18 março 2006

NO ARAME

foto de Paulo Marques

Hoje, como sempre, nada de pessoal.
E para que não fiquem dúvidas, não falarei de olhares, nem de indumentárias.
Mas, não sou de ficar calado diante do que, na vida pública, me causa perplexidade.


PRIMEIRO EPISÓDIO

Sobre a condenação do recém substituído, Luís Diamantino Baptista disse (1) que "a sentença em questão, no que ao Eng. Aires Pereira diz respeito, será superiormente revista. E, em qualquer circunstância, quer esta Comissão manifestar ao Eng. Aires Pereira a sua total solidariedade política e pessoal, que sabemos partilhada pelos social-democratas e pela generalidade dos Poveiros".

(1) in Comunicado do PSD-Póvoa

Dizer, disse. Mas, como pode ter a certeza de que a sentença será superiormente revista?
E, a ser revista, será para absolver o que todos já perceberam que constituiu, no mínimo, um desvio ético e político? Ou será para agravar a pena que, convenhamos é irrisória?

Solidariedade pessoal, ainda vai...
Mas, qual o sentido de manifestar total solidariedade política “em qualquer circunstância”?
Talvez um fio de luz, uma réstia de consciência que obriga a reconhecer a falta de condições para condenar o companheiro e ficar de fora, depois de também ter responsabilidades éticas e políticas no Caso Dourado?

E como pode L. afirmar que sabe que essa solidariedade política e pessoal é partilhada pela generalidade dos poveiros?
Não será esta afirmação gratuita um desbragado gesto de abuso de poder?
Em relação a esta trama, será que a reprovação ética e política apenas é feita por meia dúzia de poveiros?
Ou serão, pelo contrário, meia dúzia os que fazem das tripas coração e nos tratam como néscios, para justificar o injustificável?



SEGUNDO EPISÓDIO

"Luís Diamantino é o novo presidente da Comissão Política Concelhia (CPC) do PSD/Póvoa depois de ter encabeçado a única lista a sufrágio. De um total de 231 militantes com as quotas regularizadas votaram 91, tendo-se registado 89 votos a favor e dois em branco."

In Póvoa Semanário, in Diamantino sucede a Aires Pereira no PSD, edição de 2006.03.15



Sai Pereira e entra Baptista que, afinal já por lá andava.
Um e outro, por causa da maçã “dourada” deveriam pedir desculpa a todos nós e reparar a oxidação do fruto. Mas, se a tanto não são capazes, recomendaria o pudor que escolhessem o deserto para a purga da alma.
Nem uma coisa, nem outra. O poder pelo poder é a génese de toda a cegueira política.
Luís Baptista, ao que parece Diamantino, toma de Pereira o testemunho e começa manchado por um pecado original. O nome bíblico de pouco lhe serve, e o Rio Jordão não passa no noroeste da Praça do Almada.

O novo inquilino da Comissão Política do PSD pega fragilizado nas rédeas do comando.
A maçã “dourada”, fruto surrealista dum certo Pereira, o Aires, também atingiu o Baptista, que se deixou tingir por um dos mais negros instantes da vida autárquica da minha terra.

Mas persiste e insiste, porque assim resiste, como se a mancha não existisse por se fingir que não é vista.

Mas, que a mancha permanece, ai isso prevalece…entontece e, por mais que a ignorem e a disfarcem, escurece!

EPÍLOGO
O novo inquilino do directório do PSD-Póvoa leva na bagagem pelo menos um pecado original: embora não formal, a cumplicidade com o Caso Dourado, num dos momentos negros que sintetiza o negro do abuso do poder, prática quase sempre subtil que, desta vez, se despreocupou e apareceu despida e sem complexos!
Pode vir agora tentar esbater a falta de ética consubstanciada no golpe engendrado e produzido à vista de todos e de que, só por intolerável hipocrisia política e cobardia intelectual tenta desresponsabilizar-se, na desvendada intenção de amenizar o tufão, que eles próprios criaram deturpando a Lei, ao ponto de transformar um castigo num prémio!
Bem pode tentar, para desculpabilizar o outro, como forma de se desculpabilizar a si próprio. Mas, só engana os olhares turvos. As suas palavras imitam mal o sabão. Por muito que se esforce, não cerzem o vazio rasgado na tela da decência. Mantém-se o pântano. E a cumplicidade parda e lamacenta permanece para além do verniz ilusionista!
Quer mostrar solidariedade a Aires? Faça-o mostrando-lhe o caminho da demissão e seguindo-lhe os passos!

A política não se compadece com o equívoco, muito menos com a irracionalidade.
O poder é efémero, mas a dignidade é o que quisermos dela fazer.

4 Comments:

Blogger Manuel CD Figueiredo said...

Que o próprio professor(também ele envolvido no «exemplar processo) manifeste a sua solidariedade política e pessoal para com o Eng.Aires Pereira, vá que não vá, cada um mostra a Moral que tem; que os social-democratas poveiros também o façam, custa-me a acreditar porque não creio que todos se meçam pela mesma baixa bitola de Valores; já quanto à «generalidade dos Poveiros», considero que isso é abusar da honestidade da tal «generalidade». É um abuso!
Será que a «generalidade dos Poveiros» se revê nestas declarações, proferidas por alguém que da Ética se encontra afastado?
Como é que mesmo os mais ingénuos podem acreditar no sr.professor quando, para além daquelas declarações, ainda tem o desplante de tecer aquele tipo de considerações sobre a Justiça?
É por esta forma de agir - condenável - que conseguem continuar a enganar as pessoas!

18 março, 2006 20:24  
Anonymous Anónimo said...

Temos que fazer como na Argentina, ... ... cada vez que a coisa cheira a podre, sair á rua com tachos e panelas e reclamar frente a todos e com a cara destapada.
De inicio seremos poucos, mas acredito que com o tempo isso iria ter reflexos na impunidade existente,( porque no fundo eles não foram julgados, julgados seriam se os obrigassem a devolver a reforma indevidamente atribuida)e que de poucos e valentes seriamos muitos e cada vez mais exigentes.
Olag

18 março, 2006 21:47  
Blogger voz da póvoa said...

Muito bem!

19 março, 2006 12:15  
Blogger renato gomes pereira said...

CARO ANÓNIMO:
então teriamos que estar sempre na rua...Cá-Está tudo podre!!!
E 70 s limpar ainda te sujas mais...eh! eh!

20 março, 2006 09:24  

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