19 outubro 2008

O CRUZAMENTO DAS TORMENTAS E O PARQUE DA BOA ESPERANÇA II

As árvores abatidas por um subterrâneo...

Descobri, entretanto, outra utilidade para o parque da Boa Esperança, isto é, o Parque Dos Trezentos Milhões De Contos de Reis dos Monte Por Quarenta Anos Mais A Aprovação do Vieira e Dos Seus Satélites No Poder E Os Setecentos Mil De Nós Todos Por Via Do Instituto do Turismo.
Por provável distracção dos ilustres criadores do urbanismo local, a minha rua foi premiada com uma daquelas excessivas e caras caixas de vidro por onde se desce ao subterrâneo. Um dia destes, pelas dez e picos da manhã, debaixo duma chuva teimosamente miudinha, ao dobrar a esquina deparei-me com a caixa mágica, ou com a ideia mágica, já não sei bem. A verdade é que entrei, desci as escadas, e, sem me molhar, percorri as centenas de metros que me levaram até caixa de vidro idêntica junto ao Palácio da Justiça.
A paisagem era monótona porque apenas vi paredes e ausências… Mas evitei uma molha e os caprichos do vento que se exprime com mais agressividade no renovado canal da Avenida, depois de terem assassinado as árvores que lhe davam conforto urbano, ao mesmo tempo que escondiam a mediocridade da paisagem arquitectónica agora escancarada.
Durante a caminhada contei 30 carros estacionados, mas havia lugar para dez vezes mais.
Na sexta-feira passada voltei a usar o Parque da Boa Esperança, a quem chamam Eça, sem se importar de incomodar o escritor que viu, em coisas como esta, uma importação que “nos fica curto nas mangas, e ao mesmo tempo um provincianismo bacoco que chega fora de horas, quando os outros já fazem ao contrário por terem aprendido a lição.”.
Usei o parque pela segunda vez, de novo como uma alternativa pedonal à chuva, mais intensa por sinal.
De novo, entre a caixa de vidro plantada na esquina da minha rua, até à do Palácio da Justiça, voltei a contar uma trintena de carros...Olhei para o lado onde é suposto estar o mar e consegui ver raras pintas metálicas: podiam ser outros tantos carros num espaço para quase seiscentos.
Será que, afinal o problema do estacionamento na cidade foi resolvido de tal modo que este parque já não serve para mais nada, senão para circular a pé abrigado do vento e da chuva?
O parque vai servindo para o que não estava previsto. Só parece não servir para guardar os atomóveis que os combustíveis caros, e tendencialmente mais caros ainda, tornam cada vez mais insustentável a sua utilização, como se previu, diante das orelhas moucas dos que mantêm o pensamento amarelo e intermitente.
Diziam eles que faziam o parque para apoiar e dinamizar o comércio local… Não me admiraria se um dia destes alguém viesse sugerir que as lojas da avenida passassem a ter montras subterrâneas abertas para o parque! Apesar da pior qualidade do ar, era outra forma de dar utilidade ao subterrâneo da Boa Esperança.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

silva garcia...

por alguma razão os antigos autores da avenida mouzinho tinham previsto duas faixas separadas uma par ir e outra para vir, assim como na praça do almada uma via circundante...tudo tinha aver com o fluxo estruturante á nacional 13...Os "inteligentes" de agora pensama que tem mais massa encefálica queos de outrora e puseram-se a inventar...e o resultado está à vista... Aquel cruzamento sempre foi problemático...e ainda O NV cortou ofluxo que vinha pela marginal de Aver o Mar pela zona marginal...

19 outubro, 2008 22:59  
Blogger Manuel CD Figueiredo said...

As grandes árvores da Avenida foram propositadamente deixadas ao abandono; conselho para o seu adequado tratamento foi dado ao grande mentor da obra única no país (Macedo Vieira). Sou testemunha disso.
A "sede e a fome" conjugadas não se limitaram depois e apenas ao arranjo do pavimento à superfície, e, contrariando a racionalidade, construiram o "túnel", com menos lugares de estacioamento do que o inicialmente pensado. Fizeram, está feito! Os maus resultados JÁ começaram a aparecer! Quero ver quem, e quando, são pedidas responsabilidades pelo monstro. Nessa altura, aparecerá alguém a arcar com as culpas?

20 outubro, 2008 19:32  
Anonymous Anónimo said...

muito bem.

21 outubro, 2008 09:42  
Anonymous Anónimo said...

Por este andar e não estaremos longe, a forma de rentabilizar o parque será cobrar uma taxa aos peões que por lá passem.Será que tal estragema não foi tomado em conta no estudo económico feito? Será que não iremos ver um centro comercial subterrâneo dentro em pouco?

21 outubro, 2008 14:20  
Anonymous Anónimo said...

Dói muito ver, novamente, aquelas árvores, aquela avenida!
Na Póvoa, tudo se tem sacrificado em nome do desenvolvimento e do progresso (?). Em nome de um cosmopolitismo retrógado e cego, em nome de uma falsa noção de qualidade de vida urbana, em nome dos construtores e dos saqueadores que sempre giraram em torno dessa obsoleta visão de modernidade!
"Mostra-se obra" a qualquer preço! As construções tradicionais com belíssimas fachadas de azulejos, onde estão? Quantas existem? Quem não repara no desequilíbrio urbanístico que grassa por aí? Na coexistência chocante do falso modernismo arquitectónico com as construções da antiga Póvoa? Na estranha organização do trânsito citadino, particularmente, nos novíssimos cruzamentos dessa avenida?
Mais do que um "ensaio sobre a cegueira", a Póvoa tem sido a cegueira". A embriaguez constante de mentes perturbadas pelo poder e deslumbradas com a pequenez das coisas!
"Nem tudo o que luz é ouro"...
MNSouzaOliveira

06 dezembro, 2008 18:47  

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