10 junho 2009

DE 46 PARA 26


Depois da entusiasmante vitória nas Eleições Europeias de 2004, com 46,32%, em tempo de redobrada esperança, o Partido Socialista sofreu um elucidativa derrota no passado domingo, descendo para 26,57% dos votos expressos!
É o que dá a política feita contra as promessas eleitorais, a génese de um projecto e a história do partido!
E é o que dá não ouvir os que pensam diferente!

Não foi por falta de avisos! Como é que se pôde ficar indiferente (arrogantemente indiferente) a sinais como a manifestação de 120.000 professores numa tarde de sábado em Lisboa?

Será que agora, com mais calma e pés assentes na realidade, se ficará mais disponível para compreender os alertas de Manuel Alegre e de outros camaradas?
Será que perceberemos finalmente o alcance do Encontro das Esquerdas?

É tempo de evitar as más companhias, de continuar a alimentar a ideia errada de que à esquerda de nós próprios não há democracia e o que a única alternativa em Portugal se faz pelo arco da direita; o arco ideológico que continuaria a fazer exactamente as mesmas políticas que agora tiveram um severo castigo através do aumento da abstenção, da perda de 20% dos votos expressos e do expressivo aumento dos votos brancos e nulos!

É tempo de abandonar de vez o preconceito, a arrogância, as políticas que têm sido feitas à margem da nossa matriz ideológica e de retomar o caminho do socialismo democrático que distingue e justifica o Partido Socialista!

06 junho 2009

HIPOCRISIA


Salgueiro Maia é um herói do vinte e cinco de Abril.
Há vinte anos atrás o Primeiro-Ministro recusou-se a conceder-lhe uma pensão “por serviços excepcionais relevantes”.
A atribuição dessa pensão – crucial no momento de doença que vivia e que o havia derrotar logo a seguir – dependia de um parecer favorável do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República. Com data de 22 de Junho de 1989, o parecer, votado por unanimidade, sublinhava “o êxito da Revolução muito ficou a dever ao comportamento valoroso e denodado daquele que foi apodado de Grande Operacional do 25 de Abril”.
Enviado ao Primeiro-Ministro, o parecer nunca foi homologado!

Na mesma altura, o mesmo Primeiro-Ministro concedeu a mesma pensão a dois inspectores da extinta PIDE/DGS: António Augusto Bernardo, que foi o último chefe da delegação da DGS em Cabo Verde e Óscar Cardoso que foi um dos pides que se entrincheiraram na sede da rua António Maria Cardos e que fizeram fogo sobre uma pequena multidão, tendo causado os únicos quatro mortos da revolução.
Obscena dualidade de critérios desse Primeiro-Ministro!

Agora, o Presidente da República vai finalmente homenagear Salgueiro Maia. Em Santarém, no âmbito das comemorações do 10 de Junho, irá depositar uma coroa de flores junto à estátua do herói de Abril.

O Primeiro-Ministro em 1989 era Cavaco Silva! O Presidente da República em 2009 é Cavaco Silva!

A República que vai assistindo indiferente a estes despautérios que magoam a dignidade de Portugal. Mas, meus caros, os políticos não são todos iguais!
Dois meses depois dos dois pides serem agraciados pelo Governo de Cavaco Silva, o Presidente Mário Soares escolheu o Dia das Forças Armadas para condecorar, já a título póstumo, Salgueiro Maia, com a Ordem Militar de Torre e Espada: a única condecoração portuguesa que dava direito a uma pensão…

Enquanto que, na sua génese, a Democracia propõe espaço para cavaquear, há certa gente que se entretém a escavacar a dignidade da República!