24 dezembro 2005

RAZÃO

Agressivo, ao introduzir o tema vociferou, pela terceira vez depois das seis da tarde, a picardia que usava para achincalhar: “Você, que tem a mania de que tem sempre razão…”. “Pode crer que tenho sempre razão!”, interrompi-o com veemência, olhando o nos olhos.
Ele atirou-se para trás. À volta da mesa, os outros rodopiaram até se concentrarem em mim como alvo a incendiar. Debaixo de testas franzidas, caninos subtilmente à vista anunciavam rosnadela envenenada…
“Tenho sempre razão, porque sou um animal racional! Não estarei sempre certo, é verdade. Mas, tenho sempre razão!”
A rosnadela suspensa desfez-se num latido desmaiado, sem perder o sentido interrogativo.
Não sei se perceberam!
Ele retomou o assunto que não chegara a iniciar e continuou a esvair-se em vulgaridades repetidas de outras vulgaridades que nos ocuparam o tempo sem substância que merecesse reflexão.
Os outros, prolongamentos dele – como insistiam em demonstrar sem margem para dúvidas – voltaram ao estado letárgico da mudez metódica para lhe dar o espaço e o tempo. A ele que, tirando o casado do poder efémero, é um animal racional como nós e às vezes está certo.

1 Comments:

Blogger renato gomes pereira said...

www.universalpolice.blogspot.com

31 março, 2006 16:01  

Enviar um comentário

<< Home