29 maio 2006

AGITAÇÃO PATÉTICA

Escher 1946
Um dia antes de 28 de Maio, aos microfones de uma rádio local, o Caudilho saudou a Ditadura, voltando a enxovalhar a Oposição socialista, ao usar a mais gratuita e azeda maledicência!
Numa agitação patética, o linguarejar iníquo, indigno de um responsável institucional, ocupou quase completamente os sessenta minutos da entrevista, não deixando minuto que fosse nem serenidade que pudesse ser, para falar do que interessa verdadeiramente aos Poveiros.
Entremeou o parlatório com um fingido desabafo. "Não vou gastar cera com fraco defunto", atirou uma vez, repetiu a seguir e disse-o de novo. De cada vez que o dizia, traía-se de imediato, regressando ao jogo de atirar pedras aos que lhe apetecia que fossem defuntos, mas que, por ironia da vida, não o são. Obcessivo, gastou colmeias de cera, incontroladamente...

É por isso que se torna útil este exercício simples: porque andará o Caudilho tão nervoso e tão agressivo com os Socialistas?

O arquétipo da política paroquial GOSTARIA de impedir os Socialistas de fazerem propostas e recomendações, porque, no seu entender, é ELE quem manda, foi ELE quem ganhou as eleições e não os outros!
Limitações de natureza incógnita impedem-no de perceber a vantagem em ouvir os outros, em aproveitar deles o entusiasmo e a sua vontade de colaborar na construção soluções!
Com esta birra de maioritário complexo (de inferioridade?) arrecada o efémero de umas libras de poder, por troca de obrigar a Póvoa a perder a vantagem que nasce de juntar sinergias!

Caudilho, à moda antiga, envenenado por irreprimíveis e sanguíneas tendências autoritárias, GOSTARIA também de impedir os Socialistas de conhecer o que se passa nos bastidores da Casa Grande!
Há coisas que lhe não convém que se saibam: por exemplo, quem recebe, verdadeiramente, as milionárias horas extraordinárias e porquê. Por isso se enerva tanto com os Requerimentos e os pedidos de Informação.
Veja-se outro exemplo. Há algum tempo atrás, quando instado a revelar quanto ganhava na Varzim Lazer, o Caudilho dizia que nada recebia. Os Poveiros acreditaram. Depois foi dizendo que eram apenas umas senhas de presença. Os Poveiros voltaram a acreditar. Os Socialistas fizeram um Requerimento, pediram informação por escrito. O próprio e a empresa municipal tentaram uma fuga em dó menor. A Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos obrigou-os a cumprir a Lei e a responder. Ficamos a saber que, afinal, por cada reunião o Caudilho recebia uma senha de presença de 249,00 € (quase um ordenado mínimo nacional!), e que somou alguns milhares de contos de senhas de presença! Peanuts!

Ninguém gosta que lhe descubram a careca!
O Caudilho é como toda a gente!
Além disso, não está habituado a contrariedades, ao confronto olhos nos olhos, com firmeza. Por isso, agride quem ousa discordar e quem ousa denunciar a nudez que lhe revela as misérias políticas!

Mas, se os Socialistas não podem propor soluções para a Póvoa, porque não ganharam as eleições e se não podem fiscalizar os actos do Executivo, como decorre dos seus legítimos direitos e deveres políticos, o que esperaria o Caudilho da Oposição?
O amorfismo e a bajulação?

Sem tergiversações, aqui fica a minha resposta: nem que chovam picaretas!

26 maio 2006

A QUINTA




Em 6 anos, os funcionários das autarquias aumentaram 51%, passando de 83.873 para 126.590 no final de 2005!
No mesmo dia que o Diário Económico revela a obesidade do funcionalismo público nas autarquias, outros jornais dão conta da oportuna conferência de imprensa realizada pelo Partido Socialista que, ontem, denunciou a existência de contratações na Câmara da Póvoa onde, segundo Renato Matos, “saltam à vista os compadrios, o amiguismo, quer por razões familiares, quer por filiações partidárias”.

Os mais recentes contemplados foram, desta vez: “uma familiar do Presidente da Câmara, uma familiar directa do Mandatário da Candidatura do PSD nas últimas eleições autárquicas, a filha de um funcionário da Câmara bastante influente na estrutura do PSD local e casada com um membro da Comissão Política Concelhia do PSD da Póvoa, a esposa de um funcionário da Câmara também ele membro do PSD local e secretário de uma Junta de Freguesia do PSD no concelho e um militante do PSD local e ex-presidente da JSD local”, lê-se na edição do Público de hoje.

