UM PASSO DE CARANGUEJO
À mesma hora, mas longe da Póvoa, a distância mais do que suficiente para olhar as coisas sem o ruído das conveniências e dos caprichos do poder, sadiamente à margem dos estonteantes festejos que manipulam as consciências, é preciso romper o silêncio para dizer o que alguns ignoram por desleixo e outros escondem por teimosia e irresponsabilidade.
Do ponto de vista do modelo de cidade numa perspectiva de Desenvolvimento Sustentável, a construção do parque subterrâneo na Av. Mouzinho de Albuquerque é um erro crasso.
Nas diversas intervenções públicas que fiz e nos textos que a propósito escrevi ao longo dos últimos cinco anos, e que deixaram perguntas cruciais sem resposta dos gestores da cidade, afirmei o que é uma evidência para quem estuda o fenómeno urbano e está atento às transformações e às tendências de mobilidade nas cidades e do seu papel estruturante no planeamento e gestão do território.
Mas, não fiquei pela afirmação, demonstrei o que dizia!
O problema da Póvoa e da generalidade das nossas cidades não é o estacionamento automóvel, mas a falta de um sistema de mobilidade sustentável, assente em grande medida na utilização de transportes públicos modernos e eficazes. Quando estes existem, verifica-se que menos carros esmagam o centro da cidade, que há mais fluidez e mais segurança, que há menos poluição sonora e química e, claro, menos necessidade de consumir espaço para o aparcamento de automóveis particulares.
Em síntese, a construção no coração da cidade de um parque para 600 automóveis e o adiamento da implementação de um novo paradigma de mobilidade sustentável, amigo das pessoas e do ambiente, assente, entre outras medidas, num Plano de Mobilidade Sustentável e na criação de uma rede de transportes públicos moderna, intermodal, de base intermunicipal (com percursos bem estruturados, com veículos pequenos, ágeis e não poluentes, com um sistema de bilhética e de preços socialmente justa, capaz de oferecer conforto, regularidade, pontualidade e rapidez), são duas opções políticas que vão contra todas as orientações em matéria de mobilidade propostas pela União Europeia (o QREN diponibiliza milhões de contos apara apoiar os transportes públicos e o Município da Póvoa não mexe uma palha para se candidatar…), dos programas europeus CIVITAS e ELTIS e das universidades. Mas, a construção de um e o adiamento da resolução dessa questão estrutural vão, sobretudo, contra a prática de racionalidade que hoje acontece nas melhores e mais humanizadas cidades da Europa.
Vão contra e acontecem numa época em que o custo dos combustíveis fósseis não para de aumentar. Em Portugal, os preços da gasolina e do diesel subiram mais de vinte vezes no primeiro trimestre deste ano, afectando gravemente as empresas. Com reflexos nos preços dos restantes produtos e nos serviços, ameaçam ainda, mais e mais, os parcos orçamentos familiares, que vêm uma fatia progressivamente maior ser absorvida com a utilização do automóvel privado nas deslocações para o trabalho.
Muitas dessas pessoas, na ausência de transportes públicos como alternativa de mobilidade, correm sérios riscos de não poder desfrutar do direito essencial da mobilidade e do acesso aos bens da urbanidade.
Foi com convicção fundamentada que defendi a requalificação urbanística do espaço público e das infra-estruturas da Avenida Mouzinho (o desenho urbano poderia ser outro, mais naturalizado e propiciador de maior conforto, se não houvesse o subterrâneo como condicionante…).
Do ponto de vista do modelo de cidade numa perspectiva de Desenvolvimento Sustentável, a construção do parque subterrâneo na Av. Mouzinho de Albuquerque é um erro crasso.
Nas diversas intervenções públicas que fiz e nos textos que a propósito escrevi ao longo dos últimos cinco anos, e que deixaram perguntas cruciais sem resposta dos gestores da cidade, afirmei o que é uma evidência para quem estuda o fenómeno urbano e está atento às transformações e às tendências de mobilidade nas cidades e do seu papel estruturante no planeamento e gestão do território.
Mas, não fiquei pela afirmação, demonstrei o que dizia!
O problema da Póvoa e da generalidade das nossas cidades não é o estacionamento automóvel, mas a falta de um sistema de mobilidade sustentável, assente em grande medida na utilização de transportes públicos modernos e eficazes. Quando estes existem, verifica-se que menos carros esmagam o centro da cidade, que há mais fluidez e mais segurança, que há menos poluição sonora e química e, claro, menos necessidade de consumir espaço para o aparcamento de automóveis particulares.
