05 junho 2011

VOTO MARGINAL






Domingo eleitoral.Pouco mais das 10 da manhã.

Já previa a pândega da campanha eleitoral e a sua genética e intrínseca inutilidade. Com excepção de uns poucos, à esquerda da indiferença, ninguém quis discutir com seriedade o que nos espera com o programa de governo ditado de fora, para pôr nos eixos este protectorado em que, desde a maioria cavaquista, transformaram o rectângulo verde e vermelho.

E conheço de antemão e como as minhas mãos os resultados destas eleições. Até à centésima.
Ganham os do convencionado arco do poder, a troika nacional, qual espelho da troika que, em nome dos que induziram disfarçada e manhosamente a fragilidade dos países, veio consolidar o saque sugerindo que vão consolidar as contas públicas; nessa mentira pegada que consiste em esbulhar até ao tutano a riqueza que milhões de pessoas produzem em quotidianos de esforço, não para uma vida digna, mas para alimentar a insaciável e obscena ganância dos donos do casino.

Conheço de antemão e como as minhas mãos os resultados destas eleições. Foi tudo decidido no hotel de Bilderberg. Como lhes convém, ganhará a troika-tintas nacional. Os números de cada um dos três pouco importam. Eles vão entender-se, distribuir lugares para ministros e para gestores nas empresas públicas e nas associadas privadas. A recuperação económica do país real pouco importa. Pouco importa se a agricultura, as pescas, o sector produtivo vão mesmo ser reinventados e revitalizados, reconstruindo o que os bons alunos neo-liberais destruíram paulatinamente durante vinte anos, levando-nos à actual e insustentável dependência. Ouvi-os na sua comum hipocrisia, despidos de memória, como se nada tivessem com isso. Ouvi a gritaria a simular uma nova narrativa, mas não lhes vi uma única medida credível nesse sentido.

O importante é que os bancos voltem aos lucros de milhões. Por isso, quaisquer que sejam os números e seja qual for o rosto do comissário que continuará a ir a Bruxelas prestar contas e receber ordens, aconteça o que acontecer hoje até às oito da noite, os ricos vão continuar ricos e a enriquecer, os pobres vão continuar pobres e a empobrecer! O essencial não mudará porque, mantendo-se ao leme os que o fado marcou com o sinal do arco governativo, manter-se-á o modelo e a submissão aos interesses da especulação desenfreada.

Mesmo assim, nesta farsa democrática de cinco minutos, vou votar. O meu voto poderá pertencer à utopia, mas será a expressão do meu inconformismo.
Por isso vou votar na margem, porque o tempo é de sair do centro, ser excêntrico e marginal, olhando de fora, com espírito crítico, a floresta de enganos. Só desse modo se juntará a energia para um tempo novo!

3 Comments:

Anonymous Raquel Pereira said...

E continuamos a dirigir-nos às urnas com uma total insignificância face ao futuro, face ao nosso futuro, desmotivados, desinteressados, 'que venha qualquer um', é este o pensamento português. É necessário acabar de vez com esta pescadinha de rabo na boca, com este efeito de espiral que nos hipnotiza e nos impede de ver para além das fachadas, impede-nos de desenvolver um olhar verdadeiramente crítico e menos iludido na inocência de que 'não há nada a fazer' e de que 'tanto faz'...

05 junho, 2011 11:52  
Blogger Manuel CD Figueiredo said...

Caro Arq. Silva Garcia,

O meu aplauso por este texto.
Quando confrontados com o inconformismo - derivado de tantas razões - poderá não haver utopias.
Uma qualquer renovação começa com um acto de revolta, mesmo sendo apenas interior.

Não referirei a (geral) despudorada, vergonhosa e inútil campanha eleitoral. Esperava ver explicadas ideias e medidas, e não assistir à hipocrisia e (mais uma vez) enganadora dos (quase todos) líderes partidários.
O apelo do PR à participação no acto eleitoral, com a justificação que apresentou (a grave crise do país e a responsabilidade política de cada um) é patética. Uma mensagem "marginal"...

05 junho, 2011 15:31  
Blogger José Leite said...

Infelizmente há cada vez mais portugueses a pensar assim...
Bildeberg é quem mais ordena... e VIVA O CASINO!!!

07 junho, 2011 08:22  

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