15 outubro 2006

MUHAMMAD YUNUS


Microcrédito.
Conheci a palavra e o conceito há meia dúzia de anos, quando li um artigo que argumentava que é impossível ter paz com pobreza. Muhammad Yunus era o autor da palavra, do conceito e desta ideia simples indispensável à felicidade humana sem o que não há desenvolvimento. Voltou a ser ele o autor que escolhi em Novembro de 2002, quando comprei um livro muito especial editado pela Difel: “O Banqueiro dos Pobres”.
Depois de folhear umas quantas páginas, repetia-se o deslumbramento sobre essa ideia revolucionária de colocar a Economia ao serviço dos mais pobres, e não como ferramenta ao serviço do enriquecimento da minoria possidente. O instrumento era o Microcrédito: uma oportunidade para libertar o homem da subjugação da pobreza e, portanto, da dependência às vezes trágica e obscena do egoísmo e da ganância despudorada de outros homens.
Em 13 de Maio de 2005, no discurso "Depois da Tentação do Traço, a tentação do risco.Pela Póvoa, um risco que vale a pena tentar…" com que assinalei a minha candidatura à Presidência da Câmara, absorvida a influência de Yunos, o Microcrédito surge com impportância estratégica para o combate à pobreza e ao desemprego no nosso concelho.
Disse então:
"Não há completa cidadania quando é magro o pão de cada dia!
Por isso, o trabalho e o emprego são instrumentos fundamentais para alcançar a dignidade e a autonomia necessárias à vivência completa no seio da comunidade.
É urgente ir junto de quem precisa e levar ajudas de emergência.
Mas, é preciso criar mecanismos de autonomização que retirem de vez as pessoas da marginalidade.
Uma parte importante dos desempregados e dos desocupados (principalmente mulheres) não encontram resposta no mercado de trabalho, porque não possuem as qualificações desejadas pelos empregadores, por questões de idade ou porque vivem em locais de baixo dinamismo económico.
Todavia, algumas destas pessoas possuem saberes-fazeres ou capacidades produtivas que lhes permitiriam criar o seu próprio posto de trabalho ou uma microempresa. E têm ideia do negócio a que gostariam de se dedicar. Outras já iniciaram alguma actividade informal de que retiram conhecimentos e alguns proveitos.
Comigo, a Câmara Municipal incentivará os desempregados e os desocupados a concretizarem projectos de auto-emprego. E uma das formas de os auxiliar é criar parcerias com a Associação Nacional de Direito ao Crédito e com o Instituto de Emprego e da Formação Profissional para promover o MICROCRÉDITO.

São as micro-empresas que mais geram emprego em Portugal, e este mecanismo tem permitido a muitos lançarem-se em pequenos negócios que mais tarde geram emprego para outros. Neste sentido o Microcrédito é um instrumento com um grande potencial na luta contra a pobreza
. "
Posteriormente, consagramos esse objectivo no Programa Eleitoral do Partido Socialista apresentado nas Autárquicas de Outubro de 2005:
"É urgente ir junto de quem precisa e levar ajudas de emergência.
Mas, é preciso criar mecanismos de autonomização que retirem de vez as pessoas da marginalidade.
Não há completa cidadania quando é magro o pão de cada dia! Por isso, o trabalho e o emprego são instrumentos fundamentais para alcançar a dignidade e a autonomia necessárias à vivência completa no seio da comunidade.
Assim, incentivaremos os desempregados e os desocupados a concretizarem projectos de auto-emprego e criaremos condições de acesso ao MICROCRÉDITO através de parcerias com a Associação Nacional de Direito ao Crédito e com o Instituto de Emprego e da Formação Profissional
."

O economista e banqueiro Muhammad Yunus, criador do conceito de Microcrédito, do qual beneficiam 500 milhões de pessoas em todo o mundo, sempre acreditou que o fim da pobreza conduz ao fim dos conflitos.

A Academia Sueca concorda e atribuiu-lhe o Prémio Nobel da Paz 2006.

