
Hoje, dentro e fora do Partido Socialista, é ainda mais necessário apoiar Manuel Alegre à Presidência da República e motivar José António Seguro para representar o PS na liderança do governo de Portugal.
Para repor a credibilidade do regime. Em nome de todos os que trabalham afincadamente no quotidiano, que arriscam, que lutam, emprestando o seu contributo, por pequeno que seja, ao bem comum e a um Portugal moderno e mais justo, é urgente que os valores da República, cujo centenário se celebra este ano, voltem a ser o guião para que Portugal se afirme com dignidade.
O poder económico não pode dirigir o poder político. É ao contrário que tem que ser. E ao contrário faz-se, desse modo, o que é direito, num estado democrático, cada vez mais necessário e, por isso, mais urgente, recusando as caricaturas que dele vem fazendo oportunisticamente o bloco central de interesses, levando Portugal e a nossa vida para um pântano que vai generalizando a angústia e promete o desespero.
Os jogos palacianos, envolvendo políticos e empresários, para assegurar a uns a perpetuação no poder e a outros vantagens de milhões, é uma vergonha que magoa qualquer cidadão. Mas deveria envergonhar mais ainda qualquer socialista, uma vez que são uma afronta asquerosa aos valores do PS e à sua história.
Não me venham mais com tentativas de explicações impossíveis para justificar o que nunca deveria acontecer, nem ter acontecido.
Não quero viver num país onde, sob a capa da democracia, um governo e uns sujeitinhos de colarinho branco se organizam para tentar juntar nas suas mãos um monstro que visa manipular a informação e, desse modo, as nossas consciências. E, se uma tal criatura era tenebrosa durante a noite salazarista (que tinha, pelo menos, a vantagem de agir às escâncaras), em alegada democracia ainda é mais intolerável.
No tempo que antecedeu o Congresso de Guimaräes, há meia dúzia de anos atrás, quando no PS se viveu um dos momentos mais significativos de debate político interno e externo, estive ao lado de Manuel Alegre. Foi fácil fazê-lo, atendendo ao seu percurso, aos valores que o animavam, ao projecto que defendia e à denúncia corajosa que fazia do “bloco central de interesses” que havia tomado conta do país. Também foi fácil, porque sempre vi em Sócrates uma ambição desmedida de poder e a ausência de valores socialista. Além do mais, vi juntar-se-lhe muitos dos que passam a vida em cima do muro, atitude que é, em si mesmo, um elucidativo indicador.
Aqui, na Póvoa, fui mal tratado por me juntar a Alegre nessa altura e mais ainda quando o apoiei à Presidência da República.
Mas, no momento que vivemos, é precisamente o movimento criado em volta de Manuel Alegre e a possibilidade de uma nova candidatura ao mais elevado cargo político da nação, que trás a esperança necessária e pode ajudar a aglutinar numa mesma força de mudança todos os que ainda acreditam que vale a pena. E é , em certo sentido, um dos caminhos para que o Partido Socialista volte à dignidade perdida e a merecer a confiança e o entusiasmo de todos.
Neste quadro, tendo caído definitivamente a máscara a José Sócrates e à sua guarda pretoriana, na sequência de inúmeras peripécias que levou o país a perder-lhe o respeito, não lhe resta alternativa senão demitir-se, levando com ele os que, unha e carne, o ajudaram nesta desgraça.
Desse modo serviria o país e o PS.
Se não for capaz de o fazer por iniciativa própria – como é bem previsível – é preciso que alguém com autoridade moral dentro do PS se lhe dirija como fez Kissinger com Nixon no caso Watergate e lhe diga: Meu caro José, chega! É tempo de ir embora!
A questão não é apenas política, mas também é ética. Há, felizmente, no PS muita e boa gente capaz de nos ajudar a recuperar a credibilidade da política e das instituições democráticas.
Do meu ponto de vista, tem muita consistência a ideia de que António José Seguro, pelo seu pensamento, pela postura e pelas atitudes que tem tomado, tem as condições pessoais e políticas para substituir o actual primeiro-ministro e liderar a construção de uma solução válida para a crise de valores que se vive!