16 setembro 2010

UM PORTO DE ESPERANÇA



Na edição desta semana do jornal A VOZ DA PÓVOA...
Silva Garcia está de regresso à luta política como mandatário concelhio da candidatura de José Luís Carneiro à Federação Distrital do PS/Porto.
As eleições estão marcadas para os dias 8 e 9 de Outubro.
A par da amizade pessoal que o une ao candidato José Luís Carneiro, Silva Garcia defende uma mudança de rumo dentro do próprio PS e fala da difícil situação que o País atravessa e que se reflecte numa sociedade socialmente cada vez mais desfragmentada.
A ENTREVISTA


VOZ DA PÓVOA
A par da amizade pessoal que o une ao candidato José Luís Carneiro, o que o motivou a ser mandatário desta candidatura na Póvoa de Varzim e que trabalho é possível desenvolver junto dos militantes socialistas?
J.J.SILVA GARCIA
Vivemos um tempo de incertezas, de tristeza e dificuldade para a maioria, sobretudo para os mais frágeis. Um tempo de permanente ameaça à dignidade da pessoa humana, de derivas da democracia, em que alguns, por mera irresponsabilidade ou por interesse próprio, tudo fazem para transformar a sociedade num imenso mercado. E, pelo contrário, ela deveria ser construída sobre pilares de solidariedade.
Está assaz comprovado que um tal modelo tem servido para aumentar a fortuna de uma minoria insaciável, ao mesmo tempo que está a levar à ruína os estados e ao desespero as pessoas e as famílias que têm menos posses, roubando-lhes a dignidade humana. E está a esticar-se a corda, numa inconsciência perigosa sobre as consequências que o desespero pode vir a causar.
Como diria Manuel Alegre, é preciso desarrumar um pouco as coisas sossegadas. Por isso, é preciso recuperar, também dentro do Partido Socialista, sem hesitações, numa nova dinâmica, os seus valores e princípios fundadores e a ética republicana do serviço público. Só assim é possível responder com eficácia às questões que atrapalham e magoam o quotidiano das pessoas. Essa renovação também passa pelo nosso distrito, por um Porto de Esperança. E passa por deixar fluir os ventos da modernidade inspirados pelo desejo fundamental de que a felicidade humana deve ser o objectivo de uma nova Política que recuse ser refém da economia, mas que a organize e utilize para as pessoas e não contra as pessoas, deixando de se fazer em nome de números impostos sem explicações, e calculados por causa de interesses contrários ao bem comum.
É isto que se pretende partilhar com os militantes do PS e com os cidadãos em geral.
Há pessoas no PS que estão inconformadas com uma prática que dá vantagens ao mesmo bloco central de interesses responsável pela crise que se vive hoje. Pessoas que entendem que é preciso combater o que, muitas vezes, se limita a alimentar aquela coisa manhosa das “quotas político partidárias” que distribui lugares nas empresas públicas ou nas empresas privadas com ligações privilegiadas ao poder político. Mas, pessoas que entendem, sobretudo e em primeiro lugar, que é indispensável construir um novo modelo económico e social mais justo e progressista centrado nas pessoas e colocando ao serviço da sua felicidade todos os instrumentos que a civilização vem criando. Isso só é possível se se romperem as cumplicidades que tornam refém a capacidade de discernir e decidir livremente.
Neste contexto, une-me a José Luís Carneiro um projecto de sociedade assente em valores humanistas, com ideologia e sem ambiguidades e uma condição de uma cidadania indispensável assente na mesma capacidade inconformista e no mesmo destino de sonhar e tentar construir um mundo melhor.
VOZ DA PÓVOA
Há muito tempo que a distrital do PS não é disputada por dois candidatos fortes. O José Luís Carneiro, autarca de Baião, um nome emergente na política nacional, e o Renato Sampaio, um dos históricos do partido. Enquanto socialista, o que pensa destas duas candidaturas e que perspectivas tem para o desfecho deste acto eleitoral.
J.J.SILVA GARCIA
O que conheço da postura e do percurso de JLC faz dele o rosto certo de uma candidatura que mobiliza muitas outras pessoas para a renovação indispensável do PS, no Porto e a partir do Porto. É disso que me interessa falar.
Além de uma sua sólida formação na área das ciências políticas, ele é protagonista de uma nova geração de Presidentes de Câmara que, tendo conquistado o poder, mantém o inconformismo e o exerce à esquerda da indiferença, continuando a pensar para além do imediato e do lugar, alimentando o processo reflexivo e impelindo-nos ao debate aberto sobre as causas dos dramas humanos e a urgência de soluções globais.
Tenho a impressão de que a sua visão alargada das coisas e do mundo o inspira na gestão local, mas, por maioria de razão, também nas tarefas mais amplas que puder desempenhar, não ficando à espera de se criarem as condições favoráveis para agir no quotidiano.
Além disso, está treinado em ouvir os outros e em trabalhar em equipa, porque a sua dimensão ética e política o fez perceber há muito os limites do poder, reconhecendo-se no papel empenhado e na responsabilidade inalienável da Política como serviço público, como espaço de pensamento e de acção com vista ao bem comum!
Julgo que é disto que todos precisamos.

