26 dezembro 2010

DO INCONFORMISMO NASCEM NOVOS PARADIGMAS

Jigme Singye Wangchuk


Um exemplo pouco conhecido que demonstra que há alternativa ao Capitalismo.
Um novo paradigma que, por certo, nem o economista Cavaco Silva nem tanta gente que nos quer convencer da inevitabilidade do modelo vigente, jamais proporiam!


Em 1972, o rei do Butão, pequeno país nas encostas do Himalaia, entre a China, a Índia e o Tibete, Jigme Singye Wangchuk declarou o fim da importância do Produto Interno Bruto como medidor do desempenho do país e proclamou a criação de um novo índice de mensuração de desempenho: "Felicidade Interna Bruta" (FIB).
A ideia principal deste conceito é a convicção de que o objectivo da vida não pode limitar-se a produzir e a consumir seguido de mais produção e mais consumo.
As necessidades humanas são mais do que materiais, e o fundamental é achar fidelidade no percurso da vida.
O Butão possui algo único no mundo que todos os países deveriam imitar. Para os governantes o que conta prioritariamente não é o PIB medido por todas as riquezas materiais e serviços que um país ostenta, mas a Felicidade Interna Bruta. E isso só pode resultar das políticas públicas, da boa governança, da equitativa distribuição do rendimento que resulta dos excedentes da agricultura de subsistência, da criação de animais, da extracção vegetal e da venda de energia à Índia, da ausência de corrupção, da garantia geral de uma educação e saúde de qualidade, com estradas transitáveis nos vales férteis e nas altas montanhas, mas especialmente fruto das relações sociais de cooperação e de paz entre todos.
A economia que, no modelo neo-liberal, é o bezerro de ouro, passa a ser apenas um dos itens no conjunto dos factores a serem considerados. Por detrás deste projecto político funciona uma imagem multidimensional do ser humano. Entende o ser humano como um nó de relações orientado em todas as direcções, que possui fome de pão, como todos os seres vivos, mas que é movido principalmente pela fome de comunicação, de convivência e de paz que não podem ser compradas no mercado ou na bolsa. A função do governo é atender à vida da população na multiplicidade de suas dimensões, tendo em conta as 73 variáveis que mais contribuem para o objectivo de atingir a o bem-estar e a satisfação com a vida, abrangidas por nove itens gerais: 1. Bom padrão de vida económico; 2. Gestão equilibrada do tempo; 3. Bons critérios de governança; 4. Educação de qualidade; 5. Boa saúde; 6. Vitalidade comunitária; 7. Protecção ambiental 8. Acesso à cultura; 9. Bem-estar psicológico.
Na inigualável compreensão que a Carta da Terra elaborou da paz, esta "é a plenitude que resulta das relações correctas consigo mesmo, com outras pessoas, com outras culturas, com outras vidas, com a Terra e com o Todo maior do qual somos parte".

A lei do sistema dominante é: quem não tem, quer ter; quem tem, quer ter mais e para quem tem mais nunca é suficiente. Mas, a felicidade e a paz não são construídas pelas riquezas materiais e pelas parafernálias que nossa civilização materialista e pobre nos apresenta. Este modelo depredador vê no ser humano apenas o produtor e o consumidor; o resto não lhe interessa. Por isso há tantos ricos desesperados, jovens de famílias abastadas que se suicidam por não verem mais sentido na superabundância.
Esquecemos que o que traz felicidade é o relacionamento humano, a amizade, o amor, a generosidade, a compaixão e o respeito, realidades que valem, mas não têm preço.
O dramático está em que esta civilização humanamente pobre está acabando com o planeta no afã de ganhar mais, quando o esforço seria o de viver em harmonia com a Natureza e com os demais seres humanos.
O Butão dá um belo exemplo desta possibilidade.
Sábia foi a observação de um pobre que comentou: "Aquele homem é tão pobre mas tão pobre que tem apenas dinheiro". E era notoriamente infeliz.

24 dezembro 2010

O que nunca se engana, mas que nos vai enganando...

O economista (que como a maioria deles é muito lesto a explicar o que falhou) não previu,: ele fez! Ele nunca se engana e raramente tem dúvidas. Foi por isso que ajudou a destruir a agricultura e as pescas no nosso país. Ele sabia que, desse modo, preparava a dependência estrutural de Portugal e a crise que hoje se vive! Ele não previu isso há sete anos num qualquer escrito publicado em papel de jornal. Ele construiu isso...ele é parte da construção que nos desconstrói. Seria hilariante, se não fosse penosa a situação do povo, a súbita descoberta de Aníbal pelo mar luso depois de ter distribuído dinheiro europeu para abater barcos e trespassar o fruto das nossas águas para os espanhóis.


Quando Miguel Cadilhe disse que Cavaco Silva era o pai do monstro pecou por defeito. O candidato presidencial Cavaco Silva é ele próprio a representação viva do monstro. Assim diz o Jumento e eu concordo!

19 dezembro 2010

Ora, ora...




A arrumar papéis encontrei um recorte do Comércio da Póvoa. Na página 6 da edição de 11/9 do ano da Graça de 2008, José Macedo (no seu estilo habitual) e José Sócrates (dentro de um elegante fato provavelmente Armani) partilham sorrisos (o de José de Cá mais efusivo que o de José de Lá).
Eis então que o José de Cá terá exclamado “Continue com esse espírito reformador, Sr. Primeiro -Ministro. O país saberá compreender”.
Parênteses: o país não está a compreender mesmo nada! Deve ser estúpido! Está manso, é verdade... Mas também a mansidão pode ser mau sinal...
Voltemos ao recorte. Segundo a jornalista, terá sido assim que o José de Cá se dirigiu ao José de Lá. Entre elogios ao trabalho do Governo e às políticas, com muitas das quais concorda, terá dito: “O Sr. Primeiro-Ministro defende alguns princípios que eu defendo como o do utilizador /pagador e o do poluidor/pagador. Tem algumas qualidades que não são muito comuns nos políticos: é um homem corajoso, trabalhador, organizado”.
Pois é…é esse “princípio” (falso e nada universal como deve ser todo o princípio, digo eu) do utilizador/pagador que nos leva a pagar duas vezes a mesma coisa (pelos impostos para que se faça a coisa e pela utilização da coisa) e que a estender-se na sociedade contra o contrato social que demorou centenas de anos a conseguir, e que é uma conquista civilizacional, às mãos de gente assim pode vir a transformar uma sociedade baseada na solidariedade e na coesão numa mercearia, em que só tem acesso aos bens e serviços (até os mais básicos) quem os puder pagar!
Ao contrário, já quanto ao princípio do poluidor/pagador, eu junto também o meu José. E aproveito para sugerir que o José de Cá e o José de Lá paguem pela poluição política e intelectual com que estão a tramar a vida dos portugueses, enquanto a banca e a especulação bolsistas vai acumulando à custa dos povos e das nações!