28 setembro 2008

MASDAR, A ECOPOLIS ÁRABE




Para essa gente, que prefere apoiar o desperdício de três milhões de contos na construção de um mega-parque subterrâneo que eternizará o excesso de carros no centro da cidade e que ainda está convencida de que uma cidade sem carros é um absurdo, utópico e completamente impossível, fica o exemplo árabe de Masdar.




Pouco depois de mais uma “Semana Sem Carros”, e ao mesmo tempo que se prepara o Congresso da Arquitectura Sustentável, a realizar na Universidade de Aveiro no próximo fim-de-semana, onde espero estar, regresso aos finais de 2007 por causa de Masdar, quando estavam prestes a começar os trabalhos de construção da primeira cidade sem carbono do Mundo.
O projecto, saído do atelier do britânico Norman Foster, implica um investimento de 10 mil milhões de euros. A cidade “verde” ficará instalada junto do aeroporto de Abu Dhabi, sobre 700 hectares de deserto.
Não se conhece ao certo qual a expectativa de duração das reservas de petróleo dos Emirados Árabes Unidos. Não obstante, em entrevista ao Público publicada em Janeiro de 2008, Sultan-al-Jaber, administrador do projecto, disse: “Como grandes produtores de petróleo, não somos contra as energias renováveis. Na verdade, a mistura pode ajudar a estender a vida das nossas reservas de petróleo e gás natural”.
Diz quem a visitou que, a cidade de Abu Dhabi – capital dos Emirados Árabes Unidos, possui os sinais clássicos da opulência do petróleo. Tem avenidas largas e auto-estradas impecáveis. A frota automóvel é nova, numerosa a não poupa em cilindradas. Edifícios altos e arranha-céus abrigam hotéis, escritórios, grandes empresas. É um oásis ocidental no deserto. Pode soar contraditório, mas o Abu Dhabi, com as quintas maiores reservas petrolíferas do mundo - quer ser o campeão global das renováveis. E está a construir a primeira cidade completamente sustentável do mundo, cuja vida será garantida com recurso exclusivo a energias renováveis. Curiosamente, em Masdar – que em árabe significa “a fonte” – o petróleo será inútil para os seus 40.000 residentes e para os 50.000 trabalhadores que aí acorrerão diariamente.
Uma cidade com zero emissões de carbono, sem desperdícios, sem lixo e sem agressões ao ozono. Masdar será o modelo do desenvolvimento sustentável do futuro. Com seis milhões de metros quadrados, os princípios conceptuais, diz Norman Foster, são os de uma cidade energeticamente eficiente, a ser construída em duas fases. Primeiro, garante-se a instalação de uma enorme fábrica de energia fotovoltaica. Depois, passa-se a um crescimento urbano cuidadoso, evitando a dispersão dos habitantes e uma baixa densidade populacional. Evitando o que venho apelidando de “urbanismo de salto de rã”, que tem consumindo de forma irracional o território à volta das nossas cidades.
O país tem 12 horas de sol por dia: a energia solar vai ser a mais utilizada. Para as habitações, o atelier de Norman Foster projectou edifícios baixos com painéis solares no telhado. Além disso é indispensável evitar meios de transporte poluentes. Não haverá carros na cidade da Masdar Initiative. Qualquer transporte, loja, entidade ou instituição estará a uma distância máxima de 200 metros. Para isso foi projectada “uma rede compacta de ruas” com zonas constantes de sombra como a melhor forma de encorajar as pessoas a andar, protegendo-as das condições climatéricas extremas – ou seja, o calor infernal próprio da região – a que o Abu Dhabi está exposto. Além disso, a rede de transportes é rápida e pode ser personalizada. Na cidade sem carros, os habitantes deslocar-se-ão através de um metro ligeiro de superfície e de um sistema de transporte individual, subterrâneo, em pequenos veículos eléctricos.
Segundo a Foster + Partners, a densidade constante será de 296 pessoas por hectare, a viver e a trabalhar. Se contarmos apenas os habitantes nos limites da cidade, o número desce para 136 pessoas por hectare. Os edifícios terão um máximo de 40 metros de altura e entre quatro a seis andares.
Entre as áreas recreativas, zonas desportivas e centros para turistas, a cidade estará totalmente equipada com as instalações necessárias para ser auto-suficiente. Haverá centros de reciclagem, centrais para tratamento de resíduos, centrais para tratamento da água e ainda três plantações de espécies diversas para a produção de bens alimentares e de biocombustíveis.
A expansão está cuidadosamente planeada”, garante o atelier de Norman Foster, acrescentando que o horizonte da cidade irá também ser preenchido com ‘clusters’ de energia eólica e fotovoltaica.Por fim, não faltará uma universidade, a sede da Abu Dhabi Future Energy Company, um centro de inovação e zonas económicas especiais – livre de impostos, onde se pretende atrair até 1500 empresas com um pacote interessante de incentivos.
Masdar, pronta em 2013, tirará partido da brisa do mar e terá uma “muralha” que a protegerá do calor do deserto e do barulho provocado pelo funcionamento do aeroporto.
Fora dos muros, o Abu Dhabi vai apostar numa central de produção de hidrogénio, a partir do gás natural, que será utilizado para alimentar uma central eléctrica.

