ASSIM NÃO!
Depois das gaffes do Ministro da Economia (“a crise acabou”), do das Finanças (“o sistema bancário português não vai precisar de nenhuma intervenção financeira”) e do das Obras Públicas (aeroporto na margem sul, jamais!), a Ministra da Educação, Lurdes Rodrigues, ela própria professora em tempos, reage a quente à manifestação de sábado de forma que nem ao Diabo, que é mauzinho, se lembraria. Visivelmente transtornada, foi motivo de perplexidade para os que a viram na TV agitar-se contra os fantasmas que foi desenterrar do seu pânico. Como pode afirmar que uma manifestação de mais de 120.000 cidadãos pacíficos provoca “intimidação” e “chantagem”?
Na OPS – Revista de Opinião Socialista on-line, Manuel Alegre diz o que tem que ser dito:
(…) “Confesso que me chocou profundamente a inflexibilidade da Ministra e o modo como se referiu à manifestação, por ela considerada como forma de intimidação ou chantagem, numa linguagem imprópria de um titular da pasta da educação e incompatível com uma cultura democrática.
(…) “Confesso que me chocou profundamente a inflexibilidade da Ministra e o modo como se referiu à manifestação, por ela considerada como forma de intimidação ou chantagem, numa linguagem imprópria de um titular da pasta da educação e incompatível com uma cultura democrática.
Confesso ainda que, tendo nascido em 1936 e tendo passado a vida lutar pela liberdade de expressão e contra o medo, estou farto de pulsões e tiques autoritários, assim como de aqueles que não têm dúvidas, nunca se enganam, e pensam que podem tudo contra todos.
O Governo redefiniu a reforma da educação como uma prioridade estratégica. Mas como reformar a educação, sem ou contra os professores? Em meu entender, não é possível passar do laxismo anterior a um excesso de burocracia conjugada com facilitismo. Governar para as estatísticas não é reformar.” (…)
Assim não!
O choque do disparate político quase anula o choque tecnológico! Confesso que, como militante do Partido Socialista, também isto me magoa!
5 Comments:
Toda a gente sabe que a hipocrisia é abundante e característica comum da chamada classe politica, os conflitos entre o ministério da educação/governo do PS e os professores já tem barbas.
A grande manifestação dos professores no último fim de semana já não é a 1ª manifestação pública de grande dimensão e, que se saiba, anteriormente ninguém veio a terreiro criticar as posições da ministra.
Desta vez, todo o mundo ligado à "classe politica" e particularmente os do PS vêm criticar a ministra e as suas posições, porque será???
Não é dificil entender que 120 mil votos é muito voto, se calhar ainda acrescidos com outros tantos ou mais que resultam dos efeitos colaterais que a campanha negativa de tanta gente provoca nos eleitores que lhes estão mais próximos.
Pois é, as eleições legislativas estão cada vez mais próximas e, obviamente, a "classe politica" está a ficar cada vez mais mansa, não sendo de admirar se entretanto deixarem cair a ministra e as suas posições.
Pois é... lá continuamos a ter que conviver com anónimos!
Confesso que não compreendo tanta falta de carácter!!!
O comentário deste pode ter alguma razão de ser, mas não se aplica aos protagonistas deste post:
nem a mim, que não serei candidato a nada e tenho escrito outras críticas ao meu próprio partido no Ca-70 (pela simples razão de que não sou fanático, e uso a razão...);
nem a Manuel Alegre, que tem sido a consciência crítica do PS!
O que espanta são posições de gente à direita, como a José Miguel Júdice, que procura reduzir a manifestação a um golpe dos terríveis sindicatos, que os professores não querem nenhum sistema de avaliação (o que é uma mentira despudorada). Assim fica bem Sócrates. A seguir, baseando-se na opinião generalizada duns amigos professores que não têm nada a ver com essa coisa nojenta dos sindicatos, diz que lhe confirmaram que o modelo de avaliação contestado por 120.000 professores no passado sábado, é mesmo mau e que deve ser revisto!É o seu modo de ficar de bem com alguns professores, que são seus amigos...
Há tipos assim. Sempre em cima do muro.
