29 março 2009

DESLIGAR A LUZ PELA TERRA


Há atitudes que são apenas simbólicas, mas que são indispensáveis à mudança de paradigmas e de comportamentos. Não salvam o mundo, mas ajudam.
Ontem em três mil cidades em todo o mundo muitas luzes foram apagadas durante uma hora, numa mensagem simbólica de que é preciso fazer mais para combater o aquecimento global.
Sidney, Paris Roma Londres Atenas Cairo Nova Iorque Rio de Janeiro Buenos Aires Cidade do México… Mas, também em Portugal, monumentos nacionais, marcos da paisagem urbana como a Ponte 25 de Abril, equipamentos e edifícios públicos e casas particulares estiveram às escuras, na terceira edição da Hora do Planeta - uma campanha lançada em 2007 pela organização ambientalista internacional WWF.
Pelo menos sete cidades portuguesas aderiram: Lisboa, Tomar, Águeda, Vila Nova de Famalicão, Funchal, Almeirim e Guimarães. Cada uma comprometeu-se não só a apagar algumas luzes sob sua jurisdição como também a divulgar a campanha junto dos seus munícipes. Em Lisboa, há um ecoconcerto do músico André Sardet, no Jardim da Torre de Belém.
A Póvoa, como em tantas outras coisas em que se afirma a modernidade, ignorou…Mas manteve o cemitério novo iluminado ao longo de todo o espaço e da noite da noite, repetindo o desperdício que continua desde que inaugurou o equipamento.

Um dia, ainda desempenhava funções autárquicas, chamei a atenção para esse desperdício num tempo em que a defesa do ambiente e a gestão racional dos recursos é também uma questão ética.
O Presidente e o Vice-Presidente justificaram a luz acesa para ninguém alegando ter como objectivo a segurança do cemitério e não um luxo de natureza estética. Mas, para a segurança bastaria um ou dois projectores, dispensando-se a panóplia de iluminarias espalhadas no cemitério de lés a lés…
Mas, será que a segurança num espaço desértico, sem frequência nocturna, na periferia da cidade, se garante com luz, sem qualquer vigilância?

08 março 2009

SINTOMÁTICO


O Público convidou-o a fazer o Editorial do número que marca o décimo nono aniversário do jornal. Sintomático.
Sintomático, também, o desabafo de Lobo Antunes, em que impressiona a inequívoca e directa acusação à deriva que alguns directores, chefes de redacção e jornais se prestam.
Cada um com a sua experiência, afinal há mais quem não seja indiferente à cumplicidade funcional com certos poderes e à falta de competência e de honestidade intelectual que contamina alguma imprensa, sobretudo de âmbito local.



É pena que os jornais, como a literatura, sejam uma estrebaria de porta aberta: devia ser reservada aos profissionais sérios, como os nomes de que há pouco falei, e que decerto existem. Conheço alguns. Estes parágrafos para o PÚBLICO são uma homenagem a esses nomes. O que me assusta é o facto de qualquer pessoa estar à mercê de criaturas medíocres, sem possibilidade de rectificar a pulhice.”

In Lobo Antunes, Os Jornais & eu, Público, edição de 2009.03.05