Num dos países que mais tem sido beneficiado com a ditadura do automóvel, nasce uma cidade de 40 mil habitantes absolutamente sem carros. Em Abu Dhabi está a ser construída MASDAR, a primeira cidade livre de carros, apenas com um sistema de metro ligeiro.
É inevitável recordar o PROJECTO BOLINA e as suas propostas para uma mobilidade sustentável, mas também a forma arrogante e absurda como foi “chumabado” por uma maioria política anacrónica, ignorante e irresponsável perante o presente e sobretudo, perante o futuro.
Para essa gente, que prefere apoiar o desperdício de três milhões de contos na construção de um mega-parque subterrâneo que eternizará o excesso de carros no centro da cidade e que ainda está convencida de que uma cidade sem carros é um absurdo, utópico e completamente impossível, fica o exemplo árabe de Masdar.

21 setembro 2008

CAPITALISMO SELVAGEM


Os Estados Unidos, a pátria do capitalismo bolsista, vive por, estes dias, uma das maiores crises financeiras de que há memória. Há quem classifique esta crise ligada ao crédito hipotecário de alto risco como “o mais dramático colapso financeiro desde 1929”.
No Editorial do Expresso, na sua edição deste fim-de-semana, lê-se que “além da falência ou compra de alguns nomes mais sonantes do sistema financeiro americano, com centenas de anos de história, há consequências devastadoras para a economia real que estão ainda por se evidenciar em toda a sua dimensão”. (…) “Com os despedimentos a subir e as acções, que são parte importante do rendimento das famílias americanas, a cair, as falências pessoais vão aumentar no próximo ano. Estamos perante um desastre de proporções gigantescas. E as autoridades americanas são as grandes responsáveis pelo que está a acontecer ao autorizar que os bancos de investimento subissem para 30 vezes a alavancagem dos seus balanços (contra 12,5 vezes nos bancos comerciais) e ao permitir o lançamento no mercado de produtos cada vez mais sofisticados e complexos onde a determinação do risco passou a ser muito difícil ou mesmo impossível.”
Agora que as coisas estão explosivas, até os mais ferozes defensores do sacrossanto Mercado acorrem, aos gritos, a pedir a intervenção do Estado para não deixar falir as grandes empresas privadas. Com total despudor, como sempre, passam a exigir apoio do Estado que, em tempo de vacas gordas, consideram forte, grande demais e demasiado interveniente, apesar de, na prática, termos vindo a ver cada menos regulação por parte dos governos.
Na maior das hipocrisias e no mais escandaloso oportunismo, o capitalismo regressa da sua agressiva e destruidora aventura bolsista para impor o velho aforismo: “privatização dos lucros; socialização dos prejuízos”.
Já Mário Soares, há alguns anos atrás, alertava para a perigosíssima forma de que se estava a revestir o Capitalismo na era da Globalização, deixando de assentar no conceito de produção para apenas se dedicar à especulação de capitais, destruindo tudo à sua passagem e originando mais desigualdades e injustiças sociais, conveniente apenas aos vencedores, escassos em número, mas volumosos em cifrões.
Mas, como pretende Daniel Monteiro, “se as nossas economias estão de tal modo globalizadas que os gigantes financeiros não podem falir; se esses colossos jogam à roleta russa até ao limite da irresponsabilidade, inventando esquemas financeiros manhosos; se no fim quem paga a factura inevitável é o Estado, então o Estado tem de assumir as rédeas da economia para impor regras e transparência. As falências ou nacionalizações de gigantes, a crise dos alimentos por via da especulação, os preços absurdos dos combustíveis…Os sinais estão aí. O capitalismo selvagem pode bem ter, no final da década, o seu muro de Berlim. Mas antes da derrocada, se não se importarem, seria útil responsabilizar quem, na política, nas empresas e nos jornais, nos meteu nesta alhada. Que pelo menos as culpas não sejam socializadas”!
Obviamente: “que pelo menos as culpas não sejam socializadas”, já que os prejuízos vão acabar, como sempre, a ser pagos por todos nós, com os impostos que pagamos ao Estado. Os impostos que poderiam ser menores se, muitos dos que têm ganho com este capitalismo bolsista também não beneficiassem dos paraísos fiscais, uma outra chaga que está a envenenar a nossa organização económica e social.
O Estado vai acabar por intervir para evitar um mal maior. Mesmo assim, numa teimosia absurda, os teóricos mais liberais continuam a achar, perante as evidências, que o mercado se auto-regula, se corrige a si próprio. Alguns vão mesmo mais longe, demitindo-se das suas competências políticas e legais e afirmando que o mercado resolve os nossos problemas. Foi assim que a maioria PSD na Póvoa disfarçou a sua incompetência em matéria de falta de um plano de mobilidade sustentável e de um sistema de transportes públicos, moderno, de base intermunicipal e amigo do ambiente…
Mas, como questiona Ruben de Carvalho, “independentemente da imoral indiferença face aos custos sociais da situação e do seu possível agravamento, tais teóricos, em nome da “auto-regulação”, evitam o médico quando estão doentes?...”

