18 março 2007

INÉRCIA ARREPIANTE

Quando por toda a Europa se expande um movimento abrangente que propõe um novo paradigma de mobilidade como base do desenvolvimento sustentável…

Quando, em Portugal, o Instituto do Ambiente desenvolve um Programa para a elaboração de Planos Municipais de Mobilidade Sustentável, a que se candidataram 124 autarquias – a Póvoa, claro, assobiou para o lado... -, das quais, as 40 seleccionadas para a 1.ª fase estão a trabalhar em velocidade de cruzeiro…

Quando, nesse âmbito, se organizaram diversos Centros Universitários distribuídos pelo país, para auxiliar as Câmaras Municipais a compor os seus próprios modelos de mobilidade…

Quando cidades portuguesas de média dimensão desenvolvem experiências de sucesso na criação de serviços de transportes públicos urbanos e na qualificação do espaço de encontro e de contacto, como são os casos de Vila Real e de Évora entre tantas…, pelos quais se demonstra que basta haver entendimento e vontade politica para que tudo seja possível…

Quando é cada vez mais assumida pela vanguarda do pensamento da gestão urbanística que a mobilidade é um tema relevante e premente, que envolve toda a sociedade, num tempo em que o crescimento das cidades lançam importantes questões a governantes, empresas e instituições…

Quando outras cidades querem avançar com a mobilidade para todos, e vão estudando as suas especificidades locais, enquanto organizam oportunidades de informação, sensibilização, reflexão e debate, como aconteceu recentemente em Santa Maria da Feira e acontecera no próximo dia 24 em Ílhavo e, entre nós com o PROJECTO BOLINA, por iniciativa dos Vereadores do Partido Socialista na C.M. da Póvoa de Varzim, com o apoio do Grupo de Urbanismo e Mobilidade do PS…

Quando o PROJECTO BOLINA, pelo seu conteúdo e pela sua oportunidade, é valorizado e enaltecido por especialistas de reconhecido mérito, que têm liderado importantes projectos de mobilidade e de transportes, como é o caso do Professor Catedrático do IST e membro da Federação Internacional da Habitação e Urbanismo, Fernando Nunes da Silva, ou do Professor da UTAD e membro da equipa do Projecto Europeu de Investigação Científica “VIRIATUS – Veihicle Impacte Reduction Initiative Adapting Transportation – Management in Urban System”, Adriano Pinto de Sousa, ou da Chefe da Divisão de Estratégias para o Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, do Instituto do Ambiente, Dra. Regina Vilão ou, ainda, pelo Administrador Executivo da SITEE-EM e Vice-Presidente da Assembleia-Geral da Associação Portuguesa das Empresas Municipais, Eng.º António Quenino …

Quando tantos “quandos” fazem o quando inevitável de um quotidiano que une na mesma causa comum a Universidade, arquitectos e urbanistas, organismos dos Estados e organizações cívicas e não governamentais vocacionadas para a defesa do ambiente e da qualidade de vida, e exige de nós uma tomada de consciência e uma mudança radical de comportamentos na nossa relação com a cidade, com as actividades e com o modo como nos movemos…

Eis que chega, atrasado, montado na última onda hertziana, o Arquitecto do Rei para dizer que o Projecto Bolina é uma utopia! Não é mau, é uma coisinha simpática, mas que ninguém precisa e ainda por cima impossível de pôr em prática, uma utopia!

Esquece o Arquitecto do Rei que “Não é porque as coisas são difíceis que não ousamos; é porque não ousamos que elas são difíceis.”
Sabe-se que a falta de rasgo há muito faz parte da rotina real. Talvez por o saber também, o Arquitecto do Rei se refira ao Projecto Bolina como uma utopia na exacta medida da falta de vontade política de quem detém o poder!

Dizer que a Póvoa não precisa de mobilidade sustentável e não reconhecer todas as fragilidades e constrangimentos existentes (um simples inquérito on-line, organizado pelo Póvoa Semanário registou que os transportes existentes são maus para 80% das pessoas que responderam), é o mesmo que insistir que é o Sol que gira em volta da Terra.

O Arquitecto do Rei e os seus alter-egos - o docente e o político – têm um denominador comum: a responsabilidade social. E a responsabilidade social implica esclarecer e não obscurecer! Tanto mais que maior responsabilidade tem, por estar ao lado da mão que segura o ceptro.

