DECLARAÇÃO COM SENTIDO
Ele não é um qualquer anónimo sem substância. Paulo Varela Gomes, é licenciado em história pela Universidade Clássica de Lisboa (1978), mestre em história da arte pela Universidade Nova de Lisboa (1988), doutorado em história da arquitectura pela Universidade de Coimbra (1999). Docente do DARQ desde 1991, professor convidado do Dep. Autónomo de Arquitectura da Universidade do Minho desde 2001, docente convidado de outras universidades portuguesas e estrangeiras. A principal área de investigação e publicação tem sido a história da arquitectura e da cultura arquitectónica portuguesa dos séculos XVII e XVIII.
Varela Gomes divulgou recentemente no jornal Público uma Declaração pungente e indispensável, que nos motiva a reflectir e a seguir-lhe o exemplo, uma declaração que diz bem do ponto a que chegaram as coisas entre nós, depois de tudo o que se sonhava na década de oitenta, uma declaração que devia envergonhar os responsáveis pela situação insustentável: políticos, economistas, comentadores...cúmplices de banqueiros e especuladores sem escrúpulos que, perante a subserviência dos governos alegadamente democráticos, insistem numa obscena lógica assente na ganância incontida de lucros contra as pessoas.
Declaração
As medidas que o Estado português se prepara para tomar não servem para nada. Passaremos anos a trabalhar para pagar a dívida, é só. Acresce que a dívida é o menor dos nossos problemas. Portugal, a Grécia, a Irlanda são apenas o elo mais fraco da cadeia, aquele que parte mais depressa. É a Europa inteira que vai entrar em crise.
O capitalismo global localiza parte da sua produção no antigo Terceiro Mundo e este exporta para Europa mercadorias e serviços, criados lá pelos capitalistas de lá ou pelos capitalistas de cá, que são muito mais baratos do que os europeus, porque a mão-de-obra longínqua não custa nada. À medida que países como a China refinarem os seus recursos produtivos, menos viável será este modelo e ainda menos competitiva a Europa. Os capitalistas e os seus lacaios de luxo (os governos) sabem isso muito bem. O seu objectivo principal não é salvar a Europa, mas os seus investimentos e o seu alvo principal são os trabalhadores europeus com os quais querem despender o mínimo possível para poderem ganhar mais na batalha global. É por isso que o "modelo social europeu" está ameaçado, não essencialmente por causa das pirâmides etárias e outras desculpas de mau pagador. Posto isto, tenho a seguinte declaração a fazer:
Sou professor há mais de 30 anos, 15 dos quais na universidade.
Sou dos melhores da minha profissão e um investigador de topo na minha área. Emigraria amanhã, se não fosse velho de mais, ou reformar-me-ia imediatamente, se o Estado não me tivesse já defraudado desse direito duas vezes, rompendo contratos que tinha comigo, bem como com todos os funcionários públicos.
Não tenho muito mais rendimentos para além do meu salário. Depois de contas rigorosamente feitas, percebi que vou ficar desprovido de 25% do meu rendimento mensal e vou provavelmente perder o único luxo que tenho, a casa que construí e onde pensei viver o resto da minha vida.
Nunca fiz férias senão na Europa próxima ou na Índia (quando trabalhava lá), e sempre por pouco tempo. Há muito que não tenho outros luxos. Por exemplo: há muito que deixei de comprar livros.
Deste modo, declaro:
1) o Estado deixou de poder contar comigo para trabalhar para além dos mínimos indispensáveis. Estou doravante em greve de zelo e em greve a todos os trabalhos extraordinários;
2) estou disponível para ajudar a construir e para integrar as redes e programas de auxílio mútuo que possam surgir no meu concelho;
3) enquanto parte de movimentos organizados colectivamente, estou pronto para deixar de pagar as dívidas à banca, fazer não um, mas vários dias de greve (desde que acompanhados pela ocupação das instalações de trabalho), ajudar a bloquear estradas, pontes, linhas de caminho-de-ferro, refinarias, cercar os edifícios representativos do Estado e as residências pessoais dos governantes, e resistir pacificamente (mas resistir) à violência do Estado.
Gostaria de ver dezenas de milhares de compatriotas meus a fazer declarações semelhantes.
As medidas que o Estado português se prepara para tomar não servem para nada. Passaremos anos a trabalhar para pagar a dívida, é só. Acresce que a dívida é o menor dos nossos problemas. Portugal, a Grécia, a Irlanda são apenas o elo mais fraco da cadeia, aquele que parte mais depressa. É a Europa inteira que vai entrar em crise.
