12 março 2006

MICHELLE



Um novo ciclo político na América Latina. Pela primeira vez, um líder indígena, Evo Morales, é eleito Presidente da Bolívia. Pela primeira vez, uma mulher, Michelle Bachelet, é eleita Presidente do Chile.
A Esquerda exprime-se assim e a Democracia acontece como lugar sem descriminações de género ou de “raça”.

No Chile, depois do golpe de estado de 1973 e do assassínio do Presidente socialista Salvador Allende, o ditador facínora Augusto Pinochet. Um pouco por todo o lado, uma onda de privatizações inundava a América Latina.
Duas décadas depois, o fracasso da vaga neoliberal, esvaziada por sucessivos esquemas de corrupção, abriu caminho ao crescimento da Esquerda, enquanto as campanhas internacionais contra antigos ditadores apadrinham a chegada da Democracia.

A partir de ontem o Chile tem, pela primeira vez na sua História, uma mulher na Presidência da República.

Trago do tempo de juventude a tarde em que vi o filme de Hélvio Sotto “Chove em Santiago”, no velho Garrett.
Estávamos em 76 ou 77, não sei bem. Mas sei que, nessa tarde, Salvador Allende passou a pertencer a todos os nomes que me interessam.
As imagens mostraram um outro 11 de Setembro, em 1973. Violência. Milhares de pessoas mortas. O Presidente do Chile foi deposto na sequência de um golpe de Estado. Salvador Allende, o primeiro governante socialista eleito na América Latina, morreu durante o golpe, na defesa do palácio presidencial. Os militares de direita, chefiados pelo general Pinochet assumiram o poder. O regime democrático foi extinto e o país sofreu um terrível banho de sangue.
O filme impressionou-me magoadamente. Como magoadamente fui acompanhando as notícias que vinham do outro lado do Atlântico com as palavras repressão, tortura e assassínio de estado.


Hoje poderiam ser minhas a pergunta e a resposta de Michelle: “Quem poderia pensar há 20, 10 ou 5 anos que o Chile iria eleger uma mulher presidente? A democracia permitiu-o, bem como o voto de milhões de vocês. Não se trata do triunfo de uma só pessoa, de um partido, de uma coligação, mas o conjunto de todos nós”, acrescentou.
No plano económico, o Chile tem uma taxa de crescimento de seis por cento, as exportações duplicaram em três anos e desde a restauração da democracia a pobreza que chegou a atingir 45 por cento da população – fruto da política económica pinochetista inspirada nas teses neoliberais dos chicago boys – foi reduzida para 19 por cento.
Mas, apesar do crescimento registado, a escandalosa distribuição dos rendimentos, geradora de gritantes desigualdades sociais e grande concentração da riqueza continua a ser o grande desafio que a nova Presidente tem pela frente.
A nova ocupante do palácio de La Moneda, a socialista Michelle Bachelet, prometeu ser a Presidente de todos os cidadãos e esbater a profunda clivagem entre ricos e pobres, de forma que o país de Salvador Allende possa “surpreender o mundo daqui até 2010”.

Desta vez não choveu em Santiago.

13 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Há mulheres excepcionais ou excepções na vida que revelam como as mulheres têm capacidades de acção e de liderança?

Carla

13 março, 2006 10:10  
Anonymous Anónimo said...

O mundo precisa de mulheres deste calibre, e POrtugal nem se fala!!!
Como seria bom a Póvoa ser governada por uma mulher assim!
Carminda Oliveira

13 março, 2006 10:13  
Anonymous Anónimo said...

Gostei deste texto e das referências que faz.Entrem no link do filme e vejam a cópia de memorando da CIA, de 1970... O director da CIA disse ao grupo que o Presidente Nixon decidiu que um regime Allende no Chile não era tolerável aos Estados Unidos. O Presidente pediu à agência [CIA] que prevenisse a chegada de Allende ao poder ou o derrubasse e autorizou dez milhões de dólares para essa finalidade (...)
São estes Americanos os campeões da Liberdade e da Democracia!!!
E eu sou o

Homem Aranha.

13 março, 2006 12:29  
Blogger renato gomes pereira said...

O terrorismo internacional- o terrorismo verde - a máfia russa - a Spetnaz - (utiliza(va) os métodos do actual bin laden)--Os Tonton macouts ...

pinochets, fideis castro, ferdinando marcus, milosevics...

são homens eo rganizações como tantos outros(outras)... uns bafejados pela sorte depoderem ser ditadores até à morte natural outros nem por issso...