Vejamos: do ponto de vista estritamente formal, os relatórios do Júri dos Concursos Públicos realizados veiculam informações tão genéricas que dificilmente podem ser reprovados.
No entanto, é no conteúdo do concurso e sobretudo no método de avaliação das competências utilizado, que reside uma das questões principais. Por um lado, na prova escrita os temas abordados são muitas vezes completamente irrelevantes e noutras nada têm que ver com a especificidade das funções para que se pretende contratar alguém. Por outro lado, da entrevista não há a menor informação que possa ser apreciada pela Vereação: é um exercício à porta fechada, sem transparência, que fica entre o Candidato e o Júri e este valoriza o que quer, sem deixar justificação ou registo escrito, quer das perguntas e da sua eventual pertinência, quer das respostas.
Como consequência, não raras vezes, o resultado final do candidato e a decisão do Júri sobre a escolha resulta sobretudo da nota obtida na entrevista que, assim, surge como determinante. Neste contexto é fácil dar preferência a quem se quer, sem que se possa por em causa a decisão do Júri por falta de elementos…para uma coisa, ou para outra, é certo!

Esta é, por isso, uma situação eticamente insustentável, sobretudo quando ainda se verifica que, a maioria dos candidatos vencedores (por causa de entrevistas vitoriosas) “já recebiam dinheiro da Câmara, através de vínculos laborais de natureza pouco clara”, afirma Renato Matos. “Contratam-se pessoas a prazo, que estão na Câmara um, dois e três anos e depois abre-se o concurso. Assim, as pessoas já preenchem um dos factores de preferência que é terem experiência na função”. “Os concursos são abertos para a pessoa e não contrário”, acentuou Renato Matos.

Mas, antes do processo de recrutamento que deve ser revisto e melhorado em nome dos princípios da igualdade, da neutralidade, da isenção e da transparência, é indispensável agir com prudência na definição das necessidades e na caracterização dos perfis.
Para isso seria indispensável a institucionalização de um processo de planeamento anual das necessidades de recursos humanos. Isto implica a criação de um Departamento de Recursos Humanos tecnicamente apetrechado que faça, em cada momento, a leitura global e integrada do funcionamento dos diversos sectores municipais (necessidades, excedentes, mobilidade…) e desenvolva o processo anual de planeamento dos recursos atendendo às vocações disponíveis ou a contratar.
O mesmo é dizer que não se deve contratar avulsamente, mas de acordo com uma estratégia a médio e longo prazo.
Isto o disseram na Câmara os Vereadores socialistas, em 21 de Novembro de 2005.
Em vão…
...enquanto a Câmara da Póvoa se colesteriza e se confirma como a “empresa” que emprega mais gente no concelho!
Daí a surgirem atitudes de caciquismo, o passo é de anão!

24 maio 2006

O TEMPO DA VERDADE





Aos que, ciosos do poleiro, minuto sobre minuto, vendem a alma e aos cronistas subterrâneos da república:
Por muito que nos chamem nomes e deturpem o que dizemos, por muito que repitam rótulos iníquos que colam à pressa sobre tudo o que fazemos, por muito que ameacem com palvaras cínicas de ponta e mola e tentem intimidar, por muito que girem nesse carrossel louco da atoarda, para estontear mais quem já tinha intelectualemente adormecido, por muito que arrastem num rodopio insano quem deveria noticiar de forma independente e límpida, mas se esquece convenientemente da responsabilidade social...por muito que assim insistam por não serem capazes de suportar que lhes destapem a careca, lhes escancarem a nudez da sua incompetência, do oportunismo e do nepotismo que dá espessura à cáfila...
O tempo da verdade chega sempre, pelo que a honra, que é um sentimento muito exigente, tem que ser paciente, o que nem sempre é fácil.”
Por isso, determinados, contem que não desistimos: persistimos!

