10 novembro 2007

VILAR A VALER



1. A páginas tantas, José António Saraiva, Ex-Director do Expresso e actual Director do Sol diz, a propósito da substituição de Mendes por Menezes, que “O PSD é um partido caudilhista” e que a “a história do PSD é, assim, uma história de caudilhos, de tragédias gregas, com finais abruptos. Ora Menezes, não tendo obviamente a dimensão de Cavaco ou Sá Carneiro, tem também essa alma de caudilho e uma indiscutível vocação teatral.”
A seguir, Saraiva explica: “Mas por que é que o PSD tem essa vocação caudilhista? (…) Por uma razão que também já tenho referido: o PSD é um partido sem ideologia, muito interclassista, um verdadeiro albergue espanhol, onde cabe tudo, pelo que precisa de um chefe carismático, audaz, que aponte o rumo e exerça o poder com autoridade.” (1)

2. Por cá, o teatro faz-se em inúmeras frentes e também à mesa do aniversário natalício do Presidente. A prática iniciada por Manuel Vaz foi herdada e intensificada por Macedo Vieira: o “rei” faz anos e os presidentes de junta prestam-lhe vassalagem. O acontecimento biográfico, que devia ser vivido na intimidade familiar e dos amigos, transforma-se num inacreditável e medieval acto político.
Num espaço de caciquismo paroquial e retrógrado, que em nada engrandece os actores, à mesa pode estar um bolo, mas a cereja que lhe põem em cima é a hipocrisia que nasce do medo: quem não for ao festim tem lugar certo na lista negra do Caudilho.

3. Joaquim Vilar, que não tem medo nem é hipócrita, não tem comparecido à jantarada, nem gasto em prendas servis um cêntimo das gentes de Terroso, porque a considera um instrumento que atenta contra a sua emancipação política.
Este ano, terá juntado a esse argumento um protesto pela forma inaceitável como a sua terra e Junta de Freguesia têm sido tratadas pela maioria PSD instalada na Câmara.
Por isso, neste caldo morno e oportunista do “politicamente correcto”, sai mais eloquente a coragem de Joaquim Vilar, um homem simples, que não aliena convicções para apanhar as migalhas que caem ao chão.
É que Vilar sabe o que a sua freguesia tem por direito e não por boa vontade casuística de um qualquer presidente de humores, que cria as condições para que os outros eleitos se curvem diante da sua arbitrariedade.

4. Joaquim Vilar e a equipa que com ele partilha a difícil tarefa de governar Terroso, com poucos meios e diante da hostilidade inacreditável de uma maioria política e um Presidente, que usam o poder municipal de forma enviesada, merecem ser enaltecidos. Os que defendem uma Política com valores têm o dever ético de fazer esta distinção, antes que o desalento e a decepção apontem como único caminho a cedência ao beija-mão.

5. Não compreendo e como é que alguém que, ao celebrar 58 anos, diz ser agora um homem possuidor de “mais sabedoria e calma”, e a seguir reage à ausência de Vilar dizendo que o autarca socialista “não faz cá falta nenhuma, pois tem tido um comportamento partidário”.
Isto é, o pecado de Vilar é não despir a camisola do partido pelo qual foi eleito para vestir a camisola da neutralidade que, na verdade e no actual estado das coisas, mais do que cinzenta, só pode ser cor de laranja!
Contudo, Vilar age com toda a legitimidade política em defesa dos interesses da freguesia para que foi eleito democraticamente. Nessa perspectiva, ele é IGUAL e não INFERIOR ao Presidente da Câmara. Por isso, com coluna vertebral firme, pratica a frontalidade e isso desagrada a quem está habituado à moleza e à bajulice e, sobretudo, tudo faz para as manter e prolongar, tornando os outros mais dependentes.
O comportamento partidário que não se compreende de facto é o de Macedo Vieira e da maioria que lidera!

6. Uma coisa é certa: num jantar que não faz falta (a não ser para alimentar o ego de Vieira, e manter ordeiramente os outros representantes do povo…), ninguém fez falta.
Apenas se percebe a agressão a Vilar, porque este tem valores e princípios e não vende a alma!
Negando-se Vilar às jantaradas da hipocrisia, resta-nos ver agora, como vai o todo-poderoso Vieira tratar da freguesia, igualmente poveira, de Terroso!


(1) JAS, 5/10/!2007 in Uma História de Caudilhos

10 Comments:

Blogger José Leite said...