GOLDA MEIR - foi uma grande mulher assim como Margareth Tatcher..

mas alguma esquerdalha balofa... que é saudosista do passado reaccionário de esquerda (leia-se ex URSS , ex RDA, Ex Cuba internacionalista)...ainda sonha com fantasmas...

Mulher é Igual a homem...tudo o que passe disso é discriminação e violação soez dos direitso do homem que não permitem qualquer discriminação (positiva ou negativa) entre outras, em função do sexo...

13 março, 2006 17:20  
Anonymous Anónimo said...

Partilho da ideia central da igualdade entre os géneros.
A referência ao caso embelemático de Michelle Bachelet não procura senão demonstrar que os cargos pólíticos e de direcção não são exclusivos de homens, mesmo em sociedades marcadamente machistas, como é o caso da chilena.
O que se passa no Chile, sobretudo depois da tão recente ditadura fascista de Pinochet (apoiada pelo governo democrático dos EUA...), é de enaltecer. De facto, apesar de todas as suas fragilidades e contradições,a Democracia constitui o ambiente político mais propício ao direito de ser.

Tal como com os homens, as mulheres, só porque o são., não são melhores nem piores. Mas uma coisa é certa: Tatcher fez a História da Humanidade andar para trás. Não esqueço os reflexos política neoliberal na vida dos mais humildes. E não esqueço a absurda guerra das Malvinas. Por um punhado de terra e de uma ideia de soberania ilegítima,orgulhosa e bacoca, morreram milhares de jovens, afundados por canhões de barcos ingleses...

Homem Aranha

13 março, 2006 18:06  
Anonymous Anónimo said...

Michelle Bachelet é tida como um símbolo de autonomia e de coragem na sua luta pela Democracia, mas, igualmente, de reconciliação do país consigo próprio e com o seu passado.
Filha de um general da Força Aérea chilena, fiel a Salvador Allende, e de uma antropóloga, Michelle Bachelet inicia a sua actividade política aos 19 anos como militante do PS. Depois do golpe de 11 de Setembro e após a morte de seu pai quando estava detido, foi presa e torturada, juntamente com a mãe, nas prisões clandestinas de Villa Grimaldi e Quatro Álamos. Libertada, exilou-se na Austrália e, posteriormente, na República Democrática Alemã, onde casou com o arquitecto chileno Jorge Dávalos, pai dos seus dois primeiros filhos. Em 1979 regressou ao Chile, onde retomou os estudos de Medicina que iniciara nove anos antes e que conclui em 1982. Impedida de exercer a profissão, prossegue os estudos como bolseira, tirando as especialidades de Pediatria e Saúde Pública, que mais tarde lhe serão de grande utilidade na assistência que presta às crianças vítimas do regime militar.
Com a abertura democrática de 1990, Michelle passa a trabalhar na Comissão Nacional da Sida e em outras áreas de saúde pública. Quatro anos mais tarde desempenha o cargo de assessora do então subsecretário de Estado da Saúde e passa a integrar o Comité Central do PS. O seu interesse por questões militares leva-a a estudar na Academia Nacional de Estudos Políticos e Estratégicos, obtendo o primeiro lugar do curso. O facto vale-lhe uma bolsa para o Colégio Interamericano de Defesa dos Estados Unidos e, mais tarde, acaba por fazer um mestrado em Ciências Militares na Academia de Guerra chilena. Designada para assessora do ministro da Defesa entre 1998 e 2000, é depois nomeada pelo Presidente Ricardo Lagos ministra da Saúde e, dois anos depois, ministra da Defesa. Tornou-se, assim, a primeira mulher a exercer estes dois cargos em toda a América Latina. A popularidade que granjeou levou os partidos da Concertação a apoiarem a sua candidatura à presidência. Depois de uma campanha empolgante, venceu as eleições à segunda volta, com 53,5% dos votos.

Homem Aranha

13 março, 2006 18:28  
Blogger Peliteiro said...

Lula da Silva, Evo Morales, Néstor Kirchner, Tabaré Vázquez, Hugo Chavéz e Fidel Castro...

Mistura explosiva de populismo e esquerdismo. Até dá arrepios...

A América-Latina afastada, nos próximos anos, de certeza, da corrida do desenvolvimento e da modernização.

14 março, 2006 00:23  
Anonymous Anónimo said...

Olhe que não caro Peliteiro, olhe que não! O que tem sido a história da Direita no poder da America Latina? Progresso? Não me parece...

E por cá, nem sempre o que tem sido, tem sido o melhor. Mas, para amenizar, deixo-lhe uma anedota.

