11 outubro 2006

A TÁCTICA DO CARANGUEJO


A Eurostat , através de uma Nota de Imprensa divulgada nos finais de Setembro, vem confirmar que na Europa dos 25 o número de automóveis privados aumentou cerca de 38% entre 1990 e 2004, fixando-se num rácio de uma viatura por dois habitantes.
Este é um grito de alerta com origem no Dia Sem Carros, que teve lugar em inúmeras cidades europeias no passado dia 22 de Setembro, no âmbito da Semana Europeia da Mobilidade, consagrada à mobilidade sustentável.
O objectivo desta iniciativa é estimular a reflexão e o debate sobre a necessidade de mudar os comportamentos em matéria de mobilidade e particularmente no que concerne ao uso do automóvel particular.
Por esta ocasião, a Eurostat, Gabinete de Estatística da Comunidade Europeia, publicou estatísticas sobre os automóveis particulares e sobre os acidentes nas estradas nos estados membros da UE25, atribuindo ao Luxemburgo, à Itália e a Portugal o maior número de viaturas por habitante.
Em 2004, a EU 25 contava com 216 milhões de automóveis particulares, o que corresponde a um aumento de 38% entre 1990 e 2004. Os principais crescimentos foram registados na Lituânia (+167%), na Letónia (+142%), em Portugal (+135%), na Pólónia (+128%) e na Grécia (+121%).
Ao contrário, a Suécia (+14%), a Dinamarca (+20%) et a Finlândia (+21%) foram os países com crescimentos mais contidos.
Em 2004, existem na EU 25 em média 472 viaturas por 1 000 habitantes, contra 759 pour 1 000 habitants nos Estados Unidos em 2003.
O Luxemburgo é o estado membro que fixou o rácio mais elevado com 659 viaturas por 1 000 habitantes.
A Itália (581), Portugal (572), a Alemanha (546), Malta (525) e a Austria (501) contam igualmente mais de uma viatura por dois habitantes. No fim da escala encontram-se a Eslováquia (222), a Hungria (280) e a Letónia (297).

Não há infra-estrutura viária nem parques de estacionamento que resolvam o caos provocado nas cidades por tantas viaturas individuais.
É por isso que a solução não está em construir mais e mais vias, ou mais e mais parques. A solução está em promover, de forma integrada, a intermodalidade, dando um ênfase primordial e definitivo aos transportes públicos, com conforto, com regularidade, com pontualidade e rapidez e a baixo custo.
Neste panorama tem especial relevo a experiência em cidades como Évora, Coimbra ou Vila Real. Manuel Martins, Presidente da Câmara de Vila Real salienta que o sistema de transportes públicos urbanos foi "a grande solução" encontrada pela edilidade para responder ao "aumento quase descontrolado da utilização de veículos motorizados privados".

Em Vila Real, em 2004, antes da implementação do serviço, cerca de 47% da população deslocava-se de automóvel individual, 29% das pessoas andavam a pé e apenas 19% utilizavam o autocarro. Os jovens estudantes estavam dependentes do transporte dos pais. Hoje, com os transportes públicos, essa dependência acabou.

Em 2005, viajaram no Corgobus cerca de 800.000 passageiros. De acordo com dados obtidos a partir de um estudo de origem/destino, realizado em Maio/Junho de 2006, 20% dos seus utilizadores têm carta de condução e viatura própria e 60% utilizam mais de quatro vezes por semana os autocarros urbanos. Entre 65% a 70% dos utilizadores andam menos de cinco minutos até à paragem, 30% deslocam-se para estabelecimentos de ensino e, em 53% dos casos, estão em causa deslocações casa-trabalho.

Na Póvoa segue-se a tendência do desastre. números publicados no ano passado pelo Expresso apontam para 512 veículos por 1000 habitantes.
Não obstante, na cadeira do poder prefere-se a Táctica do Caranguejo: anda-se para trás, tudo fazendo para manter o colesterol no trânsito e criando novos equipamento indutores de mais carros no centro da cidade, como é o caso do Parque Subterrâneo da Mouzinho.
O congestionamento é a consequência de um tique de teimosia e os transportes públicos, de péssima qualidade, longe de responderem aos desafios do quotidiano são estigma que toda a gente quer evitar, a menos que não tenha MESMO alternativa.

É preciso inverter este estado de coisas!
Urge um Plano de Mobilidade Sustentável e um sistema de transportes urbanos amigo do ambiente, potenciador de mais qualidade de vida para as gentes deste lugar que partilhamos.
Consideremos alternativas!
Reduzamos sua utilização do automóvel ao essencial: desloquemo-nos a pé ou de bicicleta em trajectos curtos e partilhemos o carro com outras pessoas.
Utilizemos os transportes públicos. Um único autocarro urbano significa retirar 40 veículos da estrada e poupar 80 00 lts de combustível por ano!

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Estou de acordo com a anàlise do "MARX" e com aquilo que escreveu, pois não se compreende que depois de saber que o "LINHARES" está com problemas como é que agora a Câmara podia ter condições para abrir uma empresa de transportes. Se o "LINHARES" anda nisto à tantos anos e parece que vai fechar as portas como é que a Câmara consegue rentabilizar tamanho investimento ! Eu acho que para haver dinheiro para tudo não se pode falhar nas prioridades (como por exemplo, para a Etar que cada vez faz mais falta à nossa Cidade.)

16 outubro, 2006 17:40  
Blogger CÁ 70 said...

Pois...

A questão é que há muita confusão sobre os conceitos, os modos e os meios a utilizar.
Por exemplo, a construção da grande ETAR prevista no Projecto do Sistema Multimunicipal do Ave será financiada pelos fundos comunitários e, quando entrar em funcionamento, seremos nós, através da tarifa de saneamento, a pagar a sua manutenção!
POR isso, a máxima prioridade a esta obra não impede outras iniciativas.
Mas, por exemplo, os 1.300.000,00 euros que vai custar a remodelação da Praça do Almada é igual ao custo durante 4 anos que cada Câmara (Póvoa de Varzim e Vila do Conde) teria que suportar com um serviço urbano de transportes constituído por 4 linhas e 12 autocarros, abrangendo o território da coroa urbana constituída pelas duas cidades, a um preço por viagem de 0,60 euros e considerando que seriam as Câmaras a explorar o sistema (o que, na minha opinião não é melhor solução...), implicando a aquisição e manutenção dos veículos, os custos com os abrigos e os encargos com pessoal. E, como disse, atendendo ao estado da arte no âmbito dos transportes públicos, bem como à vocação das Câmaras Municipais, inclino-me mais para uma exploração do sistema através de um regime de concessão, que articule a política de estacionamento com a dos transportes urbanos, assumindo as Câmaras municipais, entre outras acções de gestão urbanística, alguns custos sociais bem como o papel de garante dos critérios de qualidade do serviço público inerente. Nesse caso, a parte que caberia aos Município da Póvoa e de Vila do Conde seria muito menor!
Basta conhecer outras experiências e ouvir os especialistas!

Uma coisa é certa: enquanto há empresas com estruturas antigas e mentalidades ancilosadas, permaneceram inertes perante os inúmeros avanços do estado da arte dos transportes, outras não se conformaram e evoluíram e outras apareceram com dinâmicas muito fortes. É a experiência dessas que nos deve interessar para abordar a problemática na Póvoa e em Vila do Conde e não a das que estão a um breve pé da falência e não demonstram qualquer capacidade de inverter a tendência para a queda.


Voltaremos a trocar umas ideias sobre o assunto!

16 outubro, 2006 21:57  

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