Voltemos ao livro que me fascinou e aguce-se o apetite por uma leitura imperdível. Aqui ficam dois extractos

Recordo-me do entusiasmo com que ensinava as teorias económicas, mostrando asos meus alunos como elas forneciam respostas a todo o género de problemas económicos. Deixava-me transportar pela beleza e elegância dessas teorias. Depois, subitamente, comecei a sentir um vazio. Para que serviam aquelas teorias elegantes quando pessoas morriam de fome nos passeios e nas soleiras das portas?
M.Y.

A minha experiência no Banco Grameen deu-me uma fé inabalável na criatividade dos seres humanos. Levou-me a acreditar que as pessoas não nasceram para sofrer a miséria da fome e da pobreza. Se hoje sofrem, tal como sofreram no passado, é porque desviamos os olhos do problema.
Estou profundamente convencido de que podemos criar um mundo sem pobreza, se assim quisermos. Esta conclusão não é fruto de um sonho piedoso, mas o resultado concreto da experiência que adquiri na obra do Banco Grameen.
O microcrédito, por si só, não pode acabar com a pobreza. É apenas uma das portas pelas quais as pessoas podem sair dessa situação. Muitas mais portas e janelas podem ser criadas para facilitar a saída. Mas, para isso, é necessário ver as pessoas de forma diferente e conceber uma nova moldura institucional consistente com esta nova conceptualização.
O Grameen ensinou-me duas coisas: em primeiro lugar, o nosso conhecimento básico sobre os indivíduos e sobre as suas interacções é ainda bastante imperfeito; em segundo lugar, cada indivíduo é extremamente importante. Qualquer pessoa possui um enorme potencial, e pode influenciar a vida de outras em comunidades, nações, no presente e no futuro.
No fundo de todos nós, há muito mais do que aquilo que tivemos oportunidade de explorar. Se não criamos um ambiente favorável que nos permita descobrir os limites do nosso potencial, nunca conheceremos aquilo que se esconde em nós.
Mas cabe-nos apenas a nós decidir onde queremos ir. Somos os pilotos e os navegadores deste planeta. Se levarmos o nosso papel a sério, podemos alcançar o destino que procuramos.
Quero contar esta história porque desejo que reflictam naquilo que ela pode representar para vocês. Se acharem a experiência do Grameen credível e convincente, gostaria de convidá-los para se juntarem àqueles que acreditam na possibilidade de criar um mundo sem pobreza e que decidiram trabalhar nesse sentido. Você pode ser um revolucionário, um liberal ou um conservador, pode ser jovem, ou pode ser idoso, mas todos podemos unir as nossas forças e trabalhar juntos neste problema.
Pensem nisso
.”


M.Y.

3 Comments:

Blogger Manuel CD Figueiredo said...

Nunca me alegrou tanto como este ano a atribuição do Nobel da Paz a uma pessoa que luta por dignificar o ser humano, e da forma como põe em prática a sua teoria que há-de derrotar os senhores das guerras, quaisquer que elas sejam.
E foi para expressar essa minha satisfação (e esperança num mundo melhor)que escrevi o pequeno texto no «sextante-poveiro» no dia 13.

15 outubro, 2006 21:15  
Blogger CÁ 70 said...

Veja-se o comentário do Comandante Manuel Figueiredo em http://sextante-poveiro.blogspot.com/

Estamos no mesmo timbre!
Um abraço,
J.J.Silva Garcia

15 outubro, 2006 21:18  
Blogger renato gomes pereira said...

Dantes era umpio crente dos Nobel (não se leia NÒbél)Desde que O saramago foi nomeado deixei de acreditar na "pureza" dos Nóbel...pois que vem sempre carregados com intencionalidades politico-ideológicas, em especial o da Paz eo da Economia...Não sei quem faz parte do juri que escolhe mas talvez o teor ideológico desse juri seja o problema, ou a solução...Quanto ao MUHAMMAD; se a solução pra um pouco mais de Paz é o microcrédito.. acabar definitivamente com os bancos ecom o dinheiro não será a solução para a PAZ TOTAL?

16 outubro, 2006 09:26  

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