilho ou do seu contrário turvo, fui antes invadido pelo habitual Chanel, caríssimo, com que o ar fora igualmente preenchido…Obviamente, sem a visão raio X do herói da banda desenhada, também não pude ver o que vestia sobre a primeira pele, mas não seria difícil adivinhar, que uma qualquer lingerie cara fazia a despesa.
Inopinadamente, percorreu-me uma vontade quase irreprimível de rasgar um pouco mais o silêncio que pesava sobre a rua, interrompido apenas, de forma cadenciada, pelos saltos altos com que ela tocava o chão, retirados da montra do estilista português Luís Onofre – o mesmo que calça a princesa Letícia:
“Então? A viver à custa da habilidade do Marco e dos seus compinhchas…e a viver muito bem, pelos vistos! Como se sente dentro desse luxo à custa do dinheiro do povo que passa privações?”
Acabei por não dizer nada!
Afinal que sentido faria dirigir-me a sério à personagem de um livro que o próprio autor decidira ignorar?
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home