20 maio 2006

ARQUITECTURA POR ARQUITECTOS


Duzentos e seis deputados aprovaram anteontem, por unanimidade, o projecto de lei proposto por 36.783 cidadãos em que se pede que só os arquitectos assinem projectos de Arquitectura.
O projecto baixa agora à Comissão, para ser discutido na especialidade, onde deverá fundir-se com uma proposta do Governo.
No final da votação, Helena Roseta, presidente da Ordem dos Arquitectos, sentada na galeria e rodeada por cerca de 200 arquitectos, levantou os dois polegares, em sinal de vitória.
Depois, palmas e vivas nas escadarias, onde o arquitecto Nuno Teotónio Pereira, um dos primeiros subscritores da iniciativa, manifestou a sua satisfação por "finalmente", 33 anos depois, poder ser revogado o Decreto 73/73. "É de crer que a proposta do Governo de atribuir aos arquitectos a exclusividade de fazer projectos de arquitectura acautele os interesses legítimos de todas as profissões envolvidas num projecto de construção, dando a todas o lugar que lhe compete.
Creio que a revogação do 73/73 não fará o milagre de transformar todas as construções em obras-primas de Arquitectura, mas assegura um mínimo de qualidade.
Com isso, ganha a cidade e o espaço público, ganha a Cultura e ganham os cidadãos!

16 maio 2006

O GENERAL SEM MEDO


Assinalou-se ontem o centenário do nascimento de Humberto Delgado.
No dia em que faria cem anos, foi lançado um livro sobre a faceta menos conhecida do "General sem Medo": a carreira na aeronáutica e de piloto da aviação civil.
O homem que morreu por ter ousado contrariar o regime de Oliveira Salazar, foi ontem homenageado no Aeroporto da Portela, em Lisboa, pelo seu papel de impulsionador da aviação civil em Portugal. Em 1945, Humberto Delgado fundou a TAP, 20 anos antes de ser assassinado pela polícia política da ditadura.

Humberto Delgado nasceu a 15 de Maio de 1906, em Boquilobo, Torres Novas. Em 1944 assumiu a direcção do secretariado de aviação civil. Um ano depois fundou a TAP a pedido de Salazar.
Tornou-se num dissidente quando, em nome da oposição democrática, concorreu contra Américo Tomás na campanha presidencial de 1958.
Vítima de fraude eleitoral e perseguido, exilou-se no Brasil, onde preparou um plano para derrubar Salazar que falhou.
Saíu do país e foi para a República da Argélia. Com a cumplicidade cobarde de Salazar, foi assassinado numa cilada da PIDE, na fronteira de Badajoz, em Fevereiro de 1965. O corpo de Delgado foi escondido no caminho de "Los Malos Pasos", a cerca de sete quilómetros de Villanueva del Fresno.
A minha homenagem ao General sem Medo.
Fica, de Alexandre O´Neil, O POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO...que Humberto Delgado nos ensinou a não ter...porque isso seria exactamente o que o medo quer!

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis

Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários (assim assim)
escriturários (muitos)
intelectuais (o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo

(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

*
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos

Sim
a ratos.

13 maio 2006

NOVOS CAMINHOS AO PÉ DO MAR

Foto de Paulo Medeiros
1. A energia das ondas representa teoricamente a maior fonte de energia renovável na Terra. Não obstante, este tipo de energia está, ainda, na retaguarda em termos de produção através de fontes renováveis.
Por isso, o anúncio do Parque de Ondas na costa da Póvoa de Varzim é uma boa notícia.
Segundo o JN, foi ontem apresentado o projecto do Parque de Ondas de Aguçadoura para a produção comercial de electricidade a partir da energia das ondas do mar, prevendo-se que as estruturas cilíndricas flutuadores terão capacidade para produzir electricidade limpa para um número entre 1500 e 2000 habitações.
A iniciativa da ENERSIS aponta para um investimento que pode aproximar-se dos 1100 milhões de euros até 2015. Mas, o mais interessante é que poderá constituir a base da criação em Portugal de um “cluster” exportador de tecnologia pioneira.
Aqui chegados, a Póvoa poderá encontrar uma oportunidade única! Se a Câmara Municipal perceber a importância económica e social da fileira das energias renováveis e for capaz de desenvolver uma enérgica acção de atractividade que leve à instalação do nosso concelho da fábrica que, numa segunda fase da intervenção da ENERSIS, será o centro de produção de parte das máquinas necessárias a este Parque de Ondas e, quiçá, a outros a criar ao longo da costa portuguesa e noutros países. É que, segundo o JN, nesta segunda fase, que deverá decorrer entre 2007 e 2009, a ENERSIS tenciona produzir mais 28 máquinas, com uma incorporação nacional de 50 a 65%!