Talvez permaneça lá pelos séculos idos e só uma máquina de viajar no tempo lhe permitiria estar por cá. Mas se, pelo menos, se deixasse invadir por um pouco de curiosidade e de interesse, e tivesse estado há oito dias na conferência sobre Planos de Mobilidade Sustentável, e anteontem naquela em que ouvimos falar de soluções de transporte urbano com sucesso, talvez percebesse como atrasa a Historia com a sua hesitação mesquinha de desprezo por um trabalho de muitos meses, que outros fizeram com entusiasmo, apesar dos parcos meios de que dispõem.

O Ciclo de Conferências organizado no âmbito do PROJECTO BOLINA tem trazido à Póvoa de Varzim técnicos altamente especializados para nos dar a conhecer as experiências em curso, todos elas resultantes de processos de vontade política, em exercícios dinâmicos de pensamento e criatividade e, por isso, com êxito.
Nas duas Conferências realizadas, na sala esteve muita gente, e muitos dos presentes vieram de outras terras, de distâncias muito maiores que as que separam a Biblioteca da Praça do Almada.
A Comunicação Social, local e regional, percebeu a importância do tema e a sua utilidade pública, e tem coberto a iniciativa com boas reportagens…

Mesmo correndo o risco de ser utópico, fica um desafio: leia o Projecto Bolina, apareça às Conferências que ainda faltam, ouça, como nós ouvimos, o que os que já fizeram têm a dizer. Vamos aprender todos juntos e vamos transformar a Póvoa para melhor!
E, já agora, em vez de dizer ao Rei o que o acha que o Rei gosta de ouvir, porque não ajuda o Rei, e já agora o Povo, mostrando ao Rei os verdadeiros caminhos da contemporaneidade, aqueles que nos chegam da Europa civilizada, mas, sobretudo, do Portugal que vai mais à frente?

O PROJECTO BOLINA não é utópico… porque já esta a marcar a agenda política, centrando o debate num tema essencial: a Mobilidade Sustentável.

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro Arq. Silva Garcia, não entendo todo esse seu azedume só por uma pessoa ter um pensamento diferente do seu. Se propôs uma abertura a sociedade civil e aos partidos políticos da terra debater o seu projecto de mobilidade, tem que demonstrar abertura para as diferentes opiniões, caso contrario não coloque a discussão o seu projecto.
PS- caso não queira publicar fica aqui a minha opinião sobre este seu texto em jeito de azia
Amilcar Teias

18 março, 2007 22:00  
Anonymous Anónimo said...

Compreendo o seu desencanto pelas considerações tecidas, no programa de rádio, pelo seu colega arquitecto Rui Bianche.
Mas estava à espera de quê?
Queria que o homem fosse despedido!
Obviamente que ele só poderia passar duas mensagens.
1. Parque subterrâneo, tipo “Mouzinho de Albuquerque” é o que, de momento, faz falta à Póvoa. Os da Praça do Almada, do Casino, dos Bombeiros, do Quartel, do Cais, (todos distantes a menos de 5 minutos um dos outros) não são suficientes.
2. Desvalorizar o trabalho sério e responsável do Partido Socialista traduzido no “estudo/projecto Bolina”, por uma única razão - incomodou o poder - .

Quando incomodou o poder incomodou o arquitecto do poder, porque o poder instalado alimenta e engorda o arquitecto do poder.

O que é importante, no meu ponto de vista, é que a 1ª batalha da mobilidade foi ganha, pois não tenha dúvidas que o assunto mexeu, foi notícia, e ficou provado que é possível melhorar a mobilidade no nosso concelho e a iniciativa do PS agilizou ou encurtou o timing para alcançar esse desígnio.
Parabéns.
Fernando

19 março, 2007 01:17  
Anonymous Anónimo said...

Amilcar Teias

Venham as críticas... mas feitas com seriedade e honestidade intelectual!
É isso que se pretende!
Barganha política não, obrigado!

Dizer que é utopia a necessidade de transportes publicos urbanos e que não ha viabilidade nem sequer chega a ser uma crítica...é antes um estado de alma de quem não anda por cá! Não serve para nada ou serve apenas para criar a confusão em quem ouve.

E, para a azia, ja agora, ENO!

J.M.Matias
Braga

19 março, 2007 12:37  
Anonymous Anónimo said...

Então O costureiro do cinzentismo, não gostou que o Bolina disesse que o "Rei ia Nu»? Já era de esperar...

se calhar vamos ter mais uma estátua lá nos fundos do parque de estacionamento ou dentro do Centro comercial e o seu autor é? ...Aceitam-se apostas!

