23 agosto 2008

A CRUZ A QUE NOS OBRIGAM OS CRUZAMENTOS




1. Pouco depois da inauguração da “obra do século que, nas contas de Vieira, ficou a custo zero”, logo que se verificou o efeito das filas de trânsito resultantes do novo figurino viário imposto pelo capricho macedónico, o cruzamento entre a Mouzinho de Albuquerque e a Rua Gomes de Amorim passou a contar apenas com o amarelo intermitente e, nas palavras de Ângelo Marques, “tornou-se no ponto mais crítico de acidentes de viação ocorridos no concelho da Póvoa de Varzim.”
Pena é que o jornalista não tenha outras tantas palavras para apontar o dedo da responsabilização à teimosia e ao capricho de Vieira e de quem lhe é concêntrico, salientando a sua lamentável impreparação nas mudanças recentemente inculcadas a uma artéria que o PU quer estruturante no contexto urbano da Póvoa de Varzim!

2. Pelos vistos, além de muitos outros toques que os condutores terão resolvido entre si, só em Julho, a PSP terá tomado conta da ocorrência de cinco acidentes (um dos quais com capotamento de uma viatura…) com danos significativos para as viaturas, para o mobiliário urbano e, nalguns casos, para os ocupantes dos veículos.
Ao contrário do que antes sucedia, no novo modelo cada veículo que chega ao cruzamento pode seguir em frente, virar à direita e à esquerda. Esta situação, como se demonstra no gráfico, dispondo de muito menos espaço para circulação, multiplica também o número de pontos críticos e potencia largamente o número de acidentes. E os semáforos tricolores, se reduzem as hipóteses de colisão, quadriplicam o tempo de espera da anterior solução urbanística. Crescem as filas de automóveis, com consequências na utilização da rede viária envolvente, e ao mesmo tempo agita-se a paciência dos condutores.
O problema repete-se na Praça do Almada (também em amarelo intermitente), que perdeu a sua anterior funcionalidade como placa giratória do trânsito local, e que permitia todas as direcções sem conflitos rodoviários. E, repete-se ainda, no cruzamento da EN 13 com a Rua Manuel Silva, junto aos Torreões.
Três situações potenciadoras de conflitos separadas entre si escassas dezenas de metros, no coração da cidade, já de si esmagado com excesso de automóveis.

3. Basta um simples esquema no papel para perceber que os efeitos deste modelo são óbvios, como seria óbvio esperar que os responsáveis técnicos e políticos da “obra do século que, nas contas de Vieira, ficou a custo zero” tivessem isso em consideração e, das duas uma, ou não implementavam este novo figurino ou tinham, desde logo, promovido o necessário antídoto, que se prova não saberem qual é!
Reagindo à sua própria casuística, mais de um mês depois da inauguração da obra, “O vereador com o pelouro das Obras Municipais, Aires Pereira, disse, no princípio deste mês, que a Câmara pretende conservar os semáforos desligados até ao final deste mês, para evitar o congestionamento automóvel no centro da cidade.” In “Cinco acidentes de viação no espaço de um mês”, in O Comércio da Póvoa, ed. 13.08.2008
Entretanto, anuncia-se o mês de Setembro para realizar um estudo, de forma a constatar se será necessário efectuar modificações urbanísticas no local. Mas se a solução a adoptar vai surgir do trânsito que existirá depois dos meses de Verão, como se comportará o cruzamento quando a cidade voltar a receber os veraneantes?

4. Seja como for, deve dar-se prioridade à segurança sobre a rapidez. E entre o tempo de espera por cada sinal verde (que será de cerca de quatro minutos, a manterem-se todas as opções de direcção...) e apenas o reforço da sinalização para que vai apontando o tal Vereador, talvez a solução passe por apenas autorizar os movimentos em frente e à direita, regulados pelos semáforos tricolores. Claro que as viragens à esquerda, sobretudo para quem vem de norte, resultam prejudicadas e obrigam os condutores a procurar alternativa percorrendo outras artérias próximas. Antes, isso era possível sem dificuldade através das aberturas de retorno que existiam na placa central arborizada que separava a avenida em duas faixas distintas, e que se localizadas em sítios estratégicos, como acontecida a escassos cinquenta metros, a nascente e a poente, junto à rua das Hortas e junto à Rua Ramalho Ortigão...