De bem com Deus e com o Diabo.
Pelo menos, não se escondem atrás do anonimato.
Valha.nos isso!
Meu caro Silva Garcia:
Permita-me que discorde do conteúdo deste seu post.
É um direito e uma análise lógica o dizer-se que uma manifestação com aquele volume e aquela dose de histerismo é uma intimidação, uma chantagem. Diria mais: é uma tentativa de bloqueio!
A avaliação é ncessária. Os professores são os primeiros a reconhecer que é uma necessidade premiar os bons e penalizar os maus, sob pena de uma nivelamento pela mediocridade.
Que o método é discutível, que é passível de retaliações sectárias, de governamentalizações, admito-o.
Agora, na essência é útil e necessário. Só os desonestos intelectualmente não vêem tal desiderato!
Há que dialogar, na medida do possível, para evitar mau uso (abuso) na sua "praxis".
Mas que por detrás deste arruaceirismo há um aproveitamento político inequíovoco, um colher de dividendos na opinião pública isso há, só os ingénuos o não lobrigam.
Manuel Alegre, em quem votei, está a ir demasiado longe na sua ambivalência: com um pé dentro do partido, extrai dele todas as vantagens, inclusive mediáticas, com um pé fora, colhe dividendos para se unir a uma campanha que visa objectivos mais amoplos do que reivindicações meramente relacionadas com a Educação.
Não sou militante do PS, nunca o fui, mas é altura de Manuel Alegre dizer de uma vez por todos se tem CORAGEM para assumir a sua INDEPENDÊNCIA TOTAL ou quer continuar a parasitar o PS! atacando o partido em toda a linha, para colher dividendos noutra área...Janus, com dois rostos, ou saír do partido e assumir uma postura INDEPENDENTE, com os custos daí advenientes...
Há que tomar uma decisão, de uma vez por todas. Cavalos de Tróia há muitos por aí!...
Falo acima dos partidos, das seitas, dos calculismos. Não quero o poder, mas quem o visa, que use métodos mais sérios, mais corajosos, menos oportunistas!...
ASSIM, NãO!
Ai é aque a porca torce o rabo!
Caro Rouxinol
Claro que sim! Mas, mais do que permitir que discorde, agradeço a discordância, e sobretudo, a argumentação. Assim saímos todos mais ricos da conversa.
Agora diga-me: a intimidação e a chantagem têm que ver com a dimensão da manifestação? Se não fosse tão ampla, já não seria intimidatória nem instrumento de chantagem? Ou, pelo contrário, a dimensão é simplesmente o reflexo de um estado de coisas, de um verdadeiro mal-estar prejudicial à escola pública, aos alunos, ao país, a todos nós? Classificar desse modo uma manifestação pacífica, feita fora das horas do expediente – o que desmente as inúmeras tentativas de atribuir aos professores alegadas falta de empenhamento profissional… - não será antes um golpe de asa de alguém que não quer ver o óbvio, e passa a vida a apontar bodes expiatórios? Não será antes um truque baseado numa auto-vitimização que serve apenas para atrasar a verdadeira resolução dos problemas? Não será antes, hipocrisia política?
De uma vez por todas, ao contrário do que alguns teimam em fazer crer, é FALSO que os professores e as organizações que os representam não queiram qualquer modelo de avaliação! Se não for mais, basta consultar os sites dos sindicatos para ver que têm soluções alternativas (em alguns casos, até mais exigentes que as do Ministério, mas muito longe de serem tão burocráticas e com efeitos tão perversos…), que as discutem internamente e que já partilharam, em vão, com a tutela. O que os professores não querem é dedicar parte do tempo que deveriam destinar a dar aulas e de muito do seu tempo pessoal a preencher fichas e grelhas que, objectivamente não servem para nada, mas que estão a gerar um clima insustentável nas escolas!
