D.Palha
Em 17 de Março de 2008, apresentei à Câmara Municipal da Póvoa de Varzim uma Moção para que a Póvoa de Varzim fizesse uma declaração pioneira em Portugal como Cidade Anti-Touradas.
A propósito da democracia dos comportamentos, um dos ataques mais ignóbeis contra a minha iniciativa partiu de Diogo Palha, publicado na folha electrónica da Tauromania, uma organização cuja vocação é promover o espectáculo taurino.
Respondi-lhe, desmontando as calúnias que então me fez. Mas, até hoje, o “democrata” D.Palha não teve a dignidade de publicar no mesmo espaço o escarecimento a que teria direito se estivéssemos num país a sério.
Diogo Palha é um dos sócios da Tauromania, Lda.. Exerce a sua actividade profissional como gerente das empresas PTX-Promotextil e 1001T-shirts, Lda., estudou Economia no Instituto Superior de Economia e Gestão e é especializado em Marketing pela Universidade Católica Portuguesa. É elemento do Grupo de Forcados Amadores de Santarém desde 2002, tendo antes pegado no Grupo de Vila Franca entre 1994 e 2001. Foi um dos fundadores da Associação Nacional de Grupo de Forcados e vice-presidente da sua primeira Direcção.
Ao fim de uma espera de mais de meio ano, aqui fica a resposta de caras ao toureiro em cernelha que a não publicou.
1. Em artigo de opinião, Diogo Palha, visivelmente enervado, roçando o insulto pessoal, fez comentários injustos e absurdos à iniciativa política que, enquanto Vereador da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, levei a cabo no passado dia 17 de Março.
Revelando um profundo desconhecimento sobre a génese da referida iniciativa e o seu conteúdo, não se coibiu de fazer insinuações graves, pondo em causa a minha honestidade intelectual e atentando contra a minha dignidade como cidadão.
Cabe assim, esclarecer os leitores.
2. Não há Democracia sem Liberdade e sem pluralismo nas convicções. Nesse sentido, no uso de argumentos fundamentados e não de ruído, ao direito inalienável de todos os que pretendem defender as actividades taurinas, há-de corresponder igual direito de cidadania àqueles que, por outras razões, entendem que tais actividades devem ser extintas. É do confronto saudável de ambas as convicções que o mundo pode avançar.
Ora, usando os mecanismos normais em Democracia, levei a debate uma Moção. Ela foi votada democraticamente e recusada pela maioria PSD. Aceitei o facto com serenidade e não desatei a insultar os outros. Estou certo de que outras manhãs virão…
Não se compreende, pois, onde está a falta de respeito pelo Estado de Direito democratico!
Pelo contrário, é D. Palha quem exprime tiques ditatoriais, ao não admitir a diferença de opiniões e o direito dos diferentes de lutarem pelas causas em que acreditam.
3. D.Palha, que se afirma sócio de uma empresa ligada à Tauromaquia, terá interesses no sector.
A paginas tantas, julgando os outros à sua medida e não percebendo que, para além disso, há quem aja apenas por valores éticos e por princípios, tem a desfaçatez de insinuar a existência de cumplicidade entre a minha iniciativa e uma alegada “proposta de uns senhores alemães para fazerem um empreendimento no local onde está a Monumental Praça de Toiros da Povoa do Varzim”.
De facto, a Associação Animal referiu publicamente essa possibilidade. Mas, pela minha parte desconheço quem são esses senhores, o que querem e porque o querem!
Se D.Palha tivesse o cuidado de ler a Moção a Favor da Declaração Municipal Oficial e Simbólica da Póvoa de Varzim como Cidade Anti-Touradas, veria que a minha proposta para a Praça de Touros nada tem nada a ver com isso!
Na verdade, o que proponho, no âmbito de um protocolo a estabelecer entre a Autarquia e a comunidade escolar local, é que este edifício possa ser transformado numa PRAÇA DO ENGENHO E ARTE, integrando um centro de interpretação ambiental, clubes de investigação (Matemática, Física e Química, Energias Alternativas…), espaços de produção de artes plásticas, oficinas de artes do espectáculo e de criação literária (dando continuidade às Correntes de Escrita), a realização de espectáculos e eventos ao ar livre, uma loja de Comércio Justo para promoção de Artigos da Terra (valorizando os produtos hortícolas locais e promovendo uma feira semanal de produtos de agricultura biológica) e um restaurante de cozinha mediterrânica, podendo a sua gestão vir a ser realizada por jovens universitários com apoio técnico do Município.
4. Por convicção humanista, recuso a visão antropocêntrica da vida que, não raramente, degenera no desrespeito pela Natureza e pelos outros seres vivos. O uso de animais em espectáculos e eventos públicos de carácter meramente lúdico, para gáudio de multidões eufóricas, resulta num acto gratuito e abusivo que em nada contribui para a dignificação da pessoa. A violência exercida sobre os animais é uma atitude retrógrada que, ao fingir ignorar-lhes a possibilidade da dor, não se coíbe de a provocar por puro divertimento.
Vivemos o tempo de um novo desiderato! A História corre a favor da ideia de que partilhamos a terra com outros seres vivos que urge respeitar.
A Moção que apresentei - na linha directa da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada pela ONU – Organização das Nações Unidas – não foi ainda compreendida.
Mas, apenas se atrasou o Futuro.
Mais cedo ou mais tarde, tal como em cerca de três dezenas de cidades de Espanha – a pátria da faena - a Póvoa de Varzim e Portugal, serão lugares onde se respeitam os animais.
Então, cumprir-se-á o Homem!
5. Por fim, deixo à consideração de todos o pensamento do Prof. Dr. Vera Cruz, da Universidade de Direito de Lisboa: “Por princípio de Direito Natural fixado a pensar no homem, não devemos sacrificar qualquer forma de vida como modo de divertimento e só para isso, mesmo que quem mata se considere um artista e a encenação da morte corresponda a uma forma de arte ou à expressão de uma tradição popular. Numa comunidade o Direito impõe escolhas onde o consenso não é possível. No conflito entre uma tradição local e a ordem pública geral prevalece a segunda sobre a primeira.”