VOZ DA PÓVOA
De forma indirecta, não obstante a sua participação cívica no blog CA70 (que penso que ainda mantém), ser mandatário desta candidatura não deixa de reflectir uma espécie de regresso à política activa. Está nos seus horizontes voltar à política e, em caso de indecisão, que factores podem influenciar? Por outro lado, tem sido proveitoso esta espécie de "retiro sabático"?
J.J.SILVA GARCIA
Mesmo influenciando pouco o que acontece à minha volta, preferi sempre mais agir do que ficar a ver. Assim, fui intervindo na vida da cidade na medida das minhas capacidades e possibilidades desde o tempo de estudante. E intervim durante os últimos dois anos, mesmo que aos olhos da generalidade das pessoas eu tivesse desaparecido de cena. É verdade que renunciei ao cargo autárquico para que fui eleito depois de um conjunto de factos que me magoaram e trouxeram desânimo. E é verdade que, depois disso, quis atravessar o deserto. Mas, se por aqui estive em silêncio, não estive parado nem indiferente. Regressei a um espaço onde me sinto bem. Voltei à escrita como instrumento de intervenção, que serviu para reviver experiências e para reflectir. Isso acabou por se transformar no quase romance “Nuvem de Fumo”, que publiquei recentemente, e que fala de ideias, contando uma história. O texto é inconformista, revela perplexidades e convicções e denuncia um estado de coisas insustentável. Mas é sobretudo um espaço de proposição, porque foi escrito com vontade de contribuir para a mudança necessária. É um livro de política, que fala de política, ou seja, dos assuntos da polis, através de um enredo ficcional inspirado em fragmentos da realidade. Percorre as tramas que envolvem o modo como são escolhidos os candidatos e os interesses económicos que os sustentam e denuncia o tráfico de influências e a manipulação do poder decisório que ameaça a democracia. Mas, ao mesmo tempo, é uma espécie de manifesto a favor da cidade, da ecologia e do desenvolvimento sustentável.
Na verdade, há muitos modos de fazer cidadania. Publicar este livro, por exemplo, confirma que, no fundo, me tenho mantido na acção política.

EVIDENTEMENTE

Foto Henriques da Cunha/Global Imagens, publicado no JN

A lucidez também percorre alguns sectores da Igreja...Bem haja!
Igreja diz que é "indecente" o actual modelo económico

O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social considerou "indecente, injusto, desigual e desproporcionado" o actual modelo económico, porque "agrava a pobreza e a exclusão social". D. Carlos Azevedo defendeu por isso uma revisão desse modelo.
"Não são as pessoas que estão ao serviço da economia, mas a economia ao serviço das pessoas e dos povos, ao serviço do bem comum sem deixar de lado os vulneráveis. O capitalismo fez muitas vezes da mão-de-obra mera mercadoria", disse o responsável durante a sessão de abertura da XXVI Semana da Pastoral Social que termina amanhã em Fátima.
Segundo D. Carlos Azevedo, "há uma cultura de individualismo exacerbada" que tem de ser "contrariada", defendendo que "só com modelos humanistas" se poderá ultrapassar a crise económica e traçar caminhos de futuro.
"Não vamos aqui dar recados ao Governo", garantiu o prelado, admitindo que está "ultrapassada a fase de qualquer jogo político".
"Como se tem verificado, a secularização não baixa com políticos de centro-direita", disse ainda, sustentando que "os princípios morais têm de estar inscritos no coração das pessoas".
Lembrando que os cristãos são chamados a "reinventar o espaço público como lugar de deliberação e de diálogo em comum", o responsável garantiu que a Igreja "não abdicará dessa intervenção política, decorrente do modo cristão de estar na sociedade".
Respostas à crise
D. Carlos Azevedo admitiu que as organizações de apoio social da Igreja estão a ter dificuldades em dar resposta aos pedidos de ajuda decorrentes da crise.
"Estamos a ter algumas dificuldades. Sabemos que, no caso de Portugal, porque é aqui que nos situamos, há alguma situação também de aperto financeiro da parte do próprio Governo", disse o responsável.
Considerando que os portugueses "são generosos", mas têm "muito pouco o hábito da partilha" - pois "só em momentos de catástrofes é que partilhamos os bens" -, o bispo auxiliar de Lisboa defendeu a necessidade de "todos, sobretudos aqueles que ganham muito, partilharem melhor os bens".
O presidente da Cáritas reforça esta ideia, mas lembra que "há pessoas a dar daquilo que lhes faz falta e não só o excedente". "O que me parece é que na dádiva material nós somos um povo bastante emotivo, reagimos muito, somos menos pró-activos", referiu.
Segundo Eugénio Fonseca, o português reage "mais pelos acontecimentos, emoções e pelo imediatismo", porque "é mais sensível nessa área". "Não temos uma cultura de solidariedade sistemática, mas quando é necessário temos sabido responder" disse.
O responsável diz ainda que, mais do que com a dádiva material, está preocupado com "o baixo índice de participação dos portugueses na vida pública". "Aí é que me parece que devíamos fazer um trabalho, porque somos pouco críticos", frisou, lembrando que "a solução dos problemas não depende só dos governos".