O EXEMPLO DE EANES


1.300.000 euros é muito dinheiro. Diz Fernando Madrinha e eu concordo.

Pois… Ramalho Eanes tinha direito a essa quantia e prescindiu de a receber!

Eanes tinha direito a receber os retroactivos de uma reforma que não foi paga durante décadas. Colocado perante a questão de a receber ou não o que lhe era devido por direito, Eanes disse que não a dinheiro que vinha do Estado. E, como também lembra Madrinha, o dinheiro do Estado, sendo dinheiro de todos, é muitas vezes encarado como dinheiro de ninguém, assim se condescendendo ou desculpando os abusos.
Eanes tinha direito a receber o que não era propriamente uma bagatela…e disse que não!
Eis um exemplo de cidadania e de grande elevação, a confirmar que, muito para além da Ética, ainda há lugar para a generosidade!

Perante tal exemplo de desprendimento, num país com inúmeros problemas, é impossível não fazer a comparação com o assalto aos lugares rendíveis das empresas púbicas, do estado e dos municípios, da acumulação de funções, tantas vezes simuladas, que rendem milhões aos seus praticantes… É impossível não olhar em volta e constatar que, mas, mais grave ainda, é existirem casos de abusos demonstrados, com os prevaricadores na mais impávida das impunidades políticas e legais!
Por cá, no lado oposto de Eanes, o lider da maioria absoluta que governa a Póvoa de Varzim dá um exemplo diferente.
Em 29 de Setembro de 2005, o Inspector Superior Principal da IGAT, na sequência da investigação solicitada pelo Partido Socialista propôs, em síntese, os seguintes procedimentos:
- levar ao conhecimento do Gabinete de Sua Excelência o Senhor Conselheiro Procurador-Geral da República, a matéria constante da informação produzida bem como os autos, atendendo aos antecedentes do processo e para os fins tidos por convenientes;
- remeter a mesma informação ao Sr. Presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, para efeitos de, entre outras coisas, proceder às devidas e legais reposições a favor dos cofres da Autarquia.
Esta informação, respeitante ao Processo n.º S.P.131300-3/2004, foi comunicada ao Presidente da Câmara em 17 de Outubro de 2005 (ref.07759), como consta da Certidão da Informação n.º 278/2005 passada pelo IGAT em 20.12.2005.
Há quase um ano, questionado sobre se já havia devolvido aos cofres do Município que governa as verbas que, segundo a IGAT foram recebidas indevidamente, esconde-se na mudez e uma mudez assim é comprometedora!