O capitalismo global localiza parte da sua produção no antigo Terceiro Mundo e este exporta para Europa mercadorias e serviços, criados lá pelos capitalistas de lá ou pelos capitalistas de cá, que são muito mais baratos do que os europeus, porque a mão-de-obra longínqua não custa nada. À medida que países como a China refinarem os seus recursos produtivos, menos viável será este modelo e ainda menos competitiva a Europa. Os capitalistas e os seus lacaios de luxo (os governos) sabem isso muito bem. O seu objectivo principal não é salvar a Europa, mas os seus investimentos e o seu alvo principal são os trabalhadores europeus com os quais querem despender o mínimo possível para poderem ganhar mais na batalha global. É por isso que o "modelo social europeu" está ameaçado, não essencialmente por causa das pirâmides etárias e outras desculpas de mau pagador. Posto isto, tenho a seguinte declaração a fazer:
Sou professor há mais de 30 anos, 15 dos quais na universidade.
Sou dos melhores da minha profissão e um investigador de topo na minha área. Emigraria amanhã, se não fosse velho de mais, ou reformar-me-ia imediatamente, se o Estado não me tivesse já defraudado desse direito duas vezes, rompendo contratos que tinha comigo, bem como com todos os funcionários públicos.
Não tenho muito mais rendimentos para além do meu salário. Depois de contas rigorosamente feitas, percebi que vou ficar desprovido de 25% do meu rendimento mensal e vou provavelmente perder o único luxo que tenho, a casa que construí e onde pensei viver o resto da minha vida.
Nunca fiz férias senão na Europa próxima ou na Índia (quando trabalhava lá), e sempre por pouco tempo. Há muito que não tenho outros luxos. Por exemplo: há muito que deixei de comprar livros.
Deste modo, declaro:
1) o Estado deixou de poder contar comigo para trabalhar para além dos mínimos indispensáveis. Estou doravante em greve de zelo e em greve a todos os trabalhos extraordinários;
2) estou disponível para ajudar a construir e para integrar as redes e programas de auxílio mútuo que possam surgir no meu concelho;
3) enquanto parte de movimentos organizados colectivamente, estou pronto para deixar de pagar as dívidas à banca, fazer não um, mas vários dias de greve (desde que acompanhados pela ocupação das instalações de trabalho), ajudar a bloquear estradas, pontes, linhas de caminho-de-ferro, refinarias, cercar os edifícios representativos do Estado e as residências pessoais dos governantes, e resistir pacificamente (mas resistir) à violência do Estado.
Gostaria de ver dezenas de milhares de compatriotas meus a fazer declarações semelhantes.
9 Comments:
O que quer este Lord?, se ganhasse o ordenado mínimo ainda o compreenderia, assim, francamente, este senhor está a ser ridículo.São as chamadas elites que temos, que infelizmente pela amostra pouco valem.
Quanto ganha este senhor por mês? Deve ganhar muito claro! Mas não lhe chega, ainda queria mais, os desgraçados que paguem a crise, não é caro senhor.
Tenha juizo e trabalhe, porque muitos nem trabalho tem.
Não podemos assistir, indiferentes,à ruína do país.
Não podemos consentir que a soberania da Nação seja ameaçada.
Não podemos continuar a tolerar os atentados à dignidade das pessoas.
Não podemos permitir que a baixeza moral reine ao bel-prazer dos que se tornam poderosos, a qualquer custo.
Mais do que a incompetência é a irresponsabilidade sem perdão, que trai o interesse nacional vilipendiado.
Só há um julgamento possível, porque a hora é de emergência.
É preciso agir, ainda que apenas por palavras.
Não podemos continuar a ser meros espectadores da vilania.
Não conheço o autor desta declaração com sentido. Mas, como ele, conheço a situação a que levaram este meu País. Estamos falidos enquanto país, de rastos, enquanto nação. Mas somos pobres e invejosos, graças a deus. Mas a culpa não é mãe solteira. Os culpados estão todos por aí. Os políticos. Desde o Presidente da República, até ao presidente de Junta de freguesia. E claro, o Povo. É o Povo que elege esta corja. O mesmo Povo que tem gente como o 'anónimo' que me antecede nestes comentários. Gente que não lê. Porque se soubesse ler o que o Senhor Professor Arquitecto diz, nunca teria escrito o que escreveu, nem como 'anónimo'. Por isso, ou por isto, por este tipo de atitudes, é que as pessoas honestas, sérias, competentes, começam a evitar gastar tempo, clamando, e reclamando, contra aquilo que aflige os menos favorecidos. Só se pode ser solidário, com quem é solidário connosco. O Senhor Pinto de Sousa afinal tem os apoiantes que deseja. O País está bem, errados estão os outros, os que se preocupam com o futuro, com os filhos, com os seus concidadãos, com Portugal como Pátria.
josé andrade
Qual Lorde qual quê, o homem tem toda a razão!;
Só não se sente quem não é filho de boa gente!