2. Durante 16 anos os Executivos PSD não foram capazes de inverter a atitude “conservadora quanto ao padrão da base produtiva concelhia, não se registando apostas marcantes na diversificação produtiva”. Diante desta passividade, temos visto serem desviados para outros Concelhos oportunidades e projectos empresariais a par da fragmentação do tecido produtivo existente, com consequências graves para a qualidade de vida e a estabilidade do emprego.
É necessário construir as bases de um novo modelo de desenvolvimento para o concelho, que assente na formação e qualificação dos recursos humanos, na modernização do tecido empresarial, nas tecnologias da informação e na inovação. Neste sentido, importa elaborar projectos de acolhimento empresarial com vista a aproveitar os Fundos Estruturais, a potenciar as vocações existentes nas áreas da Agricultura, das Pescas, dos Serviços e do Turismo e a criar novos rumos para Indústria, que aqui sempre teve uma tímida expressão.
É óbvia a necessidade de implementar uma política de emreendedorismo, assente numa estratégia que valorize a diversidade multisectorial e ecologicamente sustentada. Mas, é claro para mim, que, atento o panorama energético nacional e o amplo campo de oportunidades que se abre com o combate à nossa dependência externa neste sector, mas também, e sobretudo, na área da defesa e qualificação ambiental para os próximos vinte anos, que faz todo o sentido, criar no nosso concelho uma Centralidade Industrial (porventura em Aver-o-Mar norte ou na Estela) com o objectivo de proporcionar novas oportunidades empresariais, de estimular o aparecimento de projectos inovadores e o estabelecimento de indústrias de ponta, nomeadamente as ligadas à produção de componentes para os sistemas de produção de energias renováveis.
O Parque de Ondas de Aguçadoura poderá ser a chave para a primeira oportunidade. Em simultâneo, os colectores solares dinâmicos, objectos que já são produzidos por uma empresa poveira com progressiva implantação no mercado nacional, num tempo em que a legislação portuguesa acabada de aprovar prevê a obrigatoriedade de instalação destes equipamentos nos novos edifícios.
A seguir, os painéis fotovoltaicos…

A vocação da Póvoa poderá passar por dar continuidade à conspiração solar do Padre Himalaia.
Este é um desafio inevitável e uma oportunidade que é imperdoável perder!

05 maio 2006

PERVERSA MENTE SINDICALISTA

Requerimento dirigido pelos trabalhadores ao Presidente da Câmara



Para Macedo Vieira, “só perversa mente sindicalista imaginaria que a câmara – que, noutro plano, a mesma mente, então superiormente iluminada, acusou de pródiga e desleixada na gestão de horas extraordinárias – iria, neste caso, a furtar-se a pagar o trabalho prestado para além do horário legal”.

In Público, edição n.º 5881, Quinta-Feira, 4 de Maio de 2006



Quando o Vice-Presidente da Câmara, Aires Pereira, sanciona com a sua assinatura uma Declaração ilegal pela qual os trabalhadores dizem “prescindir da remuneração de Horas Extraordinárias em qualquer circunstância, incluindo Feriados”, está ou não a levar a Câmara a furtar-se a pagar o trabalho prestado para além do horário legal?

Quando o horário legal é de 35 horas semanais e, sistematicamente, os funcionários trabalham 40 horas por semana sem qualquer compensação adicional, está ou não a Câmara a furtar-se a pagar o trabalho prestado para além da hora legal?

Quando cinco dos seis trabalhadores visados dirige um Requerimento ao Presidente da Câmara a solicitar o pagamento de todas as Horas Extraordinárias que realizaram desde Junho de 2003, é ou não é EXTRAORDINÁRIO que tenham assinado uma declaração pela qual prescindiam dessa remuneração?

Afinal, em cima de que ombros está pousada, grave, a mente perversa?

E porque é o Sindicalismo deixa tão nervoso o Caudilho, a ponto de deixar implícito nas suas palavras que ser sindicalista é ter mente perversa?

Se o Caudilho olhasse a lua que lhe aponta a “perversa mente sindicalista”, veria que, o único exercício mental e intelectual visa apenas o cumprimento da Lei. Mas, como convive bem com a arbítrariedade e centra as meninges na ponta do dedo indicador, não lhe chega o fingimento e tenta enganar os cidadãos com habilidades saloias.

No Caudilho, acredite quem quiser!
Mas, não seria má ideia prestar alguma atenção aos documentos!