Por um lado clamam por preservar a sua privacidade, mas por outro, usam um acontecimento privado (aniversário do cidadão Vieira) para colher dividendos partidários...

E lamentável é que só um se aperceba desta hipocrisia, desta duplicidade. Usar um acontecimento de índole privada e íntima para tentar um expansionismo partidário óbvio, é pouco consentâneo com valores de cidadania.

Antes de ser PC não fazia isto. Fá-lo agora. Com que objectivos?

"O outro também fazia a mesma coisa", desculpa esfarrapada que tresanda a seguidismo, a pobreza argumentativa.

Enfim, o pauperismo intelectual e a introdução abusiva do poder na esfera privada, no mais elevado patamar de provincianismo.

O país precisa de mais VILARES, mais verticalidade, mais emancipação mental, mais altivez cívica.

11 novembro, 2007 09:15  
Anonymous Anónimo said...

Os que foram, de chapéu na mão, espnha vergada, talvez tenham sido coagidos com medo de retaliações e de chantagens. é que eles sabem de quem se trata: alguém com tiques autocráticos, que faz da birra e da vingança uma arma política.

11 novembro, 2007 11:01  
Anonymous Anónimo said...

A sabedoria de M.V. é tentar dominar todas as freguesias. Ele não convida os vereadores para os anos. Só os presidentes de junta. Porquê?

Bas ta ver nas A.M. o que se passa. Os presidentes têmmedo de sofrer consequências se votarem contra algumas propostas.

É uma sabedoria rasteira. Uma forma de fazer os presidentes rebaixarem-se. Caso contrario ele retira-lhes meios. Quer conquistar votos tentando captar o apoio dos presidentes. é preciso que todos os socialistas vejam com olhos de ver o que se está a passar.ele quer comprar a alma de alguns a troco de apoios. ele é que é partidário e não admite que os outros o sejam. ele pode ser partidário os presidentes não. quer tê-los debaixo do seu chicote.Puro caciquismo. Pura acção de abuso de poder. nas assembleias esta estratégia vai dando resultados. há quem venda a alma. ainda bem que Vilar os tem no sítio.

11 novembro, 2007 18:59  
Anonymous Anónimo said...

Ser «partidário» é grave. Os laranjas podem ser os outros nunca.
A estratégia é clara: retirar-lhes o vínculo partidário e depois aliciá-los para concorrerem como «independentes» (falsos)para darem forma ao hegemonismo total sobre as freguesias. Esta «cartilha» já é comum noutros lados. Aqui limita-se a copiar.

13 novembro, 2007 15:16  
Anonymous Anónimo said...

Boa noite.
Desde que falaram que existe um grupo organizado que pretende criar um novo Jornal na Póvoa de Varzim que venho a assistir a posts alarmados.
Na realidade existe essa vontade de se fazer de raiz um Jornal independente, ligado a questões ambientais, sociais, politicas, etc.
E, pelo que posso por agora afirmar o Jornal vai mesmo aparecer para deleite de quem não se conforma e se rebaixa, o e-mail para fazerem as assinaturas anuais vai ser publicado em breve, e, desde já garanto que a futura redação do novo Jornal tem todo o prazer de oferecer uma assinatura anual à Exma.Câmara Municipal assim como aos pseudos "jornais" locais.
Com os melhores cumprimentos
Alexandre

13 novembro, 2007 20:25  
Anonymous Anónimo said...

oh alexandre tu de independente tens pouco!!
um pouco mais de modéstia

14 novembro, 2007 10:22  
Anonymous Anónimo said...

Será que o cavalo do poder tomou freio nos dentes e quer tudo sob a sua pata totalitária?

Dizem que pereguntar...

14 novembro, 2007 13:28  
Anonymous Anónimo said...

O maçães de aver o mar também é lambe botas. Agora dizem aqui na freguesia que vai passar para o PSD por promeças de Macedo. Gostava de o ver opinar sobre isto dado que também foi Silva Garcia que o convidou. ele é caudilho?

17 novembro, 2007 12:19  
Blogger cadeiradopoder said...

Uma festa de anos com intentos políticos pouco subtis e altamente preocupantes.

17 novembro, 2007 18:56  
Anonymous Anónimo said...

Como vai, arquitecto.

Quanto ao que diz, concordo. Qual acha ter sido o papel de Amadeu Menezes na gestão de Manuel Vaz?

Vai haver outro jornal, é? Não conseguiram instrumentalizar os que existem, é uma chatice.

27 novembro, 2007 20:49  

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