Falta saber, também, como se juntarão a este trio de cruzamentos os efeitos da mega-urbanização nos terrenos da antiga cordoaria Quintas & Quintas. De qualquer modo, enquanto houver excesso de automóveis no centro da cidade e se mantiver a política errática e errada que o estimula em vez de lhe propor alternativas eficazes, tudo indica que o congestionamento vai ser inevitável. Poderá ter mais ou menos expressão, conforme se esteja dentro ou fora das horas de ponta, ou se esteja no inverno os nos meses balneares.
O argumento da realidade reforça a proposta da criação de um sistema de transportes públicos sustentável de base intermunicipal que a maioria política afinal muito pouco social e menos democrata insiste em atrasar…

5. Alguns espantam-se com a atitude displicente e com falta de rigor destes autoproclamados planeadores que nos vão maltratando, maltratando a cidade. Mas, o que prova tudo isto? Obviamente, que os feiticeiros visionários e casuísticos de um urbanismo “a la carte”, não pensaram no assunto. Vencidos pelo capricho e imparáveis na teimosia, fazem as coisas sem medir as consequências.
Confirma-se que o cruzamento dos pensamentos de Pereira e Vieira dá um problema de semáforos, em que a falta de norte tem a medida do amarelo intermitente...
Mesmo assim, o alerta vermelho permanece invisível aos olhos da multidão atónita com a referência imediata do umbigo.

14 agosto 2008

A FELICIDADE DE SER INCULTO

imagem retirada de rogercarvalho.blogspot.com

(…)
Sendo o segundo espectáculo com maior número de registo de espectadores, logo a seguir ao futebol, a festa mais culta do mundo, a tourada, tem longas e repletas páginas de incontornáveis momentos de glória na história das corridas de toiros na Póvoa de Varzim.
(…)

in “Corrida de toiros de homenagem ao Emigrante”, Póvoa Semanário, ed. 06 de Agosto de 2008



Aqui está uma nova e inédita concepção de Cultura!

É caso para dizer, que sem um tal jornal seríamos todos muito ignorantes e incultos!
Sem um tal jornal,” o trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima”.
E se fazer jornalismo assim “fosse tão fácil, não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos”.
É só porque toda a gente é tão estúpida que há necessidade de alguns tão inteligentes”.


02 agosto 2008

"Entre nós e as palavras..."

De novo Manuel Alegre e a consciência crítica que sobrevive num tempo de mediocridade e de desprezível rendição.
Pertinente o seu artigo de opinião na edição de 24 de Julho, do Publico.
Recados úteis para dentro do PS, mas sobretudo inevitáveis para outras bandas...onde chega a ser obsceno o fingimento e a reconstrução da realidade contra o óbvio, como no caso das últimas declarações do Caudilho poveiro ao Póvoa Semanário, que, apesar de tudo demonstrar o contrário, tem a desfaçatez de reinventar o discurso para dizer:
"Convivo facilmente com a diferença e com a crítica — que prefiro a certos alinhamentos favoráveis sistemáticos (e, por isso, empobrecedores). " Macedo Vieira
A ler: Contra o medo, liberdade, a crítica é olhada com suspeita, o seguidismo transformado em virtude
"António Sérgio, que é uma das fontes do socialismo português, prezava o seu "querido talvez" por oposição ao espírito dogmático. E Antero de Quental chamava-nos a atenção para estarmos sempre alerta em relação a nós próprios, porque "mesmo quando nos julgamos muito progressistas, trazemos dentro de nós um fanático e um beato". Temo que actualmente pouco ou nada se saiba destas e doutras referências.
Não se pode esquecer também a responsabilidade de um poder mediático que orienta a agenda política para o culto dos líderes, o estereótipo e o espectáculo, em detrimento do debate de ideias, da promoção do espírito crítico e da pedagogia democrática. Tenho por vezes a impressão de que certos políticos e certos jornalistas vivem num país virtual, sem povo, sem história nem memória.
(...)
Por isso, como em tempo de outros temores escreveu Mário Cesariny: "Entre nós e as palavras, o nosso dever falar." Agora e sempre contra o medo, pela liberdade. "