OBVIAMENTE

Portugal no seu melhor



Imaginemos uma escada por onde, todos os dias, as pessoas têm de passar. Quando chegam ao último degrau, sistematicamente as pessoas tropeçam, caiem, magoam-se e têm de ir ao hospital. Com o aumento do número de pessoas que desce a escada, aumentam os tropeções no último degrau. Repetem-se as quedas, multiplicam-se as feridas, as pessoas acumulam-se em segunda fila na entrada do hospital. Se continuar a crescer o número de pessoas que vai tentar superar o último degrau, é provável que as coisas fiquem insustentáveis.
Qual é a solução, então? Construir mais hospitais? Não! Corrigir o degrau que causa a queda, obviamente!
Ora, diante do excesso de veículos que devoram as apertadas ruas da cidade, engasgados numa mobilidade aos soluços e estacionados num aperto de encolher chassis, o que deve fazer-se? Construir-se mais parques de estacionamento centrais - que atraem mais veículos ao coração da cidade – ou criar soluções de acessibilidade alternativa, ou seja, corrigir o maldito degrau?
Na minha opinião, a construção do parque de estacionamento subterrâneo na Avenida Mouzinho vai precisamente no sentido oposto do medicamento que a cidade precisa.
Obviamente!

03 maio 2006

CIDADE COM COLESTEROL NAS RUAS

O primeiro Corredor Bus de Alta Qualidade acaba de abrir em Toulouse.
Aqui, compreendendo as exigências contemporâneas de mobilidade sustentável, a primazia é dada aos transportes públicos. De tal sorte que o canal de circulação principal se destina aos autocarros e os automóveis particulares circulam em faixas laterias mais reservadas e condicionadas.
AO CONTRÁRIO.
Na Póvoa, o número de automóveis a circular no centro da Cidade aumentou desmedidamente. Estudos do INE referem para o concelho da Póvoa uma relação de 560 veículos/1000 habitantes. Há carros a mais para a capacidade da estrutura viária.
O exagerado número de carros em circulação é responsável pelo aumento do stress e da insegurança, dificultando a mobilidade e aumentando as perdas de tempo na circulação.
Também é responsável pelo aumento da poluição do ar. Num recente estudo do Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro é feita a avaliação das situações de ultrapassagem dos níveis de partículas em suspensão PM10, na Aglomeração Porto Litoral. A qualidade do ar que se respira no Grande Porto e na Póvoa de Varzim é má. O número de dias em que os limites legais de alguns poluentes são ultrapassados é excessivo e tem consequências muito negativas na saúde das pessoas. Nesse estudo apresentam-se medidas para a melhoria da qualidade do ar e o enfoque principal vai para o ataque ao actual padrão de circulação do tráfego rodoviário.
Num momento em que a comunidade cientifica propõe a diminuição da percentagem dos automóveis privados e dos veículos pesados de mercadorias em circulação no centro da cidade, a introdução de veículos de baixa emissão nos transportes colectivos, a construção de parques de estacionamento periféricos e aumentos dos preços dos parques de estacionamento existentes no centro da cidade, duvido da necessidade e da vantagem em construir um parque subterrâneo para 600 viaturas na Avenida Mouzinho de Albuquerque.
Receio mesmo que, em vez de vir a resolver o problema do aparcamento, venha ele próprio a atrair ainda mais automóveis para o centro da cidade, quando a segurança, o conforto e a mobilidade justificam a redução dos veículos particulares nos centros urbanos, e apontam o transporte público como solução principal.
Mais parques no centro não resolvem os engarrafamentos, a lentidão da circulação, a poluição do ar, a segurança dos peões, o stress dos condutores. Pelo contrário, tendem a atrair mais automóveis quando não há transportes alternativos. Estes, quando existirem, torná-los-ão praticamente inúteis.
O Projecto Europeu SMILE – Sustainable Mobility Initiatives For Local Environment – propõe a redução dos parques no centro das cidades, a promoção de parques periféricos gratuitos e um sistema de transportes públicos que seja confortável, regular, frequente, rápido, não poluente e económico.
Eu concordo e a minha prioridade coincide com esta politica de mobilidade sustentável.
A maioria PSD prefere andar para trás: acaba de aprovar a construção do parque subterrâneo da Av. Mouzinho de Albuquerque que contraria irracionalmente estas orientações!
Não obstante, a decisão da maioria, mantêm-se a pertinência da questão:
deve construir-se o parque subterrâneo para responder à falta de estacionamento, ou deve-se reduzir as necessidades de estacionamento, diminuindo o número de veículos que vêm ao Centro da Cidade?