Em síntese, a construção no coração da cidade de um parque para 600 automóveis e o adiamento da implementação de um novo paradigma de mobilidade sustentável, amigo das pessoas e do ambiente, assente, entre outras medidas, num Plano de Mobilidade Sustentável e na criação de uma rede de transportes públicos moderna, intermodal, de base intermunicipal (com percursos bem estruturados, com veículos pequenos, ágeis e não poluentes, com um sistema de bilhética e de preços socialmente justa, capaz de oferecer conforto, regularidade, pontualidade e rapidez), são duas opções políticas que vão contra todas as orientações em matéria de mobilidade propostas pela União Europeia (o QREN diponibiliza milhões de contos apara apoiar os transportes públicos e o Município da Póvoa não mexe uma palha para se candidatar…), dos programas europeus CIVITAS e ELTIS e das universidades. Mas, a construção de um e o adiamento da resolução dessa questão estrutural vão, sobretudo, contra a prática de racionalidade que hoje acontece nas melhores e mais humanizadas cidades da Europa.
Vão contra e acontecem numa época em que o custo dos combustíveis fósseis não para de aumentar. Em Portugal, os preços da gasolina e do diesel subiram mais de vinte vezes no primeiro trimestre deste ano, afectando gravemente as empresas. Com reflexos nos preços dos restantes produtos e nos serviços, ameaçam ainda, mais e mais, os parcos orçamentos familiares, que vêm uma fatia progressivamente maior ser absorvida com a utilização do automóvel privado nas deslocações para o trabalho.
Muitas dessas pessoas, na ausência de transportes públicos como alternativa de mobilidade, correm sérios riscos de não poder desfrutar do direito essencial da mobilidade e do acesso aos bens da urbanidade.
Foi com convicção fundamentada que defendi a requalificação urbanística do espaço público e das infra-estruturas da Avenida Mouzinho (o desenho urbano poderia ser outro, mais naturalizado e propiciador de maior conforto, se não houvesse o subterrâneo como condicionante…).
Mas, foi com igual convicção que sempre me opus veemente à construção deste enorme parque de estacionamento automóvel, que não vem resolver o problema essencial e tende a acentuar o efeito negativo da existência de excesso de carros no centro da cidade. E, ao contrário do que foi anuniado, também não servirá a vida de muitos que trabalham no centro da cidade que, terão parque de estacionamento a mais de cinco euros por dia, mas, no actual quadro, acabarão por deixar o carro em casa ou nalgum lugar gratuito que encontrem longe do centro...E, por demissão política e das competências legais do Município, não terão alternativa à utilização de veículo próprio para se deslocarem.
Recentemente, transbordando arrogância, Macedo Vieira repetiu-se: “(…)Todos os poveiros estão convidados para essa inauguração. Por isso, se os socialistas quiserem ir, que apareçam, mas, tal como diz o povo, se tiverem vergonha não deviam aparecer.”
Pela parte que me toca, não aparecerei! Não porque tenha qualquer motivo de que me envergonhe, mas porque recusei e recuso ser cúmplice de um passo de caranguejo, de um disparate urbanístico, que atrasa, senão mesmo bloqueia, o novo e indispensável paradigma de mobilidade urbana que o nosso tempo exige!
O formidável Presidente - que um dia me disse ter disparado para o ar a ideia do parque subterrâneo por mera provocação, que a seguir a transformou num capricho obsessivo e, depois, numa oportunidade de investimento para uma empresa privada, reduzindo ao mesmo tempo as receitas que o Município ia obtendo com o aparcamento à superfície (em 40 anos de concessão, são muitos milhões de euros…) - não terá vergonha por motivo diverso, porque carece da consciência do seu rasto. E não terá vergonha, mesmo que um dia passe mais luz na intimidade do seu Gabinete, porque nos habituou a não ter humildade para reconhecer publicamente as suas falácias.
Recentemente, transbordando arrogância, Macedo Vieira repetiu-se: “(…)Todos os poveiros estão convidados para essa inauguração. Por isso, se os socialistas quiserem ir, que apareçam, mas, tal como diz o povo, se tiverem vergonha não deviam aparecer.”
Pela parte que me toca, não aparecerei! Não porque tenha qualquer motivo de que me envergonhe, mas porque recusei e recuso ser cúmplice de um passo de caranguejo, de um disparate urbanístico, que atrasa, senão mesmo bloqueia, o novo e indispensável paradigma de mobilidade urbana que o nosso tempo exige!
O formidável Presidente - que um dia me disse ter disparado para o ar a ideia do parque subterrâneo por mera provocação, que a seguir a transformou num capricho obsessivo e, depois, numa oportunidade de investimento para uma empresa privada, reduzindo ao mesmo tempo as receitas que o Município ia obtendo com o aparcamento à superfície (em 40 anos de concessão, são muitos milhões de euros…) - não terá vergonha por motivo diverso, porque carece da consciência do seu rasto. E não terá vergonha, mesmo que um dia passe mais luz na intimidade do seu Gabinete, porque nos habituou a não ter humildade para reconhecer publicamente as suas falácias.
Resta-nos, ao menos, o desejo de que o parque venha a servir sobretudo aos residentes que, uma vez mais, por má gestão urbanística da cidade, não têm no prédio onde vivem aparcamento para as suas viaturas.
A proclamada “a obra do século” não passa, afinal, de uma “obra tubérculo”, apesar de nem todos os tubérculos serem subterrâneos.
Lisboa, 2008.Junho.28
Lisboa, 2008.Junho.28