19 março, 2007 18:20  
Blogger Manuel CD Figueiredo said...

Quando se fez a apresentação do Projecto BOLINA ao presidente da Câmara,que se fez rodear dos "seus" vereadores,ficou-se com a impressão que tinham compreendido o alcance da proposta. Puro engano! Não sabem nem querem saber ("estas coisas dão muito trabalho").
Depois das duas conferências sobre o BOLINA, já houve tempo de verem que estão sós...e muito mal acompanhados. O que vale é que, para bem dos Poveiros, o BOLINA já vai levando o nome da Póvoa para outras paragens.

P.S.- Não fica bem(ou melhor, fica muito mal) um Arquitecto fazer as afirmações que proferiu (utopia), porque sabe que não correspondem à verdade.

19 março, 2007 23:26  
Blogger Unknown said...

Lamentando a forma e a linguagem como o caso é aqui abordado e exatamente porque “…a responsabilidade social implica esclarecer e não obscurecer!”, DESMINTO DE FORMA VEEMENTE, que me tenha referido ao “Projecto Bolina”, no contexto do debate sobre o tema “Mobilidade Urbana”, promovido pela Rádio Onda Viva, no essencial, como utópico, referindo por duas vezes, na parte final do debate, a ideia de “utopia”.
A primeira referência:(questão levantada no debate entre terceiros)
“Dizer que, apesar de tudo e para alguma satisfação do meu colega Cadilhe, que a utopia também é importante para o debate, e mesmo que o “Projecto Bolina” possa ter alguma utopia e eventualmente alguma demagogia, em sede de debate é sempre interessante. E portanto, desperta novas… (perspectivas…)”
A segunda referência:
Referindo-me de forma clara, à necessidade do “Projecto Bolina” ser verificado no terreno e documentado com uma nova análise do território rigorosa, de forma sólida e não tendo como suporte apenas o estudo da FEUP.
Este estudo foi realizado em 2003 e não tem elementos que possam aferir a realidade actual.
Referi …“E neste sentido é utópico (!)...porque não há uma aferição no terreno!”
A titulo de exemplo, considerando apenas o concelho da Póvoa de Varzim, hoje, em 2007, a Póvoa de Varzim tem em vigor um novo Plano de Urbanização, o metro de superfície entrou em funcionamento com várias estações ao longo do território estudado, existirá uma nova centralidade estruturada a partir da Avenida Mousinho de Albuquerque, a fábrica Quintas & Quintas desapareceu dando lugar uma nova estrutura urbana, existe um parque da cidade em crescimento e em execução, a via B está em fase de conclusão, a praça do Almada deixa de ser uma plataforma circulatória automóvel, a zona desportiva do Varzim e envolvente sofrerão, provavelmente nos próximos tempos, grandes transformações, o hospital inter-concelhio parece hoje próximo da realidade, estão programadas novas unidades hoteleiras, superfícies comerciais e espaços culturais, a introdução de portagens na A28, a dinâmica de crescimento tem-se acentuado a nascente e nas freguesias,…etc!
Tudo novas infra-estuturas que condicionam de forma nova e decisiva o crescimento da “cidade” e uma estratégia de mobilidade urbana!
O concelho hoje tem uma realidade diferente que necessita de ser reavaliada!
O mesmo “Projecto Bolina”, propõe um inquérito, apresenta em anexo uma ficha de inquérito e refere no contexto a necessidade de se realizarem estas reavaliações, solicita contributos e promove debates e conferências.
Ao longo do debate referi-me inumeras vezes à oportunidade do tema e à necessidade da sua eficaz implantação no terreno, à sensibilização, à consciencialização pública para a transformação do uso do espaço urbano ao nível das acessibilidades e dos transportes, à forma decisiva como esta questão tem que ser encarada para o futuro das cidades.
Quem me conhece sabe que é assim!... e como ficou claro ao longo do debate!
Rui Bianchi

28 março, 2007 00:18  
Anonymous Anónimo said...

Obrigado por me desvendarem o mistério. Não sabia quem era o "arquitecto do rei"! Afinal ele veio à tona e assumiu-se!!!
E de que maneira. Só me tinham falado da utopia, mas essa da "demagogia" ainda é mais grave...
Ora, ora!

J.M.Rodrigues

28 março, 2007 13:46  

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