06 dezembro 2009

HOPENHAGEN




A Comissão Europeia revelou na semana passada que mais de sessenta por cento dos europeus considera as alterações climáticas “um problema muito sério” e acha que o combate aos seus efeitos “pode ter um impacto positivo na economia da EU”.
As preocupações com a nossa casa comum estão cada vez mais acesas. A mensagem passou, seja ou verdadeira ou verdadeiramente exagerada, como pretendem as recentes notícias condensadas sob um novo rótulo do climategate, uma inesperada polémica sobre a alegada manipulação de dados feita por cientistas britânicos e americanos para exagerar o aquecimento global.

Dizem-nos agora que, afinal, não existiu aquecimento global desde 1998, apesar do crescimento das emissões de CO2eq. Diante de informações contraditórias, fica em causa o hockeystick (termo usado entre os cientistas para designar o gráfico em forma de stick de hóquei que representa a evolução das temperaturas do hemisfério norte nos últimos mil anos, e que foi criado por um grupo de cientistas norte-americanos em 1998). Mas, haja ou não uma relação determinante entre a utilização descontrolada dos combustíveis fósseis e as alterações climáticas, como nos vêm fazendo crer, o essencial é que os problemas de fundo da sustentabilidade ambiental permanecem e agravam-se, pelo que devem ser atacados com determinação e realismo.
De facto, fenómenos climáticos naturais, que sempre existiram, têm tido efeitos cada vez mais catastróficos porque as acções humanas sobre o território têm vindo a criar condições para isso ao desflorestarem as cabeceiras de rios (que agravaram o seu assoreamento e as consequentes inundações), ao aumentarem os riscos de deslizamento das encostas (porque eliminaram a vegetação que as estabilizava), ao construírem cada vez mais em leitos de cheia e ao provocarem alterações cada vez mais extensas e profundas no uso do solo.

Um novo paradigma é preciso, e construí-lo é uma tarefa de todos, dos governos e dos cidadãos.
Daí a importância dos esforços mobilizados para a Cimeira de Copenhaga, onde é preciso ultrapassar a obsessão do aquecimento/emissões para concentrar a atenção na eficiência energética, nas energias renováveis, na minimização dos efeitos das alterações nos usos do solo, no combate à desflorestação, à fome e aos efeitos da variabilidade climática.
É nessa esperança que é preciso apontar e isso implica também não esquecer a equidade e a justiça social. Não há sustentabilidade sem se atender à relação triangular entre o ambiente, a economia e o social.

NOTA
O Climagate consistiu na divulgação, através da Internet, de um conjunto de ficheiros, que incluem programas de computador e emails trocados entre alguns dos principais autores dos relatórios do IPCC, de entre os quais assumem particular relevo os de Phil Jones, director do Climate Research Unit (CRU) da Universidade de East Anglia e Hadley Centre (Reino Unido), de autores do notório hockeystick e instituições responsáveis pelas bases de dados climáticos, como o National Climate Data Center (NCDC) e o Goddard Institute for Space Studies (GISS) dos EUA, consideradas de referência pelo IPCC.
O que se pretende com esta revelação é denunciar que muito do que era suspeito e atribuível a erro humano afinal era intencional e destinado a manter a "verdade" (do IPCC) de que houve um aquecimento anormal e acelerado desde o início da revolução industrial devido à emissões de CO2eq. Segundo o cientista português Delgado Domingos, essa "verdade" é incompatível com o Período Quente Medieval (em que as temperaturas foram iguais ou superiores às actuais apesar de não existirem emissões de CO2eq) e a Pequena Idade do Gelo que se seguiu. É também incompatível com o não aquecimento que se verifica desde 1998. Esconder ou suprimir estas constatações foram objectivos centrais da fraude científica agora conhecida.
A ser verdade, este comportamento escandaloso e intolerável de um grupo restrito de cientistas que atraiçoaram o que de melhor a Ciência tem, só foi possível porque um grupo de políticos, sobretudo europeus, criou as condições para o tornar possível. A ser verdade o Climategate, o comportamento denunciado afecta a credibilidade pública da comunidade científica.

6 Comments:

Blogger Othelo said...

A posição da europa em relação ao problema das alterações climáticas é, no meu entender, ingénua e demasiado bem intencionada tendo em conta as posições assumidas pelos quatro maiores poluidores do planeta, EUA, Russia, China e India.
Que a posição da europa é a correcta, não existe a mais pequena duvida. MAs de que serve sermos os melhores da classe se os maus alunos desrespeitar as leis e acordos assinados e continuam a poluir à vontade alegando a necessidade de crescer e de se desenvolverem.
Como pode a europa querer impor cândidamente aos seus parceiros planetários que acatem comportamentos ambientais correctos, se lhes abre as portas aos seus produtos em pé de igualdade com os produzidos em solo europeu?
Que incentivo, por exemplo, têm os chineses para se preocuparem com as alterações climáticas se nem a sua própria sobrevivência os incomoda. Vejam os exemplos dados na poluição da quase totalidade dos aquiferos chineses, ao ponto de, no decurso dos jogos olimpicos terem dificuldades em abastecer de água potável a capital.
Por outro lado continuamos a importar produtos da china, aos quais colocamos alegremente a etiqueta CEE, e assobiamos para o lado alegando desconhecer que esses produtos foram feitos num pais que não cumpre com as mais elementares regras ambientais e até de diginidade e respeito pela condição humana. Mas isso de que importa. É barato, e isso basta.
Por isso, entendo que a única mensagem a dar a estes países, caso não venham a ratificar o acordo de Copenhaga, como me parece certo acontecer, será atingi-los onde doí mais.
Assim, seria aplicado um imposto ambiental aos produtos oriundos desses países com um valor tão elevado quanto mais elevada seja a sua "pegada" ambiental, fazendo com que o valor desses produtos fosse manifestamente superior ao de um produto idêntico proveniente de um pais da união europeia.
Estou em crer que a medida teria tal impacto na economia da europa que nos levaria a taxas de crescimento bastante superiores a todas as expectativas.
Sustentando esta afirmação sugiro só o seguinte exercicio. Imaginem que todas as empresas do ramo electrónico e automóvel, só para falar nestes dois, voltavam a investir em fábricas na europa desdeslocalizando, essas unidades de produção, imaginem só o impacto dessa medida...
Com uma medida destas, provavelmente, teríamos um acordo sobre alterações climáticas em menos de um pai-nosso...