A decisão sobre a materialização do Parque Subterrâneo para 600 lugares na Av. Mouzinho de Albuquerque não está justificada por estudos que determinem a sua necessidade. Falta de um Plano de Mobilidade e de estudos que demonstrem a necessidade e a urgência de o construir. O único instrumento técnico que aborda a cidade de forma global, o Plano de Urbanização (que foi aprovado no Verão de 2004 e entrou em vigor em 27 de Janeiro deste ano), prevê a construção de parques periféricos, mas não prevê que se faça este parque, e muito menos o inclui nas suas Intervenções Estratégicas Prioritárias. Neste sentido, ou o Plano de Urbanização não merece credibilidade, ou este parque afinal não se justifica.

No mundo mais desenvolvido já se aprendeu uma estratégia de mobilidade sustentável. Em consonância, prefiro uma visão integrada que aconselha como prioridade o investimento nos Transportes Públicos, em parques periféricos gratuitos, no Centro Intermodal e no prolongamento do Metro até Barreiros.


01 maio 2006

1º. DE MAIO





Primeiro de Maio. Dia do Trabalhador!
Oportuno o caso de alguns trabalhadores municipais.
Um estranho modelo de relacionamento laboral faz com que trabalhem 40 horas por semana e apenas recebam 35. E, pior do que isso, com a conivência do Chefe de Divisão, do Director de Departamento e do Vice-Presidente da Câmara - o mesmo que ajudou compulsivamente à "reforma dourada" de um outro Tal Director - estes funcionários do Município assinaram um documento declarando prescindir do recebimento pelas horas extraordinárias que fizessem em qualquer circunstância!
Alguém acredita que o fizeram livremente?
Na Póvoa a Lei é muitas vezes apenas uma sugestão! Cumprir ou não cumprir, é irrelevante, como ouvi de um Vereador a Tempo Inteiro a propósito dos seis anos em que a Câmara esteve, no mais completo desprezo pela legalidade, a contratar serviços à Varzim Lazer, empresa que até quinta-feira passada devia ao Estado mais de meio milhão de euros.
Irrelevante…
O mesmo Vereador que sabe, como eu sei, que é real a ilegalidade de tratamento a que têm estado sujeitos os seis trabalhadores da Portaria.
O mesmo Vereador que conhece, como eu conheço, os documentos que o comprovam…
Mas, o mesmo Vereador que, inopinadamente, mente quando, a um jornal local “desmente categoricamente os factos descritos pelos vereadores do PS, afirmando não existirem horas extraordinárias não remuneradas.”
O mesmo Vereador que considera “inaceitável que acusem a Câmara de não pagar horas extraordinárias e levantarem problemas onde eles não existem".
Mas, o mesmo Vereador que, ao tentar desmentir quem na verdade não mente, afinal logo se desmente a si próprio, referindo que, depois de levantada a questão “foi encontrada uma solução correcta do ponto de vista legal.” Ou seja, ter-se-ão corrigidos o horário e a escala de serviço e neutralizado o efeito da referida declaração.
Conclusão: se agora foi encontrada uma solução correcta é porque, antes, não era solução, porque não era correcta!

É provável que, agora, os novos horários estejam finalmente definidos “de acordo com a lei e com os serviços” e que as “coisas”, nesse aspecto estejam normalizadas.
Mas, as horas extraordinárias feitas desde o Verão de 2003 ainda não foram pagas! E se o vierem a ser, é porque a Oposição lutou pelo cumprimento da legalidade e pela justa defesa dos legítimos direitos dos trabalhadores! E não por iniciativa livre do Vereador a Tempo Inteiro da Maioria, para quem as leis correm o risco de ser apenas minhoquices irrelevantes…

Em política não vale tudo e a mentira é sempre coisa medonha!
Não resisto à tristeza por ter que admitir a inusitada opção pela deturpação do real, sobretudo porque vinda de um homem agora vestido de Vereador a Tempo Inteiro, mas que fazia parte da galeria das pessoas que admirava, respeitava e por quem tinha grande estima. Por isso, perante os efeitos da mentira, a tristeza é magoadamente maior quando suscitada por alguém de quem não se esperava tal deriva!