Se ganha muito ou pouco, isso é função do seu mérito profissional, ganhe o que ganhar, sacarem-lhe 25%do seu salário assim, sem ter feito mal a ninguém é uma injustiça, é crime e o lugar dos criminosos toda a gente sabe onde é!...
Realmente... cada um ganha em função do seu mérito profissional, não é caro anónimo? As dezenas de milhares de euros ganhos pelos administradores das empresas do estado, é merecido em função do seu mérito profissional, meu caro anónimo. Assim como o ordenado minimo que ganha um operário que trabalha de sol a sol, também é merecido em função do seu mérito profissional. Francamente, o seu sentido de solidariedade é exemplar. Deixe-se de enganar papalvos.
É por por isso que este país não sai da cepa torta, somos todos muito teóricos a pensar na nossa rica vidinha.
Tirar 25% a quem ganha muito não é nada comparando com quem ganha o ordenado mínimo, ou também queria que quem ganhasse o ordenado nínimo fosse retirado 25%. Acredito que é isso que pensa, francamente.
É urgente que se baixem as reformas e pensões douradas...basta olhas para os orçamentos dos ultimos dez anos ever para onde vai uma fatia razoável dos nosos impostos...isto porque essas reformas milionárias não resultam de descontos proporcionais mensalmente efectuados...Nem me digam que faziam parte do salário que não recebiam pois assim o caso é ainda mais grave pois trta-se de valores sonegados ao fisco...
Este anónimo que me contesta a mim (também anónimo) parece ser muito ingénuo ou então imaturo; Querer comparar o que uns boys andam por aí a ganhar imerecidamente com um assalariado de carreira, no topo da sua carreira e com mérito para justificar o seu salário, que não escandaliza ninguém, nem sequer é assim tão elevado como parece pois do valor ilíquido do seu salário ele terá que descontar 40% de IRS (escalão de topo) e mais 11% de Segurança social/ADSE (igual para todos os assalariados), ou seja, efectivamente só recebe líquido 49%, agora retire-lhe ainda 25% a esses 49% e (coitado do homem!) que passa a receber somente 36,75 % do seu salário ilíquido (vamos admitir que é de 8200 €), efectivamente só receberá cerca de 3000 € líquidos (mas que fortuna!).
Agora querer estabelecer comparação com uma cambada de oportunistas, muitos deles incompetentes para ocupar esses cargos, verdadeiros tachos oferecidos a comissários políticos e outros boys desta partidocracia corrupta que vive à custa desta clientela que se alimenta dos elevados preços que todos nós temos que pagar para sustentar esses monopólios públicos e afins, só mesmo por ingenuidade ou infantilidade!
Nota: ninguém me mandatou para o defender, mas que é uma roubalheira, é!
O pessoal tem que ser mais prático:
a) se o pessoal acha que não "podemos assistir, indiferentes, à ruína do país" deve achar que há responsáveis, certo ? nesse caso, os responsáveis devem ser punidos, certo ? ou afastados, diria eu... nesse caso, deve contribuir para a sua substituição, certo ? isso pode ser feito de duas formas: através das bases dos partidos (enxutando o respectivo líder) ou pelo voto quando há eleições, mas como não há eleições agora e como é preciso resolver o problema agora... uma entrega em massa dos cartões de militante do partido nas sedes concelhias era uma solução, recusando ainda qualquer acção partidária (e quem achar que o seu partido é farinha do mesmo saco que este que está agora no poder, que faça o mesmo)
b) o pessoal devia ler bem os textos que o Garcia publica; se lesse, estaríamos aqui a discutir a saída voluntária do euro ou a nacionalização da banca e empresas como a EDP, PT, CGD, GALP, etc; vou citar o arquitecto: "A História de sempre e as histórias recentes demonstram que isto não vai ficar por aqui. O mais certo é confirmar-se a recessão, para logo a seguir virem mais medidas de arrogante dureza para afligir quem já está aflito. Mas, se o povo paga as aventuras dos banqueiros, então passe o povo a mandar na banca, colocando-a definitivamente ao serviço das pessoas!"
Mas isso era se o pessoal quisesse ser prático; assim vamos bater no fundo e daqui a meses discutiremos neste blog a necessidade ou não de um novo Salazar
A única coisa que é devida a criminosos que criam dinheiro a partir do nada e o emprestam a juros assassinos a países, empresas e famílias, é uma bala enfiada na cabeça.
Preferia isso a: "É preciso agir, ainda que apenas por palavras.
Não podemos continuar a ser meros espectadores da vilania".
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