06 dezembro, 2009 20:03  
Blogger Manuel CD Figueiredo said...

A Ciência,quando manipulada e não está ao serviço do Homem, passa a actividade criminosa.
Em Portugal:
Crimes ambientais, conhecidos e denunciados, ficam-se, no máximo, pelo pagamento de uma multa simbólica.
As "medidas" ambientais, em princípio dedicadas ao combate ao aquecimento global, visam sobretudo a obtenção de receitas.
É (sempre foi) preciso desenvolver e pôr em prática medidas concretas, em cada concelho.
Os organismos/entidades - e todos nós - devem ser os primeiros a trabalhar nesse sentido. Nem sempre isso acontece.
Por esse mundo:
Quando se emitem licenças para poluir (muito)...
Quando as desejadas metas de protecção ambiental se resumem a acordos políticos...

07 dezembro, 2009 11:15  
Anonymous rita said...

www.350.org

07 dezembro, 2009 22:36  
Anonymous Anónimo said...

Na minha opinião de leigo na matéria, mas que se interessa por seguir tudo o que de alguma forma possa trazer maior bem estar para os povos, não posso deixar de notar que tentar diminuir a emissão de CO2 é contribuir para o aumento da efeciência energética, para o incremento do uso de energias renováveis, para o combate á desflorestação, enfim , para tornar o futuro mais viável. A questão de fraude que agora apareceu , segundo leio, não se apoia em qualquer estudo científico, mas simplesmente numa gestão de números adequada aos interesses de alguns. Sem crer branquear esse tipo de desonestidade científica, lamento que ela venha contribuir para gerar uma desconfiança maior em matérias científicas, ou seja naquelas que deveriam estar a coberto dessas manipulações. Já nos chegava a problemática das vacinas para a gripe.Não creio que a ciência posaa ser inteiramente neutra aos interesses, mas começo a pensar que vivemos num mundo em que o CO2 já começou a perturbar muitas mentes humanas, tornando-as predispostas, sem qualquer tipo de análise critica, a aceitar como mais conveniente aquilo que de certa forma vá contra a opinião dominante. É uma forma de estar contra. Num país como o nosso, em que a desconfiança tornou-se no sentimento nacional, deixando a "saudade" para segundo plano, alimentar o Climagate é, na minha opinião, colocar as s questôes ambientais num plano em que as mesmas deixarão de ter a relevância que merecem.
Questiono-me sobre a quem interessará a manutenção da ideia que o CO2 não tem a relevância sobre o clima e da importância da actividade humana na sua produção!! Será para retirar ao Al Gore o Oscar que ganhou?
Estas questões, felizmente, já têm uma abordagem a nível do ensino que me apraz registar, constituindo um poderoso meio para a receptividade das exigências que importa implementar

09 dezembro, 2009 19:33  
Blogger Othelo said...

Se duvidas havia sobre o fracasso da cimeira de Copenhaga em atingir um compromisso palpável e vinculativo, a senhora Palin veio dar mais uma achega.

Que a senhora é um cromo, não há duvidas, mas que ela reflecte uma certa opinião pública americana, e porque não, mundial, leiam o artigo do “Times” que tomei a liberdade de colar abaixo…

“Sarah Palin all but declared global warming a hoax yesterday when she urged President Obama to boycott the Copenhagen climate change conference and to stand up to the “radical environment movement”.

The former Alaska Governor and possible 2012 presidential contender seized upon leaked e-mails from climate change scientists at the University of East Anglia. The scientists have been accused by global warming sceptics of falsifying data to make the case that the phenomenon is real and man-made, something they deny.

The scandal has become a cause célèbre among climate change deniers and sceptics in the US. A group of Republican politicians has vowed to fly to Copenhagen next week to argue that the threat from global warming is overblown and too costly to act on.

Writing on the editorial page of The Washington Post — which was criticised from the Left for allowing her to argue her case — Mrs Palin said: “The revelation of appalling actions by so-called climate change experts allows the American public to finally understand the concerns so many of us have articulated on this issue. She added: “‘Climategate’, as the e-mails have become known, exposes a highly politicised scientific circle — the same circle whose work underlies efforts at the Copenhagen climate change conference. The agenda-driven policies been pushed in Copenhagen won’t change the weather but they would change our economy for the worse.”

Meus amigos, é melhor começar a pensar em comprar uma casita no topo da serra da estrela, porque a água vai mesmo subir…

Publicado no "Penedo da forcada (penedodaforcada.blogspot.com)"

09 dezembro, 2009 23:54  
Blogger RENATOGOMESPEREIRA said...

A engenharia anda aliada à economia...e dificilmente com a ecologia...

13 dezembro, 2009 18:24  

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