Entretanto, a terra gira sobre si própria, dia após dia, distraída pela indiferença generalizada.
Silêncio atrás de silêncio, se um dia destes, alguém arranjar uma qualquer habilidade jurídica para passar a borracha sobre este abuso, não ficarei surpreendido!
Contudo, o exemplo radical de Eanes não precisa de ser seguido à letra…
Já seria bom cumprir o dever de devolver o que não nos pertence!

15 setembro 2008

PENSAMENTO DE VANGUARDA

foto publicada em A Voz da Póvoa, edição de 2008.09.10





O homem do leme rodou três vezes e três vezes terá pensado com os seus botões:

"Porque é que para ver o que os outros vêem tenho de olhar ao contrário?"

"Será por isso que não entendo a Oposição?

13 setembro 2008

NOS BIGODES DO CAUDILHO




A pedido de um cidadão poveiro, escandalizado com tamnha falta de eficiência, publico as imagens que a sua câmara reteve em frente à outra Câmara, onde o Caudilho dormente é cada vez mais um sarilho na nossa vida.
O retrato poderia tirar-se noutros lugares da cidade. Mas, este é da Praça do Alamada, a mais recente obra do século, que briga pelo titulo com a outra, a da Avenida...Tanto lixo ali, "nos bigodes do Caudilho"...é caso para perguntar: de que vale para a Póvoa a acumulação de funções na presidência da Lipor do famoso Caudilho? E onde estava o pensamento quando contratou uma empresa privada para manter a Póvoa asseada e limpa?
Se é frequente este estado de coisas é porque há cada vez mais pessoas a aderir à recolha selectiva! Parabéns para essas pessoas! Mas, por isso mesmo, é indispensável aumentar a frequência da recolha junto dos eco-pontos que é da responsabilidade da angélica Câmara da Póvoa e da Lipor. "Elementar, meu caro Watson!"

07 setembro 2008

ATÉ UM BIFE MAL PASSADO PRECISA DE TEMPO



Sempre que me é pedido um trabalho em tempo impossível, argumento que o excesso de rapidez é inimigo da qualidade, porque até um bife mal passado precisa de tempo.

O tempo é indispensável para fazer Arquitectura, confirma Eduardo Souto de Moura na entrevista que concedeu ao Expresso esta semana.
Diz ele: (…) “O problema número um para mudar; não se pode continuar a fazer projectos com os prazos que os clientes impõem. Não é que não se consiga, o que se faz é mau. Copia-se tudo lá de fora, porque não se copia isso? Por exemplo, um projecto importante, num sítio importante, onde vão todos viver durante anos, que vai afectar muita gente, que custa mito dinheiro, e cá dão-nos um prazo de três ou quatro meses? Tudo atabalhoado. Depois diz-se: a obra resvalou. Uma mentira. O Estado e os clientes gostam de mentir a eles próprios. O português gosta de ser o “chico esperto”. A arquitectura é uma arte social que desenha espaços, mas a coisa mais importante para desenhar espaços é o tempo. É mais importante o tempo na arquitectura que o espaço. E lá fora, os projectos demoram o que for preciso, um ano, dois. E, se forem coisas complicadas em sítios públicos muito importantes, levam três anos, porque há um período de debate com maquetas, todas as câmaras têm um “stand” com os novos projectos, as pessoas fazem sugestões, vêm os partidos, as juntas de freguesia e o arquitecto vai anotando e mudando. E ando está tudo decidido, a construção é muito cara e então todo é detalhado ao milímetro e ninguém pode falar, nem o arquitecto pode ir à obra para não baralhar tudo. E a obra tem de andar muito rapidamente, seis ou sete meses. Aqui é contrário. Ou há eleições, ou porque vai chover no Inverno e é preciso começar no Verão, ou porque vamos perder averba da EU, os projectos são mal feitos. E como são mal feitos, têm pouca informação, levam o dobro do tempo. Depois há improvisos e isto dá um dispêndio de energia e financeiro brutal.” (…)