15 julho 2006

SEM PENEIRAS

desenho de A. Singer


Numa das últimas edições do Expresso foi revelado um pequeno acontecimento que permaneceu meses num verdadeiro abrigo de discrição. É provável que assim continuasse por vontade do actor. Mas, pela original e estimulante atitude, creio que revelar o sucedido tem uma utilidade pedagógica, que talvez nos convenha a todos.
Ingvard Kamprad, fundador da IKEA, fez uma visita-surpresa à loja de Alfragide em Maio do ano passado. Na altura, o 4.º homem mais rico do mundo ficou alojado na modesta Pensão Alegria, no centro de Lisboa. Na deslocação è única loja que o Grupo IKEA tem em Portugal utilizou os serviços de um táxi, mas no retorno até esse luxo dispensou, optando por apanhar a carreira n.º 14 da Carris que o trouxe directo para a Praça da Figueira. Kamprad, hoje com 80 anos, é conhecido pela sua simplicidade. Recusa com determinação ficar alojado em hotéis com mais de 3 estrelas e em viagens de avião ocupa sempre um lugar na classe económica.
Não terá sido por falta de meios que Kamprad optou pela alegria da pensão ou pela carreira 14, nem consta que fosse por avareza.
Mas, foi com certeza, por causa de uma opção de vida, assente na simplicidade, na utilização prática das coisas, colocando-as no seu lugar relativo.

Deste exemplo retenho agora um dos lados, mesmo não sendo o essencial.
Kamprad poderia ter à sua disposição um carro topo de gama, com condutor. Mas, preferiu deslocar-se utilizando os transportes públicos.
É esta disponibilidade interior que nos falta, num país com mais de 500 automóveis por 1000 habitantes (quase o dobro do que se passa dos países ricos do Norte da Europa...), que esmagam todos os dias as ruas apertadas das cidades.
Mas, é esta oportunidade que, os obstinados que vão atrás do que já se viu que foi ultrapassado, nos recusam com soluções urbanísticas que dão prioridade a outras promessas e colocam o sentido da História num traço interrompido.
Muitos dos decisores, detentores do poder politico real, continuam a valorizar o transporte individual como protagonista do programa e do desenho urbano, quando, à volta, tudo indica que, sem necessidade de o eliminar, a qualidade de vida passa por refrear a utilização do automóvel parcticular e por criar soluções de mobilidade alternativas e complementares.

Por razões de fluidez funcional do tráfego, diminuindo as perdas de tempo nas deslocações, por razões de defesa da qualidade ambiental, por razões de racionalidade na gestão energética (os combustíveis fósseis são um dos principais agentes poluidores, ao que acresce o seu incontornável e permanente aumento de preço, por causa de conjunturas económico/politico/militares, mas, sobretudo, por motivos estruturais)... imaginem que, primeiro, se dinamizava uma boa rede de transportes públicos, articulando modos diferentes de mobilidade?
Qual seria a consequência previsível?
Com toda a certeza a redução – no início provavelmente tímida, mas progressivamente crescente – do uso do automóvel particular nas deslocações, para as quais se haviam criado alternativas.
Com isso, a redução da afluência de automóveis ao centro da cidade, a redução do trânsito…melhor mobilidade, mais qualidade de vida!
Nessa altura, que sentido faria a construção de mais um parque para 600 automóveis no centro da cidade então?
Percebe-se agora a precipitação? Que a prioridade dada a mais um parque central é pôr a carroça à frente dos bois?

É provável que a inutilidade atingirá o Parque da Mouzinho, porque é inevitável a mudança do paradigma da mobilidade!
Por isso é descabido pretender - como o faz o Caudilho - que é um bom negócio para o Municipio a sua concessão a um privado durante 40 anos (que é quem vai levar a parte de leão), na medida em que, ao fim dessas quatro décadas, passará a ser propriedade da Câmara! Propriedade será! Mas, talvez inútil, senão mesmo problemática.
Até que o bom senso consiga assentar arraiais nos interstícios da alienação, é provável que esse decisores maravilhónicos continuem a adiar a criação de uma rede de transportes colectivos, moderna e sustentável… para justificar a teimosia e o capricho e para não estragar o negócio do concessionário do Parque da Mouzinho!
Objectivamente, para os que, debruçados sobre o próprio umbigo, insistem renitentes na recusa de estudos que atrapalham os preconceitos, continuar a capitualação perante a irracionalidade do excesso de automóveis no centro das cidades e como solução sacrossanta da liberdade e da mobilidade individual, é fazer INVESTIMENTO PÚBLICO; por outro lado, promover a mobilidade sustentável, apostando no transporte público amigo do ambiente é DESPERDÍCIO DE SUBSÍDIOS!
Assim vão, irresponsavelmente, atrasando o Futuro...!

11 Comments:

Blogger renato gomes pereira said...

Um futuro melhor passa pela abolição dos Bancos e Companhias de Seguros, das empresas de construção civil, dos presidentes das Câmaras municipais e tudo o mais...
Porque:
1º Quem inventou o dinheiro "devia ser preso"...
2º Deve-se dar " a Cesar o que é de Cesar"
3º Todos sabemos que nada do que Cesar tem lhe pertence...