An american said: "We have George Bush, Stevie Wonder, Bob Hope, and Johnny
Cash."

and the portuguese replied: "We have Cavaco, no wonder, no hope, and no
cash."

Jorge Novo

14 março, 2006 08:48  
Blogger renato gomes pereira said...

O problema das cotas (discriminação positiva?) em favor de maiorias ou minorias nacionais, viola a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão ( que assenta- até prova em contrário- no principio da não descriminação em função das diferenças de género/sexo, côr , condição social, religião, ideologia, etc, etc...)..
O Brasil de Lula da Silva aprovou o principio das Quotas para Negros, no acesso universitário e nos cargos publicos (salvo erro),havendo até um caso de punibilidade de alguém que se opós fincadamente a essa medida...
Mas, essa não pode ser a solução a longo prazo...
Haverá gente preterida com melhores qualificações e piores condições sociais do que os escolhidos seja qual fôr o critério discriminatório...

Poderá haver não negros ( brancos, amarelos, indios, etc..) em piores condições económicas e sociais que os escolhidos...embora exista algum méritoem " escurecer" os orgãos judiciais, policiais, administrativos e militares...mais de acordo com a demografia do portentoso país que é o Brasil...

A mesma questão se coloca em relação ás quotas das mulheres...

Nos cargos politicos as mulheres escolhidas ( no caso portugues) são quase sempre afins ,(afilhadas, familiares- amigas, conhecidas) dos "machos" no Poder...O que significa continuação do mesmo "Clã" no Poder,seja do partido A, B ou C...

sendo discriminado socialmente um otro macho não pertencente ao clâ ou até as suas afilhadas, familiares - amigas e conhecidas...

14 março, 2006 09:30  
Anonymous Anónimo said...

Na Suécia é tudo trocha! Não é caro Cá Fico! Tudo a desrespeitar os direitos humanos...
É precisaemente porque existem padrinhos e afilhados, quer nos homens, quer nas mulheres, que se impõem uma medida que é transitória ( até sermos todos mais evoluídos ) que tenha um efeito de correcção e impeça a situação actual em que só os homens é que Têm tempo e "condições" para o exercício dos cargos políticos. Defender a paridade impondo uma cota de 33% para um dos géneros pode vir a ser salvar a pele aos homens. As mulheres estão em maior número nas universidades... por este andar são elas que ocuparão o poder! Nessa altura será preciso assegurar uma quota de 33% aos homens?

E já agora, Sr. Doutor, é de quotas que falamos e não de cotas!
Ou será cotas?

Jorge Novo

14 março, 2006 10:24  
Blogger renato gomes pereira said...

Jorge "novo"... na "minha terra" "cota" é um "gaijo" que já num é candengue...ou seja já não é moço..mas entradote na idade...

Cota é a palavra aplicada e não quota ( pagamento de alembamentos, participação em sociedade, quinhão, etc)Cota no sentido de "percentagem"...ou "permilagem" se quizer...etc..etc...

A Suécia não é exemplo para ninguém...Não gostaria de viver na Suécia nem sobre o sistema Sueco...

Prefiriria viver numa palhota em liberdade e ter de caçar e pescar para mim, etc etc...do que viver "controlado" por um "welfare" asfixiante...

Há muitas formas de violação dos direitos humanos...

O direito à vida, à procriação, á constituição de familia, á habitação, à saúde, ao trabalho...


Sabia que ter um emprego garantido é discriminatório em relação aqueles que não o Têm?

O que é mais justoO que todos sejam empregados a prazo (por algum tempo) ou uns efectivamente empregados avida inteira e outros desempregados avida toda por falta de empregos?

O que prefere? O viver da solidariedade ou tero gozo de ganhar o seu sustento?


Mande a Suécia às malvas...se gosta de Trabalhar!

14 março, 2006 17:03  
Anonymous Anónimo said...

O que é que o seu gosto por palhotas, palheiros e palha tem que ver com as quotas de géneros serem um atentado aos direitos humanos?

Não se acha um pouco confuso demais, senhor Cá Fico?

Jorge Novo

14 março, 2006 18:25  
Blogger renato gomes pereira said...

Não...

visite o meu blog e disfrute da "confusão"...eh! eh!

"Ruanda e Burundi" nunca foram novidade para mim...

Sei o que é ser refugiado...

Percebo melhor o mundo do que muitos europeus...

..pois sou apenas um africano vaidoso...e lusitano também!

14 março, 2006 22:29  

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