HOJE APETECE-ME O POEMA
O poema
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Como rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
Sophia de Mello Breyner
Livro Sexto (1962)
3 Comments:
A praia da poesia onde ainda se pode vislumbrar essa brisa eterna chamada Sophia de Mello Breyner Andressen.
A intemporalidade de alguns poemas conferem-lhes um estatuto imorredoiro.
Boa opção!
Já não há poetas.. apenas mercenários da pena... acorrentados ao sistema!
eu sou um poeta livre como o mar de Posseidon, de Ulisses e de Sophia.
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