15 julho, 2006 19:09  
Anonymous Anónimo said...

Muito bem, Arquitecto!
O que diz torna clara a inversão de prioridades. Também concordo que se fosse dado todo o gás na criação de um sistema municipal ou intermunicipal de transportes colectivos, público ou numa parceria público-privada,teríamos inevitavelmente menos automóveis no centro urbano, que não é só a zona da Mouzinho, é toda a Póvoa que sofre com tanta lata e tanto fumo. E, desse modo, menos necessidade de parques centrais!

Pedro Bandeira

16 julho, 2006 23:20  
Anonymous Anónimo said...

Já viram que se, daqui a três anos mudar o poder na Póvoa e os novos politicos decidirem finalmente pelos transportes públicos, vão estragar a vida ao MonteAdriano, o concessionário do parque subterrâneo?

16 julho, 2006 23:23  
Anonymous Anónimo said...

Ò Universalex, essa já tinha sido colada noutro assunto. Falta de ideias, ou só para reforçar?
O quadrilheiro-mor e seus sicário estão a conseguir o que pretendem. Desviar as atenções sobre os saques com que enchem à 12 anos os seus pessoais cofres. O Parque da Avenida Mouzinho não tem a minima justificação para ir por diante. Nem aquela peregrina de ser uma promessa eleitoral. Muito menos essa.São tantas as promessas eleitorais com que arregimentaram votos que, uma bastava para dar um sinal de que Manuel Vaz afinal até era um SANTO. Ele nunca roubou os poveiros, como o fez e faz o Quadrilheiro-Mor Macedo Vieira. Pode o Tribunal para onde recorreu dizer o que disser, Macedo Vieira, enganou e roubo o dinheiro dos poveiros. Mais de 40 mil contos. Mas como ladrão que rouba um cesto, rouba um cento, enquanto se discute o Parque da Avenida Mouzinho, ele e o seu Sócio, Aires Pereira, já vieram a público dizer que a Praça do Alamada vai ter uma equalificação a custo zero, com inauguração para o S. Pedro de 2007. O que não disseram, é que essa requalificação se insere na estratégia de reduzir ao minimo os lugares de estacionamento, por forma a permitir que os sócios no Parque da Praça do Almada, sejam ressarcidos do investimento feito, e que por ser caro está com pouca ocupação, e também para justificar os dois carros - o Porche e o Mercedes - com que brindaram os decisores. O MONTE e MONTE comprou mais barato Luis Diamantino. O Apartamento de Ponte de Lima que deu de entrada para a actual vivenda, foi tipo pagamneto aos soluços. E que tão católico era o senhor!Por isso, vale bem a pena não desviar as atenções da quadrilha, entre um parque e outro.

17 julho, 2006 04:22  
Blogger renato gomes pereira said...

claro..mas depende do acordo de concessão que for assinado..nada me admira que lá conste uma clausula que penalize aCãmar a pagar os lugares que fiquem ás "moscas"..Ou sej quem não tem carro..nós os outros ou nunca lá quis estacionaro que tem ainda vai ser forçado apagar...

deresto já está apagar só com a construçaõ do subterrânreo..

porque não fazem eles parques GRATUITOS? OU que aspessoas ainda recebecem prémios equivalentes às moedas dos parcóetros?

17 julho, 2006 08:23  
Blogger renato gomes pereira said...

Pobeirinho é so para "reforçar...

e tudo isto porque:
A)
Porque:
1º Quem inventou o dinheiro "devia ser preso"...
2º Deve-se dar " a Cesar o que é de Cesar"
3º Todos sabemos que nada do que Cesar tem lhe pertence...
B)
E ao contrário do que pensa e diz
o camarada ALBERTO MARTINS
Quem está contra não quer dizer que defenda interesses corporativos...
até porque eu não sou do PCP nem do BE e estou contra o ABORTO... e secalhar pelas mesmas razões que eles o defendem...

..as questões sociais...

..pois todos tem direito à vida em DIGNIDADE!

e daí que:

C

Um futuro melhor passa pela abolição dos Bancos e Companhias de Seguros, das empresas de construção civil, dos presidentes das Câmaras municipais e tudo o mais...
Porque:
1º Quem inventou o dinheiro "devia ser preso"...
2º Deve-se dar " a Cesar o que é de Cesar"
3º Todos sabemos que nada do que Cesar tem lhe pertence...

17 julho, 2006 10:55  
Anonymous Anónimo said...

tá-se mesmo a ver que vamos todos andar de metro como eu (ironia claro):
*pagar balurdios
*perder um metro e esperar 20 minutos por outro
*andar 10 minutos de casa-estação
*demorar 1 hora para chegar ao Porto
*E, para andar na Póvoa, como se vê o metro não serve pois só há uma estação nos quintos, duas se contarmos são Brás que fica na fronteira Póvoa-Vila do Conde.
*E, se calhar estar 1 hora de pé, porque o metro decidiu que no Verão andam menos pessoas a usar o metro. E decidiu que 20 minutos é pouco e o ideal é esperar 22 minutos.

