INSENSIBILIDADE E INDIFERENÇA

Mas, é de 1998 o primeiro pedido formal dirigido ao Presidente.
Não se sabe se o apelo fora da mulher, viúva, mãe só numa família magoadamente infeliz, ou se fora ele próprio a voz da angústia, personagem de uma vida sem sorte. Mas, o que precisava de acolhimento colheu apenas indiferença.
O apelo repetiu-se uma, duas, três vezes, ocupando o tempo de trezentos e sessenta e cinco dias vezes oito.
À voz exausta da viúva, juntou-se na vã repetição a voz da Técnica Municipal esmagada pela surdez dos decisores de coração de chumbo.
Enquanto a espera se transformava lentamente em desespero, o Vereador do pelouro preferia uma outra cultura, a do vazio numa distracção egoísta. Perplexo, vejo-o esconder-se atrás de uma desculpa esfarrapada, continuando a alegar que cada caso é um caso e que este não cabia nos programas do Estado por se tratar de alguém que era proprietário da casa… melhor dizendo, proprietário da barraca!
Para o dito, não importava se a viúva era o rosto enrugado de uma família em estado de amargurada carência, numa hipótese falhada de habitação…. A viúva tinha culpa por ser proprietária de uma barraca!
Ao escancarar a frieza típica dos que fecharam o coração ao lado magoado da vida, o dito Vereador denunciouo vazio que é justamente o que precisa de ser preenchido com um instrumento municipal de apoio à recuperação de habitação degradada feito a pensar nos mais carenciados, qualquer que seja a sua condição.
2. Em Maio cansado, o dueto voltou a cortar a noite insensível.
Alguns dias depois do dia da cidade e de milhares de rotações da Terra, finalmente a resposta encaixou no caso como a peça de um puzzle teimosamente esquecido.
Votámos a favor.
Mas votamos insatisfeitos. Diante da insensibilidade e a indiferença de quem tinha competência legal e legitimidade democrática para atenuar o sofrimento de cidadãos esquecidos da sorte e a um canto da vida, avançamos com uma proposta para preencher o vazio instrumental
Não são raras situações como a dessa viúva, mãe só numa família magoadamente infeliz! É preciso encontrar respostas abrangentes e pluridisciplinares para as problemáticas que as envolvem. Mas, sendo a habitação, com a saúde e a educação, a base da cidadania, é urgente a criação de um programa municipal que enquadre situações semelhantes a fim de lhes dar resposta pronta, eficaz e não avulsa.
Foi por isso que, para eliminar o vazio existente nesta matéria e os impasses disso decorrentes, apresentamos as linhas gerais de uma Proposta a formalizar dentro de dias com vista à criação de um Programa Municipal de Apoio à Pequena Obra, destinado a resolver a questões relacionadas com a habitação degradada das famílias carenciadas residentes no nosso concelho.
3. Nas suas aparições em público, o Presidente escolhe o ataque sistemático, que não é só ideológico, contra o Modelo Social Europeu. Assim fica clarividente o sítio onde se quer chegar: esmurrar o Estado Social não é mais que uma esfarrapada desculpa motivada por uma confrangedora insensibilidade e lamentável desresponsabilização, não obstante as competências e atribuições conferidas por lei ao exercício do poder autárquico.
Apesar disso, o Presidente tem agora uma oportunidade para aderir ao lado humano, juntando o seu contributo à elaboração de um Programa e de um Regulamento que poderão aliviar a tristeza e o sofrimento dos que, injustamente, vivem a um canto da vida... se vier a ser aprovado pela maioria!
Veremos para que dimensão voltará a sua sensibilidade política!