Dos exemplos que conheço, e conheço alguns, não há, pois, qualquer tentativa de bloqueio. Pelo contrário. Apesar da discordância, tem sido feito um esforço brutal para tentar corresponder na implementação do sistema. Como não havia qualquer orientação concreta para o fazer por parte do Ministério, os professores, de forma empenhada, começaram cedo a construir os meios de aplicação da avaliação. Quando tinham tudo pronto, a Ministra entendeu que as coisas não estavam a ser bem feitas, atirou para o lixo centenas de horas de esforço pessoal e colectivo e, finalmente, decidiu fazer muito tardiamente o que devia ter feito inicio, que era promover sessões de formação das equipas que, em cada escola, seriam responsáveis pela definição das grelhas e dos critérios de avaliação…
Repito, apesar da discordância, os professores envolvidos deram o melhor de si.
Quem faz isso, não faz bloqueio!
O problema é que, apesar do empenhamento para tornar viável o que é disparatado, estão todos a confirmar que, na prática, o modelo é insustentável e deve ser reformulado!
É isso que está em causa para quem está no terreno e para quem está atento. Só não é para a Ministra, só não é para quem, de forma obstinada, não é capaz de reconhecer que na vida nem tudo é perfeito…e não tem humildade, nem coragem para aceitar as próprias imperfeições!
O que me preocupa é a solução à Jardim, como aquela de atribuir administrativamente a classificação de Bom a todos os professores. Isso sim, é uma forma de bloqueio, e nem sequer encapotada. Mas, preocupa-me também a forma como o Primeiro-Ministro, para combater o desagrado de pelo menos 85% dos professores portugueses, se aproveitou do facto para intoxicar a opinião pública, perguntando na TV se era o modelo de Jardim que os professores queriam, para a seguir dizer que para isso não estava disponível!
Daquilo que conheço, para isso também os professores não estão disponíveis. Por isso, sabendo-se que é assim, não vale a pena perguntar!
Ainda bem que admite que, entre outras perversidades, o método é discutível, é passível de retaliações sectárias e de governamentalização…
O diálogo foi uma bandeira do PS! É isso precisamente que, como cidadão, reivindico da Ministra da Educação. Mas, se não o quiser fazer por princípio ideológico, que o faça, pelo menos por inteligência, em nome do funcionamento das instituições com vista à qualificação da escola pública, e porque não é possível implementar qualquer reforma contra quem está no terreno e é preciso mobilizar para que tenha êxito. É que, o que se vê, como demonstrei, de um lado – o lado dos professores -, apesar do inconformismo, se faz um esforço por corresponder. E do outro – o lado do Governo do meu partido – se faz tudo para ganhar o campeonato da teimosia.
Não me leve a mal, mas considero que apelidar de “arruaceirismo” a manifestação do passado sábado não é o mais adequado.
Que há aproveitamento político da situação, ah isso há! Mas o Governo escusava de se pôr a jeito! Nada disto aconteceria se houvesse uma lógica verdadeiramente democrática e de inspiração humanista e socialista no modo de actuação do Ministério da Educação.
Manuel Alegre, em quem também votei, não estará a ir demasiado longe na sua ambivalência. Talvez esteja, antes, a tentar conciliar o coração com a razão, talvez ainda acredite que o Partido Socialista se pode reencontrar naquilo que é a sua essência…Talvez esteja a dar o exemplo da paciência que é preciso até que haja a lucidez de voltar aos valores socialistas… Podia, de facto, sair, mas, como tem dito, ainda acredita que é possível regressar à autenticidade.
Até quando? Não sei. O tempo e os acontecimentos o dirão.
Uma coisa é certa. Era o que faltava estar dentro do PS e não poder criticar o que, no PS, corresponde ao que parece ser uma deriva que nos retira identidade e nos faz confundir com outros. Foi também por causa de um património importante na defesa da liberdade de pensamento e de expressão que decidi aderir ao PS há uns anos atrás! Confesso que fico incomodado com o carreirismo e os comportamentos carreiristas que, por tiques de outrora, atacam as nossas organizações e, infelizmente, também perpassam, demasiadas vezes, o Partido Socialista.
Será que, por ter uma atitude crítica em relação ao grupo a que pertenço, isso implique que também devo deixar de lhe pertencer?
Excelente resposta, amigo!
É fundamental esclarecer BEM para BEM compreender!
Maria Nazaré
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