Ou o senhor Garcia está a sugerir para usarmos autocarros? Se calhar os da Linhares, e outras empresas que fazem um excelente serviço do qual como é obvio ninguém usa desde que os pastorinhos foram para o céu.

Falar é muito bonito, principalmente quando o senhor quer que o seu carrinho ande sem parar nas ruas e que os outros usem sistemas de transporte publico que mesmo inaugurados há poucos meses não servem.

Não percebo porque faz tanto barulho por causa de um parque subterrenaeo (algo que nem sequer tem eco na sociedade, e que não atrapalha ninguém se for um parque bem feito e discreto como é o do casino), quem dera que ouvessem muitos mais parques subterraneos assim na Póvoa! O problema pode ser o preço. E, a Câmara deve ver fazer com que os moradores tenham algum direito de uso desse parque.

Se no sitio das estradas tivessemos jardins claro que a qualidade de vida disparava, mas isso é pura fantasia.

Ainda por cima o governo do seu partido, que também infelizmente votei nele, está a desinvestir forte e feio na região e até mesmo a atacaar o próprio desenvolvimento do metro, lembre-se que a extensão do metro na Póvoa era para ser feita de imediato por que o metro viu que uma estação no limite sul não servia a cidade, mas o seu governo decidiu parar, mesmo que isso tenha prejudicado toda a linha vermelha do metro, daado que a Póvoa é o maior nucleo urbano que a linha pretende servir. Logo esses desejos não passam de puras fantasias, bem distantes da realidade.

17 julho, 2006 12:09  
Anonymous Anónimo said...

Parem de escrever textos longos...

17 julho, 2006 17:43  
Anonymous Anónimo said...

caro arq.

pode até nao estar diirectamente relacionado com o post, mas gostava de fazer alumas reflexões...

como o titulo diz, sem peneiras, eu até gostava de saber se nos poveiros temos de pagar a agua ao preço que pagamos, para que se possa continuar a investir no desenvolvimento do concelho, ou se é para manter os luxos de alguns senhores, que deviam trabalhar sem peneiras...
ainda estou para perceber qual a razao de os vereadores terem direito a motorista... pensava eu que todos eles tinham carta de condução... e com essa brincadeira, la se gasta mais uns milhares de euros... tb nao percebo porque razao ao fim de semana alguns desses motoristas andam a passear-se pelo concelho, nos carros da edilidade, mas com as familias...
essa brincadeira la nos custa mais uns trocos...
e os tachos? porque razao nao param de aumentar? sera que sao mesmo precisos ou é so para fazer um jeito ou pagar favores? mais uns trocos pelo cano abaixo...
e já agora... ca na terra temos um vereador responsavel pela agua, que ainda nao ouvi explicar o porque de se pagar preços exorbitantes pela agua...
porque será? ignorancia ou incompetencia? se é incmopetencia, o melhor era demiti-lo... afinal a politica da juventude não existe... a ambiente é o que se sabe, ainda ha muita gente que se quer separar o lixo, tem de andar com o respectivo no carro até encontrar um ecoponto (se nao houvesse tantos motoristas e tachos, ja havia dinheiro para os ditos ecopontos)... e recolha pelos restaurantes é interessante... mas e o resto da cidade? é paisagem? qual é a imagem que se tem ao passar a noite pela cidade, e ver o lixo nas ruas até a hora de passar o camiao da recolha? é esta a imagem que querem que a cidade da cultura e do lazer tenha?
e porque razao é que esse senhor (nao o tratem por eng. porque ainda nao o é) nao responde as questoes que lhe sao colocadas nas assembleias municipais?
lá está... é ignorancia... vê-se logo pelas poucas entrevistas que dá... fala, fala, fala, fala, mas nunca se consegue aproveitar nada do que diz, e para nao dizer asneira, fica calado quando é questionado... é ou nao é ignorancia?
bastava demiti-lo, e ja se poupavam mais uns trocos...
era muito facil poupar dinheiro... era so pegar no que se gasta mal gasto e viver e trabalhar sem peneiras na camara municipal, e já nao tinhamos de pagar a agua mais cara do país...
tenho ou nao tenho razao, sr arq?

17 julho, 2006 18:13  
Anonymous Anónimo said...

quem encerrou as linhas de comboio feitas no tempo de SALAZAR??
Alguem as tentou manter ou reconverter em meios mais rapidos?
pelo Contrário, hoje em dia fazem mais caro e pior, ... ... se tiverem duvidas
vá ao Porto NO
Metro da LIBERDADE
E COMPARE-O COM
O COMBOIO DO FASCISMO
qUEM GANHA, Seja honesto, não comigo, consigo!!!
Almada Negreiros

17 julho, 2006 22:19  
Anonymous Anónimo said...

Ó PENSADOR, TENS CARRADAS DE RAZÃO!

17 julho, 2006 22:23  

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