13 junho 2010

À MARGEM DA INDIFERENÇA




Li no Expresso de ontem e cheguei ao blogue de Rita Ferro...
Espero que não seja atrevimento publicá-la no Cá-70. É que a leitura de palavras como as que Rita Ferro alinha neste apelo (denúncia) pungente, são água fresca de lucidez e têm a urgência de nos intimar à reflexão, mas, sobretudo à acção! A coisa está preta, e não pode permanecer assim por mais tempo!



CARTA ABERTA À FAMÍLIA ESPÍRITO SANTO

Cresci a ouvir falar da vossa família com uma reverência quase tão mística como a matriz bíblica do nome que vos designa.
Em 1931, o vosso avô Ricardo foi mecenas de uma obra social fundada por minha avó, e é em nome dessa memória afectiva que venho hoje galvanizar-vos.
Sabem? Herdeira genética do salazarismo, mas penitente pelos efeitos do seu regime, sinto-me hoje ludibriada por ter dado o benefício da dúvida a quem se perfilou na defesa das suas vítimas para agora as defraudar, apropriando-se de todos os tiques, luxos e vassalagens que, rusticamente, se associam à Direita, e de que toda a Esquerda persistente deveria, ao menos, recatar-se.
Na verdade, devo a meu Pai tudo o que sei de Política: «Nenhum sistema ou nenhuma ideologia pode hoje considerar-se a salvo de suspeita».
Lição breve, mas que sobra para enxergar quando me enganam: o nosso Primeiro-Ministro está mais preocupado em encobrir o lobbying argentário que o assedia do que em escorar Portugal contra a calamidade mundial que afundará, em primeiro lugar, economias moribundas como a nossa.
Todavia, presenciar os ultrajes a que se presta – sem saber ou poder defender-se – não é um espectáculo menos triste do que assistir à demissão dos portugueses que, lesados, falidos e ultrapassados por jogadas de bastidores, contam anedotas para expurgar a impotência.
Sei que sabem: as «classes» acabaram finalmente, não por promessas de Abril – ingénuas nesta matéria – mas porque tanto operários como intelectuais se irmanam hoje no garrote da penúria para que meia dúzia de plutocratas possa beneficiar-se com o que, em justiça, caberia a todos, segundo os chavões humanistas de que sempre se socorrem para burlar os eleitores.
Diverso, o vosso caso: o que se ouve neste momento, nas vossas costas, tanto nas salas como na rua, é que a força deste Governo não lhe advém dos cabelos, como em Sansão, mas da retaguarda que o vosso Grupo lhe assegura para acautelar negócios que, com o álibi das metas europeias e a promessa de retornos delirantes, vão cavando a nossa sepultura.
Refiro-me, claro, a todos estes investimentos – inoportunos nos prazos - em que Sócrates vem embarcando, com a chancela de consórcios financeiros onde, surpreendentemente, consta sempre o vosso Grupo: novas redes de auto-estradas, pornográficas para quem vive na miséria; o TGV para Madrid e a extravagância de uma terceira travessia sobre o Tejo; um aeroporto importante do ponto de vista logístico e estratégico, mas sem tráfego que justifique um projecto faraónico.
É, pois, na qualidade de patriota angustiada que vos rogo que recordem o seguinte a quem, de entre os vossos – tão endividado como nós, e a outra escala – possa também ressentir-se.
Ao contrário do vosso Grupo – e doutros, claro, mas com menos pergaminhos – não teremos a Suíça como abrigo quando a lâmina da bancarrota nos cortar a jugular, pelo que será aqui mesmo, em solo lusitano, desonrados e perecendo entre escombros, que exalaremos o último suspiro.
Se nem isto os demover, pois então que se perfile, coerente, a Fé cristã da Família: estão em causa montantes capazes de SALVAR, literalmente, milhares de irmãos da desgraça, da desonra, da doença, da morte nos hospitais, sem cama nem assistência, e do recurso ao suicídio para o qual a Estatística nos tem vindo a alertar e que disparou, em flecha, desde o princípio da Crise.
Confiem: lembrar-lhes isto seria o acto mais nobre de lealdade a Portugal, tratando-se de um Grupo que, desde o Estado Novo até hoje, tem podido prosperar graças à indulgência de todos os governos e à vista grossa de um povo já exangue.
Dirão que o GES está no seu papel e que cabe a Sócrates prevenir-se; direi eu, que estou no meu, que me cabe defender a minha Pátria de quem quer que a ameace.

Um abraço da Rita Ferro
por ocasião do Dia de Portugal

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Notável.

Abraço de Miguel Andrade.

16 junho, 2010 13:38  
Anonymous Figueiredo said...

É que a Coragem é um substantivo Feminino, também!!!

20 junho, 2010 10:33  

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