02 novembro 2008

YES, WE CAN!


Faltam dois dias para as eleições norte americanas!

Do fundo do poço que se seguiu à embriaguez colectiva que vem de longe e sempre teve na sua essência sinais inequívocos de vir a explodir num qualquer dia destes, mas que, indiferentes, deixamos erigir sobre brindes ao neo-liberalismo selvagem construído sobre o jogo da bolsa, eis que o mundo desabou aos pés de quem, durante quarenta nos acreditou na infalibilidade do sistema.
O Estado mínimo, que Greenspan propôs e Bush levou ao extremo, descendo os impostos sobre os mais ricos, cortando nos programas de apoio social – ao ponto de gerar o completo descontentamento em franjas tradicionalmente republicanas, como é o caso das comunidades dos índios… - e facilitando os negócios do grande capital, na verdade, assentava numa mentira colossal, a de que o mercado tem capacidade de auto-regulação.
Mas, não falhou apenas esta crença que gerou um modelo económico e social que não resolveu nenhum dos problemas essenciais da Humanidade. Falhou a noção ética dos negócios, a lembrança elementar de que a criação de riqueza tem uma finalidade social, como defendeu João XXIII e o Concílio do Vaticano Segundo. A riqueza não pode apenas aproveitar ao seu detentor, e a que é fundada na miséria alheia ou no endividamento de todos perante a banca acaba por dar origem à falência colectiva.
Diante de muitos olhares cúmplices e outros conformados, esta loucura neo-liberal foi montando um sistema económico à escala do planeta fundado na iniquidade e na falta de escrúpulos e de sentido de serviço à comunidade. E foi permitindo que o sistema financeiro se apoderasse da economia, que os lucros fantásticos acumulados não correspondessem a riqueza efectivamente criada, e que a economia real fosse engolida pela especulação de capitais. Na bolsa, os valores subiam e desciam, não em consequência do efectivo desempenho das empresas cotadas, mas dos jogos de bastidores e dos interesses dos especuladores, que, ainda por cima, não pagam impostos sobre as mais-valias realizadas.
No meio disto tudo, como qualquer outro produto de mercado em que há vantagem em investir, a guerra, de que é o exemplo mais denunciador a invasão do Iraque – não me esqueci das alegadas provas de armas de destruição maciça inventadas pela administração Bush, as mesmas que Durão Barroso terá visto e depois reconheceu não existirem afinal… -, tem sido terreno fácil e oportunidade para alguns arrecadarem milhões à custa de mais miséria e mais tragédia humana!

Como podem uns quantos, com responsabilidades políticas, em regimes de representação democrática, ser cúmplices dos que, por simples ambição, destroem os empregos e as pensões de reforma de tantos outros que trabalharam toda uma vida, confiados na honestidade do sistema?
Há quinze dias atrás, José Saramago avançava com a mesma convicção dos malefícios deste sistema que, hoje, com voz inconformada, Miguel Sousa Tavares – por certo num lugar ideológico diferente - vem confirmar: não estamos apenas perante o falhanço de uma teoria económica. Mais do que isso, estamos diante de um crime contra a humanidade! “Milhões de pessoas em todo o mundo estão já a sofrer as consequências da falta de pudor e de escrúpulos de alguns milhares de agentes económicos colocados em lugares privilegiados.”

Faltam dois dias para as eleições norte americanas!
Barak Obama não tem uma varinha mágica para mudar o mundo, mas o mundo passará a ser um pouco diferente depois de terça-feira, se for eleito Presidente dos Estados Unidos.
É provável que haja mais realismo e menos a irresponsabilidade delirante dos últimos anos. É provável que a relação entre o Ocidente e os muçulmanos passe a uma fase de menor crispação e de maior capacidade para o diálogo. O facto de ser eleito um americano de origem africana retirará espaço aos que promovem o choque de civilizações. Em Cuba há a esperança de um novo tempo com Obama e, também é provável que melhorem as relações com o Irão, desvanecendo-se, ainda, as tontas ameaças à Rússia desferidas pelo republicano McCain.
Por outro lado, quem acredita num Estado amigo dos cidadãos e numa economia menos iníqua, mais honesta e menos entregue à lei da selva…quem acredita na importância de uma América menos arrogante e menos egoísta, tem na eleição de Obama motivos para uma nova esperança.
Depois dos Estados Unidos tentarem impingir ao mundo um modelo económico suicidário e depois da forma desastrosa como a administração Bush reagiu ao 11 de Setembro, o “status quo” dos últimos trinta anos está em causa. Como defende Daniel Monteiro, Obama não será a causa da mudança que se exige. Ele é já a consequência de uma mudança inevitável que está no terreno e que será imparável se quisermos, de novo, viabilizar um mundo mais justo.

Faltam dois dias para as eleições norte americanas!
God bless Obama!”

2 Comments:

Blogger Manuel CD Figueiredo said...

Desde 1945 (fim da 2ª Guerra Mundial), apenas um presidente americano -Jimmy Carter- não envolveu o seu país em acções de combate. Essa foi a excepção, já que é normal os EUA estarem sempre envolvidos em duas zonas de batalha.
Espero que Obama consiga reduzir esse nível bélico, a bem da paz no mundo. Creio que isso será possível.
Na vida interna, Obama irá reduzir as enormes desigualdades sociais entre os americanos. Isso terá, necessariamente, um reflexo no exterior.

"Votei George W.Bush na primeira eleição, por causa do 'efeito' Clinton. Já não votei nele para o segundo mandato. Tenho vergonha do meu presidente".

Estas palavras foram-me ditas, em resposta, por uma amiga americana, no início das "primárias". E porque me conhece bem, desde há alguns anos, acrescentou: "sei o que pensas sobre o meu país, como gostas de nós, e como compreendes a influência que os EUA podem ter aí, na Europa e no Mundo. Também compreendo os teus receios, que a História nos lembra. Mas fico feliz por desejares que Obama venha a ser o nosso próximo presidente".

02 novembro, 2008 22:45  
Anonymous Anónimo said...

Comungo dos anseios e da luz que este Homem poderá trazer. Mas infelizmente não acredito que ele possa vir a corresponder ao que o mundo, principalmente o mais desigual, espera. Está em causa uma sociedade mais conservadora do que se julga, minada por interesses religiosos , rácicos e nacionalistas, que não mudarão fácilmente.Ainda mais quando neste momento ainda se duvida ou, aliás, não se tem dúvida que as próprias eleições poderão ser viciadas.Não seria a 1ª vez.Espero que o meu péssimismo seja mesmo só isso.

03 novembro, 2008 19:22  

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