19 junho 2011

DIVIDA ODIOSA



Em Portugal foi feita a tão reclamada clarificação da situação política.

O PS sairá do governo. Foi convenientemente apontado para culpado de tudo, por um caldo doido de economistas escolhidos a dedo, comentadores e políticos ambiciosos e ansiosos. Na verdade, foi sobretudo culpado de ser pouco socialista, embarcando muitas vezes na mesma lógica do pensamento dominante que está na origem da crise que assola o mundo inteiro.

Numa estranha contradição, o povo que votou (pouco mais do que ficou em casa) escolheu a Direita que promete as mesmas receitas que estão na base e explicam a crise criada, e que certamente a agravará! A Direita confirmou o seu poder no poder e prepara-se para continuar a impor às pessoas a escravatura à economia. Liderada pelo PSD que viu vantagem na transformação de Portugal num protetorado da Troika, afirmando sem receios que assim lhe seria mais fácil pôr em prática o seu programa político, assumidamente neoliberal. O PSD mais radical e menos socialdemocrata desde a sua fundação; ainda me lembro do programa laranja de 78 que propunha a “socialdemocracia como via reformista para o socialismo”.

Apesar da clarificação política, os juros especulativos da divida soberana continuam a subir a provar que o problema afinal não é só de Portugal!
Os juros sobem na Grécia (onde o desespero se acentua com consequências de dimensão imprevisível), sobem na Irlanda e em Espanha. A França está já na mira dos “mercados”, uma vez mais às mãos das empresas de “rating”!
Ao mesmo tempo, a estrutura pensante que vai magoando o projecto europeu, continua desgraçadamente cúmplice, por omissão e por acção, deste crime contra a humanidade, para usar as palavras de Saramago.

Enquanto no PS se contam espingardas para um lado e para o outro de dois nomes, o que precisamos é de debater um projecto para o país e para a Europa, e soluções para sair deste atoleiro. Isso não se faz com cedências, mas com rupturas! Não é possível ser complacente com quem está a desbaratar o que se construiu durante décadas, com o esforço de muitos, de alguns que deram a própria vida por um contrato social baseado nos princípios da solidariedade. Não é possível ser complacente com quem está a ganhar fortunas com a miséria de todos, num saque insaciável que acabará por fragilizar a Paz.

Como cidadão não me sinto refém da assinatura de um acordo de capitulação aos interesses da especulação financeira, contra o qual me opus por ver nisso uma solução ao contrário!
Na verdade é indispensável fragilizar o lado que está de cócoras a servir os interesses da economia de casino em que nos meteram! Isso começa pela urgência de uma auditoria independente e séria à dívida! A quem que devemos? Quanto devemos de facto? Porque é que devemos? Qual é a legalidade e a legitimidade dessa dívida?
No Equador houve lucidez para o fazer e confirmou que mais de 70% da dívida era falsa ou ilegal! Porque haveria um povo de pagar com uma vida de miséria a factura de um roubo?

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Concordo parcialmente com o que disse...
Quando refere a França não diz em que contexto é que ela irá baquear.
Não nos podemos esquecer que os famigerados "mercados" nada mais são do que os grandes bancos franceses e alemães a tentar sacar de países como a Grécia, Irlanda e Portugal os cerca de 30 mil milhões de Euros que perderam com a guerra do Iraque onde os nossos "amigos" americanos consideraram essa dívida como dívida odiosa.
Não devemos esquecer que a compra dos submarinos alemâes estão sob a alçada do princípio jurídico anterior assim como o famigerado negócio das G36 para substituição das G3 nas nossas forças armadas que acabou por não se concretizar.
Tudo indica ter sido substituído pelo TGV que iria fazer um dos grandes empochar uma pipa de massa.

Esses ladrões, assassinos de economias, esquecem-se que após a 2ª Guerra Mundial viram as suas economias ajudadas pelo plano Marshal sem introdução de dificuldades acrescidas para os seus povos. Portugal foi obrigado a contribuir para essa ajuda e veja-se o retorno solidário...

12 julho, 2011 00:39  

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